Ed.Nº 165 – The Suffering [2004]

Analise

Fala, gamers do Brasil! De vez em quando nos textos aqui do blog costumo escrever a expressão “jogos perdidos” para os jogos de PC que não estão disponíveis nas lojas digitais como Steam ou GOG. Para jogá-los existem dois caminhos, recorrer aos Torrents da vida ou ter a mídia física guardada.

Mesmo com incansáveis pedidos que o fórum dessas lojas recebem todos os dias, vários jogos de PC ainda não conseguem voltar para as prateleiras virtuais e a facilidade do público poder jogar, isso acontece por vários desacordos entre Desenvolvedor, Publisher e até Compositor.

O GOG, por exemplo, quando relança um título, a loja não apenas coloca o jogo à venda como dá um tratamento de acesso para que o mesmo funcione no Windows 7 ao 10, muitas vezes sem a necessidade de ativar o modo de compatibilidade.

No começo de Setembro deste ano (2017) o GOG.com trouxe das profundezas da zona dos perdidos o jogo The Suffering. Ação e terror em uma produção da antiga Surreal Software e Midway Games, na época (2004) chegou a ser bastante categórica sendo lançado primeiro para os consoles PS2/Xbox e meses depois o jogo apareceu no PC, foi onde conheci e tenho a mídia física guardada.

Ao ver o jogo de volta resolvi testar a versão disponível na loja, acompanhe a partir de agora na Edição 165 do Blog MarvoxBrasil…

The Suffering [PS2, Xbox, PC (Análise)]
Desenvolvedor: Surreal Software
Publicado por: Midway Games
Lançado em: 08/03/2004
Versão: GOG.com

[Tempo de leitura: 11 minutos]

 

Torque é um homem que perde toda a família, é acusado por isso e acaba sendo levado para uma Penitenciária Estadual localizada em Carnate Island. Na noite em que Torque chegou alguns presos já o conhecem, mas neste primeiro momento não podemos saber de onde.

Logo as luzes da prisão começam a piscar. É possível ouvir um barulho de metal batendo no chão. Ninguém sabe de onde vem. Em uma cela vizinha daquela onde Torque está existe outro preso que começa a gritar de dor, até que alguma coisa o agarra e faz a cela ficar silenciosa assim como as outras celas também, os presos começam a sumir.

Em segundos, a câmera é posicionada para enxergarmos as costas de Torque, e num piscar de olhos o portão da cela é derrubado por um vulto. Chegou a hora de controlar o personagem. Ainda na área das celas, a primeira arma que podemos pegar é uma faca que está fincada no peito de um colega de cela.

Assim que me aproximo do portão principal daquela ala sou impedido por um policial que não consegue soltar nem duas palavras antes de ser a próxima vítima.

Algo como uma espada surge do teto e crava-se no tronco do policial que em seguida consegue arrebentar o portão que preciso passar para sair. Ao lado do portão está a cabine onde os seguranças vigiavam as celas. No alto vejo dois monitores de segurança que exibem outras alas da prisão. Pela tela vejo um grupo de policiais atirando em algo que a câmera não pega, acontece uma interferência. A imagem logo voltou com o mesmo grupo de policiais caídos no chão.

Ao passar pela primeira porta, olho para a esquerda e vejo um policial sendo arrastado para dentro de um duto de ventilação. Logo ouço alguém me chamar – “Ei Torque, venha precisamos sair.”, era um colega de cela tentando me ajudar a escapar. Corro em direção a ele mas o teto desaba e não consigo prosseguir.

Percebo outra cabine de segurança onde nesta existe um botão vermelho para destrancar um portão. Consigo seguir por esse corredor. Parece que estou no caminho certo e tudo parece bem calmo. No final do corredor chego a um dos banheiros onde escuto tiros vindo de dentro, a porta abre e um policial rasteja-se no chão.

Começo a ouvir, Tink! Tink! Tink! O mesmo barulho de metal de quando as luzes começaram a piscar. Uma coisa sai do banheiro, que criatura é essa com lâminas no lugar dos braços e pernas? A criatura olha para mim enquanto lambe uma das lâminas cobertas de sangue.

Só consigo pensar em uma coisa… Fodeu!

No momento que o jogo apareceu pela primeira vez, a maior referência que tínhamos em Third-Person era Max Payne e Devil May Cry, e logo após, alguns estúdios investiram pesado para beber dessa mesma fonte para criar personagens cheios de versatilidades com desafios frenéticos e movimentação bastante ágil onde você sente mesmo que está no controle do personagem o tempo todo. Correr e atirar para os lados enquanto pula quando precisa, rolando para os lados para escapar sem deixar os inimigos encostarem em você.

Isso evoluiu bem mais quando Resident Evil 4 apareceu. Mas até este momento entre 2001 até 2004, a tendência era voltada para Max Payne e Devil May Cry.

Em The Suffering tudo acontece em Third-person, com um diferencial para a época ao introduzir também a oportunidade do jogador alternar a visão para primeira pessoa, fazendo a ação de um Third-Person Shooter de terror se transformar em um First-Person Shooter onde você tem todo o direito de eliminar as criaturas que aparecem em seu caminho.

Na imagem abaixo temos as duas visões que se aproveitam da tela limpa, só conseguimos enxergar o medidor de vida (lado esquerdo) e a quantidade de analgésicos (lado direito).

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Assim que Torque consegue sair do interior da Penitenciária é aí que o jogo se apresenta formalmente mostrando que todos os inimigos possuem nomes e histórias que são narradas ao acessar um livro que traz um histórico de cada criatura, enquanto o diário traz passagens pessoais de alguém que viu a ilha ser moldada do jeito que ela é hoje (no jogo). No começo as páginas estarão em branco e conforme o personagem avança pela ilha, as ilustrações começarão aparecer nas páginas do livro e do diário.

Para transitar pela ilha existe um mapa principal onde podemos enxergar todos os pontos turísticos de Carnate Island, as fases funcionam na forma de capítulo onde todos possuem mapa específico para o jogador conseguir se localizar bem no estilo dos três primeiros Resident Evil do PS1.

Fases em locais fechados com vários corredores, portas abertas e outras fechadas mas existe sempre um caminho que o levará para a próxima etapa. Alguns caminhos trazem pequenos puzzles como usar um guindaste para formar uma ponte onde do outro lado existem coletáveis valiosos. O importante é que todo canto das fases tem um motivo para você chegar lá, nada de situações do tipo “poxa aqui não tem nada para fazer”. Nada é à toa, isso acaba sendo muito bom para o jogador não perder tempo.

 

Um passado que sugeriu a existência da maldade

As criaturas que aparecem no jogo são baseadas em pessoas que sofreram algum tipo de execução em Carnate Island. Quando o local começou a ser habitado nos anos 20, a região era muito simples com pessoas que viviam na ilha com o cultivo nas fazendas e a pesca. O lugar mais “moderno” era um hospital que funcionava para tratamento de doenças e tinha uma ala de psiquiatria liderada pelo Dr. Killjoy. Como as pessoas não tinham tanta informação achavam que o método usado pelo hospital era correto.

Os Slayers parecem pessoas que foram amarradas em camisas de força e foram submetidos a cirurgias onde seus membros foram trocados por lâminas afiadas, movimentam-se como se fossem aranhas no teto, e quando estão no chão conseguem caminhar com o corpo ereto e correm muito.

Criaturas brotam do chão como é o caso dos Mainliners (imagem abaixo) que no lugar dos olhos vemos duas seringas bem pontiagudas além das várias que já estão espetadas nas próprias costas e mostram um líquido verde dando a entender que a pessoa deva ter morrido por injeção letal.

Outra preocupação é com o teto manchado de sangue, tome cuidado para não ser surpreendido pelo Nooseman, criaturas com uma corda no pescoço onde o corpo acaba antes da cintura. Quanto Torque passa batido em uma poça de sangue no teto eles aparecem e agarram o rosto do personagem como se fosse uma tia apertando as bochechas.

Fora da penitenciária a céu aberto não tem teto, então nada vai descer para agarrar o rosto de Torque, mas o chão tem terra. Não será difícil ver um montinho de terra aproximar-se dos pés, num primeiro momento chega a lembrar o Pernalonga, que logo sai da terra com suas correntes no estilo do Hellraiser. Estes são os Burrowers, que além de traiçoeiros exibem três ataques que os tornam exibidos de plantão.

O jogo não chega a ser tão rígido no combate, tirando os Slayers que conseguem atacar mesmo após ter perdido a cabeça, a mira da arma trabalha muito bem. Onde você apontou conseguirá acertar. Com a escopeta vale chegar um pouco mais perto e isso ocasiona um ferimento maior nos inimigos.

O que realmente ajuda muito é unir armas e arremessáveis como granadas, coquetel molotov, e também flash bombs que conseguem cegar os inimigos por alguns segundos fazendo-os colocar as mãos nos olhos, enquanto isso desce o dedo no gatilho para ganhar tempo, é uma ótima dica para derrubar inimigos maiores como o Marks-Man e o Fester que logo aparecem e são duros na queda.

No meio de tantas criaturas horrendas e curiosas ao mesmo tempo, é possível acreditar que você consiga se deparar com crianças querendo brincar com você? Incrível que mesmo depois de 12 anos desde que joguei pela primeira vez, a participação e o histórico delas no jogo desperta demais a minha atenção.

 

Dançando até o apocalipse amanhecer

Aproveitando a imagem acima, logo ao lado da barra vermelha de energia existe outra barra menor em amarelo que serve para medir o nível de raiva e insanidade que funciona como se fosse um copo, cada criatura que o jogador consegue derrubar preencherá um tanto dessa barra até completar e começar a piscar, chegou a hora do jogador utilizar uma carta na manga para a brincadeira ficar mais interessante ao apertar o botão Insanity para ver Torque se transformar em um bicho extremamente forte (momento Daileon).

Durante a transformação a barra começará a esvaziar, o jogador poderá a qualquer momento voltar a forma humana e precisará mesmo antes da barra ficar vazia, do contrário o personagem cairá morto no chão.

Durante o percurso por Carnate Island o jogo oferecerá diversas oportunidades para o jogador decidir o nível de moralidade do personagem, isso vai depender da disposição em querer ajudar as pessoas encontradas no meio do caminho e que passam por algum perigo ao redor da ilha, por exemplo, passar por um policial encurralado por um grupo de Slashers, caberá ao jogador ajudá-lo ou passar batido e fazer de conta que não viu. O nível de moralidade no final levará para um dos três desfechos (Bom, Ruim e Péssimo).

The Suffering é um jogo cheio de energia para quem procura algo diferente que tenha terror e drama uma vez que é dado ao jogador a oportunidade de escolher entre o certo e o errado na pele de um homem sentenciado a pena de morte. Vale a pena investir as horas de lazer para fazer um turismo de 8 horas por toda Carnate Island, com direito a checkpoints, podendo também salvar e retomar o jogo a qualquer momento.

Após terminar o jogo pela primeira vez haverá a oportunidade de acessar a Fase Zero que funciona como um Prequel e explica o que aconteceu com Torque a partir do momento que ele chegou na ilha até a cena da cela da prisão onde os ataques começaram.

O jogo não possui suporte aos controles de Xbox 360/One ou DualShock 4. O jogo funcionou no Windows 10 sem modo de compatibilidade.

Para aquela época de 2004, The Suffering foi a última inspiração criativa do estúdio Surreal Software, foi um jogo bastante exigente nos requisitos e pedia Placa de Vídeo de 64MB/RAM. A mesma potência que Doom 3, GTA San Andreas e o primeiro Far Cry também pediam na época. Chegou a fazer sucesso alcançando 1,5 mi de cópias somando Consoles e PC. A continuação apareceu em 2005 com The Suffering: Ties That Bind que ficará para outro momento.

Dos criadores originais, Richard Rouse III (Designer/Roteirista líder) trabalhou em Homefront (2011), enquanto que, Nathan Cheeber (designer) participou da produção do recente Mafia III (2016).

Atualmente a Surreal Software assim como a Midway Games não existem mais, Estúdio e Publisher foram aglutinadas pela Warner Bros. Games tornando-se respectivamente a atual Monolith Productions do recente Shadow of War (Sombras da Guerra), e o estúdio NetherRealm do recente Injustice 2.

Se você curte desafios que revelam históricos sinistros para descobrir não deixe de conferir também no blog as análises destes outros jogos – ObsCure, ObsCure 2, Outlast e Oxenfree.

A Edição 165 fica por aqui, acompanhe na galeria algumas imagens de outros momentos em The Suffering. Até a proxima!

4 Comments

  1. Valeu Cadu! Esse é bom hein Terror/Ação, quando é assim não tem muito pra onde fugir porque de tanto que você vai se deparando com os inimigos chega uma hora que se acostuma e acaba focando mais na ação do que no Terror… quanto a diferença PS2/PC, a versão PC possui um visual mais refinado já que na época ele pedia uma Placa de Vídeo de mesma potência para rodar Doom 3, e no PS2 Doom 3 nem chegou perto entende. Agora o que acredito que fica muito interessante jogando no PS2 é que dá pra jogar direto com o Controle. Mesmo que essa versão do GOG.com seja um “relançamento” não traz suporte para o controle do Xbox 360 que utilizo para jogar. Mas é isso, de resto não deve fugir muito.

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  2. Fala aê aki é rock legal saber que você também curte The Suffering, do nada esse primeiro e a continuação apareceram no GOG.com e acabei pegando os dois para jogar e foi bacana revisitar, o primeiro jogo foi mais pra relembrar, agora o Ties That Bind foi novidade porque na época não tinha jogado. Assim que puder quero trazer a continuação aqui pro blog.

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  3. Olha aí mais um jogo de terror que eu vou deixar de lado por medinho! kkk
    Apesar que este parece um pouco menos tenso em questões psicológicas, talvez mais desafiador pelo que entendi do seu relato. Pareceu interessante, mas só jogaria se descolasse uma versão de PS2 mesmo. Sabe se muda muito em relação ao PC?
    Outro ótimo post!

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  4. Eu tenho esse jogo e curto muito o seu enredo e como ele se desenrola durante à sua jogatina zerei à muito tempo tenho muita vontade de rejoga-lo mas com tantos jogos que tenho a jogar fica difícil ultimamente de pensar em pegar para começar.

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