José Horta Manzano
A primeira parte do artigo está no meu outro blogue.
Por anacrônico que possa parecer, este milênio ainda conserva um punhado de gente convencida de que a Terra é plana. A prova é que, em novembro de 2019, a cidade de São Paulo acolheu a FlatCon, primeira conferência sobre terraplanismo organizada em solo brasileiro.
Discutiu-se muito sobre o domo que recobre nossa platitude e que impede a entrada da água, que está do lado de fora. Falou-se também sobre a impossibilidade de transpor esse domo – o que está fora não entra, o que está dentro não sai. Em dramática anulação de 400 anos de estudos e investigações, confirmou-se que Copérnico e Galileu estavam errados: a Terra é um disco achatado e permanece imóvel; o Sol e a Lua, sim, se movem. Garantiu-se que viagens à Lua e envio de sondas a outros planetas são balela, invenção da NASA para adormecer o povão.
Maldosamente, este blogueiro se deu conta de que o nome da conferência dos terraplanistas – FLAT-CON – soa mal pra caramba em francês. É nome difícil de internacionalizar. Vejamos.
CON
É palavra vulgar que jamais se deve pronunciar diante de crianças e senhoras. Faz referência, por metonímia, ao sexo da mulher, tomado como símbolo de passividade e falta de poder, fato que, pra piorar, desagrada às feministas.
Quando usado para qualificar um indivíduo, equivale a tratá-lo de idiota, besta, aparvalhado.
O termo aparece em numerosas expressões, todas vulgares. Aqui estão algumas:
Vieux con: (=velho ‘con’) é xingamento pesado que convém nunca dirigir a indivíduo alto, fortão e mal-encarado;
Espèce de con: (=espécie de ‘con’) também é ofensa pesada;
Grand, petit, sale con: (=grande, pequeno, sujo ‘con’) variações em torno do mesmo tema;
Être le roi des cons: (=ser o rei dos ‘cons’) idem com batatas;
Piège à cons: = armadilha pra pegar idiotas.
Não encontrei referência específica a FlatCon. Mas qualquer uma das anteriores se aplica aos terraplanistas brasileiros. Fica aqui o conselho para um movimento que parece ter intenção de se internacionalizar: Flat não ofende, mas Con… se fosse eu, não usava. Soa muito vulgar.