Bem que o jornalista Maurício Tuffani avisou em seu blog (Aqui! ) que a postagem do professor Jeffrey Beall sobre o Scielo (Aqui!) iria dar oportunidade para que se jogasse uma nuvem de fumaça na discussão que realmente importa em relação à compilação da “Lista de Beall” onde estão reunidos a maioria das editoras e revistas predatórias que hoje garantem a publicação de uma quantidade imensurável de lixo científico pelo mundo afora.
É que para minha surpresa acabo de me separar com um blog (Aqui!) criado para circular e angariar apoio entre editores de revistas científicas para uma nota de repúdio (publicada em três línguas) à agora notória postagem do professor Jeffrey Beall sobre a capacidade do Scielo de ultrapassar os limites paroquiais da divulgação do conteúdo dos periódicos que são abrigados naquela plataforma.
A coisa toda poderia ser apenas uma reação exagerada a uma postagem cujo teor agora parece ser o menos dos problemas para quem subscreve a referida nota de repúdio. Mas como o veículo de circulação da nota de repúdio que promove a coleta de assinaturas e manifestações de editores de revistas hospedadas no Scielo é um blog hospedada na mesma plataforma em que o meu blog se encontra, eu procurei identificar, em vão é preciso frisar, quais atores o estão impulsionando.
Ai para mim começa um problema, pois na falta de nominação dos autores do blog, há que se pensar qual a razão de uma nota de repúdio/abaixo assinado/tribuna livre que, inclusive, usa o logotipo da Scielo. No mínimo, haveria que existir uma autorização formal para a utilização do logo. Para evitar julgamentos indevidos, procurei no blog mantido pela Scielo para ver o que encontrava sobre o assunto, e o máximo que encontrei foram outras três notas que igualmente ensejam o repúdio à postagem do Prof. Beall (Aqui!, Aqui! e Aqui!).
A partir destas constatações, me fica a dúvida sobre qual é a posição oficial dos gestores da Plataforma Scielo sobre este imbróglio todo. É que ao postarem em seu blog institucional apenas posições contrárias ao conteúdo da postagem do Prof. Beall, a Scielo parece estar tomando partido em favor dos detratores,. Nesse caso, seria interessante que a Scielo informasse se tentou ouvir o outro lado da moeda, no caso o professor Jeffrey Beall, até para que ele pudesse se retratar de algum eventual malfeito.
A coisa fica ainda mais peculiar se juntarmos todos os ingredientes acima, começando pelo uso do logotipo da Scielo no blog “Pelo Scielo”. Se o uso não foi autorizado, estamos diante de uma apropriação indevida. Já se o oposto for verdadeiro, teremos um caso em que um organismo (cuja existência é financiada pelos menos parcialmente por dinheiro público) empresta o seu logotipo para algo que pode ser considerado uma forma moderna de caças às bruxas a quem ousou, ainda que com equívocos pontuais, questionar a sua efetividade.
O interessante é que, ao longo dos anos sempre recomendei, a Scielo como um bom ponto inicial para jovens pesquisadores realizarem suas buscas por literatura científica qualificada. No caso do Brasil, onde a maioria dos nossos estudantes de graduação não possui fluência na língua inglesa, ter uma base como a Scielo não é um elemento negligenciável, muito pelo contrário. Agora, a partir dai considerar que o Scielo é a última fronteira na indexação de revistas altamente qualificadas já é um certo exagero, pois este não é efetivamente o caso.
Mas voltando ao que escreveu o jornalista Maurício Tuffani sobre o alívio que esse tsunami representa no necessário combate aos editores e periódicos predatórios, o que eu realmente gostaria de ler dos editores que já assinaram a tal nota de repúdio é sobre quais têm sido os cuidados tomados para que a invasão da “ciência trash” não inunde os periódicos por quem dizem ter tanto zelo. É que em um caso recente numa das revistas cujos editores assinaram o abaixo-assinado “anti-Beall”, e que eu mostrei aqui neste blog, o que se viu foi a necessidade de retratar um artigo publicado por múltiplas violações éticas que teriam sido cometidas pelo autor (Aqui!).
É diante deste quadro que eu considero toda essa gritaria “anti-Beall” um completo desserviço ao avanço da qualidade das revistas científicas brasileiras, estejam elas inclusas ou não no Scielo. É que não vai ser com o uso do “espantalho anti-gringo” que os problemas causados pela disseminação de “trash science” vão ser resolvidas. Aliás, muito pelo contrário. E digo novamente, Jeffrey Beall não é o nosso problema. Quando muito ele é o mensageiro, ainda que com uma mensagem que possa criticada pontualmente.
http://www.polbr.med.br/ano15/cpc0115.php
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Creio que esse artigo vai ao cerne do que acredito deveríamos estar nos preocupando, em vez do exercício do auto indulgência que a grita contra o prof. Jeffrey Beall parece de fato ser.
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