Retrato social

Era uma vez um país chamado Portugal, uma primavera que era há muito desejada.

No dia vinte e cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro, acontecera algo inesperado: havia militares por todo o lado, transbordavam pelas ruas pessoas, cravos e vontades fortes de mudança foram suficientes para num só dia deitar abaixo quase cinquenta anos de obscurantismo. A população estava lá, solidária, cooperante com os militares. Era urgente pôr fim a um regime vergonhoso, opressivo e injusto que durava há tanto.

Era tempo de regresso para os exilados e também de soltar os presos políticos, pois os seus únicos crimes eram dizerem «não» às grandes barbaridades da sociedade daquele regime.

Entretanto, a história desta revolução parece-se com uma miragem no deserto. Andamos, andamos, mas nunca chegamos a encontrar a tal “justiça social”, pois talvez seja coisa de “democracia utópica”, como muitos dizem ser. Vivemos cobiçando a tal justiça e pouco acontece. Por vezes, vemo-nos a reivindicar por maior justiça, mesmo no seio familiar, para que a nossa consciência nos deixe adormecer sem pesadelos.

Quando de nada vale a tal reivindicação ou porque falamos e ninguém ouve ou porque nos “amordaçam” a boca para censurar o nosso manifesto, fugimos porque não somos capazes de encarar certas injustiças sem antes mostrar o nosso desagrado.

João Borges

10º44

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