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Love

É, tem sexo. E daí?

Sempre fico com um pé atrás quando um diretor de pretensões autorais diz que vai usar sexo explícito de forma “ousada”, ou “franca”, ou “trangressiva”, ou coisa que o valha, porque quase sempre o resultado não é nenhuma dessas coisas – é sexo explícito usado como peça de marketing e pronto.

Para cada Intimidade ou Ninfomaníaca, em que um grande ator e um cineasta verdadeiramente sem temor resolvem mergulhar juntos em águas profundas (Mark Rylance + Kerry Fox e Patrice Chéreau no primeiro caso, Lars von Trier e Charlotte Gainsbourg & cia no segundo), tem-se uma bobagem como o 9 Canções do Michael Winterbottom ou este Love do Gaspar Noé. A primeira pista de que o filme não vai dar em nada? Os atores muito bonitos (daquela beleza pretensamente “verdadeira”) e ruins de doer – sinal de que ou o diretor nem procurou atores melhores porque não era isso de que ele precisava mesmo, ou de que os bons atores que leram o roteiro não caíram nessa. Difícil decidir qual a pior parelha, aqui, de personagem mal desenvolvido com ator fraco: se Murphy (Karl Glusman), o americano infeliz no casamento no qual entrou por causa de uma gravidez não planejada, se Omi (Klara Kristin), a garota com que ele se casou, ou se Electra (Aomi Muyock), a grande paixão que ele perdeu por causa da gravidez de Omi. Sério, não é maneira de dizer: é difícil mesmo decidir.

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Justiça seja feita, Noé não colabora em nada com o trio. O elenco ao menos tem a desculpa de ser inexperiente; ele, não. Embora o brutalismo de Irreversível (2002) tenha um contingente forte de detratatores, não se poderia acusar o filme de amadorismo ou imperícia. Em Love, ao contrário, o argumento e os diálogos parecem coisa de segundanista da faculdade de cinema: pobres, desajeitados, vazios, claramente insuficientes para duas horas de filme. Nem sentido há na trama: repare como Electra, tão destemida para experiências existenciais e sexuais, desmorona ao saber que Murphy a traiu com Omi, a vizinha com que eles fizeram um mènage, como se fosse uma dama das camélias. Love segue a mesma estrutura de Irreversível, a de um flashback que se inicia no passado recente e vai retrocedendo para o passado mais distante – nos dois, há uma mesma ideia mestra, a de que é inevitável que as pessoas e as circunstâncias corroam até aquilo que, no nascimento, é perfeito. Como nenhum dos personagens provoca muito mais que indiferença, porém, é muito investimento para pouco resultado.

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A outra ideia de Love – em tese, a mais importante – seria tratar do romantismo sexual: diz Murphy, que é aspirante a cineasta, que os filmes tratam ou de sexo, ou de romance, mas não da paixão e do sentimentalismo sexual. Primeiro, acho o postulado do personagem (e, portanto, de Noé) bobagem: mal ou bem realizada, a ideia de paixão sexual é muito mais frequente no cinema do que a ideia apenas de romance, ou apenas de sexo. Segundo, o erotismo, que é o nome que se dá a isso, é o elemento mais conspicuamente ausente de Love: aborrecidas, artificiais ou até mesmo constrangedoras na sua obviedade (caso da já célebre ejaculação em 3D), as cenas de sexo não envolvem, não provocam. Sem sexo, sem amor, sem um cinema que arrebate, não resta muita coisa em Love.


Trailer


LOVE
(França/Bélgica, 2015)
Direção: Wes Ball
Com Karl Glusman, Klara Kristin, Aomi Muyock
Distribuição: Imovision

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