Governo do Rio é condenado a pagar 3,8 milhões de indenização pela morte de Amarildo. E ainda fica obrigado a dar pensão a sete herdeiros. O pedreiro foi sequestrado e morto por policiais na favela da Rocinha.

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Amarildo: sequestrado e morto por PMs do Rio..

                                    Cinco anos após o sequestro, tortura e morte do pedreiro Amarildo Dias de Souza, ocorridos em 14 de julho de 2013, na favela da Rocinha, a 4ª Vara da Fazenda Pública condenou o governo no Rio a pagar indenização e pensão a nove familiares dele. Suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas, Amarildo foi levado por PMs até a sede da UPP local, num canto afastado da favela. Lá teria sido barbaramente torturado, a ponto de não resistir. A justiça apurou que o corpo do pedreiro foi removido por uma viatura do Bope. Nunca mais foi encontrado.  

                                   A juíza Maria Galhardo determinou o pagamento de 500 mil reais para a viúva, Elizabeth Silva, e o mesmo tanto para cada um dos seis filhos de Amarildo. Três irmãos dele devem receber mais 100 mil cada um. A soma: 3,8 milhões de reais. Além disso, a família terá direito a uma pensão mensal equivalente a dois terços do salário mínimo (586 reais). Na sentença, a juíza diz não haver dúvida de que o pedreiro foi morto por agentes públicos que agiram como criminosos. Ao todo, 25 PMs foram acusados, mas só 12 resultaram condenados; o comandante da UPP, major Édson Raimundo dos Santos, pegou 13 anos de cadeia.

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O centro de controle da Rocinha: tecnologia de um lado e violência de outro.

                                   Os advogados que representam a família de Amarildo não ficaram satisfeitos com o resultado. Acham que a indenização foi menor do que esperavam e deixou de fora outros parentes. Na verdade, mesmo que trabalhasse sem parar a vida toda, o pedreiro jamais conseguiria reunir uma poupança como essa para a família. Mas o fato é que agentes públicos, por meio de violência, impediram que Amarildo continuasse a sustentar a casa e os filhos. O governo do Rio ainda não se pronunciou, mas é provável que não recorra da sentença.

                                   O caso de Amarildo é uma demonstração cabal de que uma polícia despreparada e violenta produz mais prejuízos do que resultados. Já passa da hora de rever a política de segurança no Rio de Janeiro. Após um sucesso inicial, o programa das UPPs afundou em abusos e corrupção. A guerra do tráfico continua intensa e os índices de criminalidade estão em alta. Vamos ver o reflexo que isso terá nas próximas eleições.   

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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