O vosso corpo é templo do Espírito Santo.




1. Todo o cristão é chamado à perfeição da santidade!


Parte I


Talvez que a maior novidade do Vaticano II tenha sido declarar que todo o cristão é chamado à perfeição da santidade: “Todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”. E o Concílio recorre a S. Paulo para fundamentar esta afirmação:


16 – Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?

(I Coríntios 3,16 e 17)

17 – Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado – e isto sois vós.

Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?                         (I Coríntios 6,19)



Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença no amor.” Já o próprio Cristo tinha levantado a fasquia até ao ponto mais alto: “Sede perfeitos como o vosso Pai do céu é perfeito”.

Antes do Concílio, os caminhos da perfeição eram em geral reservados aos consagrados: papas, bispos, padres, religiosos. Eram os chamados “estados de perfeição”. E, de fato, em geral os santos canonizados pertenciam a estas categorias de pessoas: ou eram papas, bispos, padres ou religiosos. Os leigos e leigas, que tinham sido canonizados, só o foram não tanto pelo matrimônio, mas apesar do matrimônio. Em geral, eram viúvos ou viúvas, portanto depois de terem deixado o casamento, ou então por terem entrado na vida religiosa: S. Nuno Álvares Pereira, a rainha Santa Isabel, a princesa Santa Joana, etc.

Ora aconteceu que Gianna Bareta Molla, que João Paulo II beatificou em 1994 e canonizou em 2004, era uma mulher casada, médica, mãe de quatro filhos, que tinha falecido por se ter recusado a provocar um aborto: se o não provocasse, morreria. E deixou que Deus decidisse. Esta foi a credencial para ser proclamada santa. Abriu-se assim um novo espaço para os santos, os santos leigos — ou seja, para a vocação de todos os cristãos à perfeição da santidade.

E isto porquê? Porque todos os cristãos recebem o Espírito Santo. O primeiro grande momento da presença do Espírito Santo na vida do cristão acontece no Batismo. O Batismo é o grande Pentecostes de cada cristão. Pelo Batismo, nós tornamo-nos da família da Santíssima Trindade, filhos de Deus; e como no seio de Maria, só o Espírito Santo pode fazer esta filiação. No Batismo, todos recebemos o Espírito Santo em plenitude, tanto o leigo, como o padre, o bispo ou o Papa. Todos são chamados à perfeição da santidade. Não se recebe o Espírito Santo mais ou menos, a conta gotas. Uma hóstia não está mais ou menos consagrada. Cristo não está mais numa partícula que noutra. Está todo em cada uma. Mas os efeitos da comunhão não são iguais em todos. O Espírito Santo está todo em cada cristão, como Cristo está todo em cada hóstia consagrada, seja ela grande ou pequena. Diz S. João no diálogo com Nicodemos: Deus não dá o seu Espírito por medida. O Pai ama o Filho e entregou-lhe tudo nas suas mãos. Quem acredita no Filho tem a vida eterna” (No 3, 33-36).

Por isso, como nos ensina o Cardeal Suenens, após o Batismo, o Espírito Santo não está mais para vir. Ele está radicalmente presente no ponto de partida da vida cristã, mesmo se a tomada de consciência desta presença só acontece mais tarde, quando a criança, tornada adulta, ratificar as exigências dessa presença. O Espírito já está nele; ele é efetivamente morada da Santíssima Trindade. Por isso, a santidade não é uma escalada em direção a um pólo longínquo, inacessível. A santidade cristã é nos dada inicialmente, na sua plenitude, no dia do nosso Batismo. O batizado torna-se o berço, o cenáculo da Santíssima Trindade. Segue-se daí que, rigorosamente falando, precisamos não de nos tornarmos santos, mas de deixarmos que a santidade de Deus nos envolva. Pelo Batismo, recebemos o Espírito de santidade; o que é preciso é desenvolver as suas riquezas latentes.

No decurso da nossa vida cristã, cada sacramento alargará o raio de ação do Espírito que já está em nós. Cada sacramento é um curso de água que brota da fonte batismal. É uma fonte com água sempre a nascer. O nosso batismo é uma fonte da Santíssima Trindade, sempre a jorrar. Nós dizemos que imprime “caráter”, quer dizer: é um sacramento permanente, sempre em atividade. Não é necessário nem tem sentido batizar-se uma segunda vez. Quando recebemos o sacramento da Confirmação, o bispo diz: “Vais receber o Espírito Santo”. Ele poderia acrescentar: “vais receber o Espírito Santo que já tens.” Trata-se, não de receber um suplemento do Espírito Santo, mas de uma confirmação desta presença, ou melhor, de confirmar e de assumir esta presença. Pelo batismo recebe-se o Espírito Santo todo. O Espírito Santo não se recebe aos bocadinhos, por esmola. O Espírito Santo entrega-se todo. Ele é o grande dom do Pai.

Na liturgia do Pentecostes, são numerosas as orações em que se pede ao Pai que envie o seu Espírito, como se ele ainda não tivesse sido enviado. Mas, na verdade, não se trata de pedir que o Espírito Santo venha, mas sim de pedir que o deixemos atuar na nossa vida. A fome faz sentir a necessidade do pão. Se não se tem fome, podemos morrer à míngua com a dispensa cheia. O Espírito permanece em nós: somos nós que, sob a ação conjugada da graça e da nossa liberdade, lhe damos uma nova possibilidade de ação.

Quando a ação do Espírito se intensifica em nós, não é o Espírito que acorda e volta, como um vulcão que de vez em quando entra em erupção depois de um longo sono; nós é que despertamos diante da sua presença e, sob o impulso da sua graça, por uma fé acrescida, nos abrimos a uma esperança renovada, uma caridade mais viva.

Diz-nos o Livro dos Reis que, habitualmente, o Espírito Santo entra na nossa vida como uma brisa suave, de que mal nos apercebemos, como aconteceu com Elias. Elias esperava a vinda do Senhor com grande alarido, como um terramoto ou como um incêndio, ou como um temporal como contavam as teofanias do Antigo Testamento. E Ele veio como uma brisa suave, de qual mal se dá conta. Libermann diz que devemos ser como uma leve pena ao sopro do Espírito. Esta presença do Espírito Santo manifesta-se na vida da comunidade e na vida pessoal de cada um. Na vida de comunidade pelos seus dons e carismas e na vida pessoal de cada um pelos seus frutos.


Pe. A. Torres Neiva C. S. Sp.

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Leia Também os complementos:

1. Todo o cristão é chamado à perfeição da santidade!

2. Os dons do Espírito Santo parte II

3. Os frutos do Espírito Santo Parte III

4. O grande dom é o próprio Espírito Santo



O ESPÍRITO SANTO ENTRE NÓS


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2 Respostas

  1. […] já foi revelado por Jesus e experimentado pelos Apóstolos no dia de Pentecostes confirmando que o Espírito de Deus está em mim, vive e age em […]

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  2. […] que este detalhe (a presença do Espírito Santo dentro do coração humano) não era usufruído por nenhum homem exceto aqueles que foram ungidos por Deus para cumprirem uma […]

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