A discussão sobre certos assuntos vem se tornando tão rasa, tão burra e esquemática, que frequentemente fico na dúvida: trata-se de má-fé, preguiça ou ignorância? Muitas vezes observo dois ou três destes quesitos combinados.
É o caso do ataque sistemático à Meritocracia por tantos pseudo-intelectuais e outros tantos críticos diletantes.
O conceito básico de Meritocracia perpassa organizações como exércitos e outras estruturas sociais formais desde que as sociedades humanas começaram a se formar. No entanto, a terminologia como é usada hoje nasceu em 1958 já na forma de crítica. Foi cunhada por Michael Young e se popularizou através do livro “Levantar da Meritocracia” que faz críticas às sociedades democráticas em que as posições dos indivíduos na ordem social são definidas pela capacidade de trabalho (no sentido de formação, de conhecimento) e de esforço (dedicação do indivíduo em destacar-se do grupo). Para exemplificar, o autor criou a irônica fórmula QI + Esforço = Mérito que constituiria a crença básica da classe dominante.
Para Young, como as oportunidades são diferentes para as pessoas e grupos sociais, uma sociedade Meritocrática tende a perpetuar e, eventualmente, aprofundar as diferenças de oportunidade.
É a esta questão que se apegam o autor e a maioria dos críticos da Meritocracia. A formulação subjacente de quem defende esta tese é que a construção de uma sociedade igualitária não é compatível com a Meritocracia.
Como em quase todas as formulações da esquerda contemporânea, parafraseando Nelson Rodrigues, a tese é bonitinha, mas ordinária. É apenas a desculpa perfeita para quem faz o elogio da preguiça, própria e alheia. Ou para quem ainda sonha com a igualdade de oportunidades pela eliminação (literal) dos privilegiados (a tal classe dominante). Ou seja: a alternativa à meritocracia é algum tipo de arbítrio.
Gosto de demonstrar o que afirmo e vou fazê-lo abaixo, mas antes quero lembrar aqui uma formulação de Eduardo Gianetti da Fonseca justamente sobre a “desigualdade”. Para ele, quando o governo age para promover igualdade “na partida” (educação de qualidade para todos, por exemplo) está sendo justo e democrático. Quando age para promover a igualdade na chegada (salários iguais para todos de uma mesma função, independente de resultados, por exemplo) está sendo injusto e autoritário. Quando investe em saneamento básico e saúde com prioridade para as áreas mais carentes, está reduzindo a desigualdade. Quando foca seus gastos na burocracia e em áreas que lhe ofereçam vantagens eleitorais, está aumentando a desigualdade, mesmo que a tenha diminuído nas áreas em que concentrou esforços.
Mas os críticos da Meritocracia ignoram formulações sofisticadas como esta. As paródias, as teses, as críticas à Meritocracia são sempre esquemáticas e maniqueístas. É o caso de recente artigo da Revista Forum que repete a ladainha em texto e quadrinhos. Logo no parágrafo de introdução já temos a falta de rigor e a argumentação desonesta: “É muito comum no Brasil, principalmente depois da ascensão de parte da população com os programas de transferência de renda do governo, algumas pessoas recorrerem ao conceito de “meritocracia”. Essa ideia é, normalmente, utilizada para criticar as medidas sociais usando a justificativa de que todos têm as mesmas oportunidades e que o mérito verdadeiro – o sucesso profissional, por exemplo – depende única e exclusivamente do esforço individual. ”
O parágrafo repete uma estratégia tão “vencedora” quanto picareta da esquerda: elimina da equação os interlocutores sérios e ponderados e foca nos idiotas e ignorantes “da direita” – que a rigor são realmente seus interlocutores “equivalentes”.
O grupo que defende a Meritocracia nos termos indicados pela Revista Forum e pela história em quadrinhos que o acompanha, pertence à mesma categoria dos que defendem ou pedem “intervenção militar” quando o assunto é política: são uma inexpressiva minoria utilizada como espantalho.
Quem defende a Meritocracia não diz que, desde que ambas se esforcem, a criança classe média e a que nasce na favela têm a mesma chance de sucesso. Isto é uma estupidez criada pela esquerda. Os defensores da Meritocracia pregam outras coisas.
Pregam que o rebaixamento das exigências de acesso à Universidade por sistemas de cotas, por exemplo, não reduz a desigualdade, já que não houve uma melhora na formação dos cotistas, houve apenas um truque estatístico.
Pregam que dentro de uma mesma função, é injusto pagar salários iguais para desempenhos diferentes, o que causa pânico nos sindicatos.
Quando o Governo do Estado de São Paulo, há alguns anos, propôs pagamentos de salários maiores para professores que elevassem o desempenho médio de seus alunos nas avaliações nacionais e internacionais (algo concreto para a redução da desigualdade nas oportunidades para os alunos da rede pública), houve apoio de boa parte dos professores, mas o Sindicato foi totalmente contra. Salário baseado em mérito por critérios objetivos é algo muito perigoso para quem é preguiçoso.
Na iniciativa privada não é diferente. Acompanho de perto a questão trabalhista em um Supermercado com 420 funcionários. O sindicado obriga que todos os registrados em uma mesma função (caixa, por exemplo) ganhem o mesmo salário. Não pode haver diferenciação por mérito, quando o razoável seria o sindicato indicar o piso salarial de cada função e deixar quem trabalha melhor (atende mais clientes por hora, por exemplo) ganhar mais.
A lógica dos sindicatos é nivelar por baixo e desestimular o esforço individual como fator de ascensão social. A razão é dupla: de um lado, o esforço individual enfraquece o poder sindical; de outro, remunerações baseadas em mérito impedem o nivelamento por baixo, também conhecido por “lei do mínimo esforço”.
Uma sociedade deve trabalhar incansavelmente para reduzir as desigualdades de oportunidades, mas não pelo rebaixamento do teto e sim pela elevação da base.
Isto é justo e desejável.
Boicotar o mérito pode até reduzir estatisticamente desigualdades, mas o fará pelo rebaixamento do teto e não pela elevação da base.
De certa maneira, a meritocracia é o estímulo a uma competição da pessoa consigo mesma. Uma sociedade meritocrática é aquela que incentiva cada um a ser o melhor que puder, a aproveitar ao máximo cada oportunidade que tem – e valoriza quem leva isto a sério. Uma sociedade assim certamente produz resultados melhores que uma sociedade não meritocrática, tanto do ponto de vista econômico como social.
Artigo de Paulo Falcão
PS – Veja um outro exemplo de ação concreta para reduzir a desigualdade pela elevação da base no artigo O VENENO DA IGNORÂNCIA.
Link para artigo da Revista Forum: http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/06/quadrinho-desconstroi-o-conceito-de-meritocracia/
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Em livro provocador, Roger Scruton explica as ideias conservadoras
Uma medida da pobreza do debate político no Brasil – e do sucesso simbólico de um determinado projeto hegemônico – é a desqualificação sistemática dos valores e ideias conservadoras, a ponto de hoje ser praticamente uma transgressão alguém se apresentar como tal – um crime no qual a acusação é a prova de culpa, e a pena é ser socialmente excluído, ou coisa pior. Se um dia alguém escrever uma história das palavras no Brasil, terá que dedicar ao menos um capítulo ao processo em curso de desvalorização deliberada de determinados termos, aos quais se colou um sentido pejorativo ausente na origem: “meritocracia”, por exemplo, é outra palavra que foi estranhamente vilipendiada e se tornou quase um palavrão. Mas sempre que um projeto hegemônico entra em crise acentuada, surgem brechas e rachaduras por onde ideias dissidentes voltam a respirar e prosperar. Um sinal de que isso está acontecendo no nosso país é a multiplicação de lançamentos de livros que apresentam de forma serena o sentido real do conservadorismo – aquele sentido que seus adversários não conseguem nem querem enxergar, no esforço permanente de ridicularizá-lo. A publicação do provocador “Como ser um conservador”, do filósofo e cientista político inglês Roger Scruton (Record, 294 pgs, R$ 39,90), faz parte desse processo.
Escreve Scruton: “O conservadorismo advém de um sentimento que toda pessoa madura compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas. Isso é verdade, sobretudo, em relação às boas coisas que nos chegam como bens coletivos: paz, liberdade, leis, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e da vida familiar.” Scruton se deu conta da fragilidade desses bens coletivos pela primeira vez quando, em 1975, visitou Praga para fazer uma conferência: terminou ali qualquer ilusão que tivesse em relação ao socialismo, que ele passou a enxergar não mais como um sonho de idealistas, mas como um sistema real de governo imposto de alto a baixo e mantido pela força, que esmaga e desumaniza o indivíduo.
Scruton percebeu que os bens coletivos associados à liberdade, que nos acostumamos a imaginar como garantidos, estão sob permanente ameaça. “Em relação a tais coisas”, escreve, “o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante. Esta é uma das lições do século 20. Também é uma razão pela qual os conservadores sofrem desvantagem quando se trata da opinião pública. Sua posição é verdadeira, mas enfadonha; a de seus oponentes é excitante, mas falsa.” Por outro lado, ao visitar mais tarde países do leste europeu, após a queda do Muro de Berlim e o colapso do comunismo, o autor ficou chocado com a fragilidade das novas democracias dominadas por aventureiros corruptos, concluindo que não bastam eleições para caracterizar uma democracia: muito mais importantes são as instituições permanentes e o espírito público que deveria responsabilizar os políticos eleitos. “Um governo responsável não surge por meio de eleições”, afirma. “Surge do respeito à lei.”
“Como ser um conservador” apresenta e investiga a visão conservadora em relação ao nacionalismo, ao socialismo, ao capitalismo, ao liberalismo, ao multiculturalismo, ao ambientalismo e ao internacionalismo, entre outros “ismos”. Ainda que se possa discordar de suas ideias, é inegável que o livro propõe de forma inteligente debates indispensáveis sobre o mundo em que vivemos hoje e sobre as escolhas que somos obrigados a fazer, tanto no plano teórico das esferas de valor quanto no plano das questões práticas, que afetam diretamente o nosso futuro e a nossa qualidade de vida. Mas o capítulo mais interessante do livro é aquele em que Scruton resume sua trajetória, numa mini-autobiografia que esclarece e justifica suas convicções. Ilustrando a tese (do historiador do socialismo Robert Conquest) de que “todo mundo é de direita nos assuntos que conhece”, Scruton conta, por exemplo, como seu pai, um operário filiado ao Partido Trabalhista, era extremamente conservador em relação aos valores e modos de vida da zona rural onde cresceu.
Apesar do crescente reconhecimento de que desfrutam suas ideias, aos 71 anos Roger Scruton ainda faz parte de uma minoria no meio acadêmico, mesmo num país tido como tradicionalista como a Inglaterra: “Nos círculos intelectuais, os conservadores se movem calma e silenciosamente, cruzando olhares pelo cômodo, assim como os homossexuais na obra de Proust. (…) Nós, os que supostamente excluem, vivemos sob pressão para esconder o que somos, por medo de sermos excluídos.” Segundo afirma, não são só os intelectuais que passam por isso: “Conservadores comuns – muitas pessoas, provavelmente a maioria, se enquadram nessa categoria – são constantemente informados de que suas ideias e sentimentos são reacionários, preconceituosos, sexistas ou racistas. As tentativas honestas de viver de acordo com as próprias ideias são desprezadas e ridicularizadas.”
Já em relação ao debate econômico, Scruton é um crítico severo do continuado declínio cultural e econômico que resulta do ideal de se alcançar uma sociedade nova e igualitária em que todos teriam o mesmo (ou seja, coisa nenhuma). Ele afirma que, em países que almejam a riqueza e o desenvolvimento, a figura mais importante não é o administrador, mas o empreendedor (outra palavra que, na prática, ganhou um sentido pejorativo no Brasil) – isto é, aquele que assume e enfrenta os riscos de produzir riqueza. Segundo o autor, a ideia do Estado como uma figura paterna benigna, que aloca de forma eficiente os ativos coletivos da sociedade para o lugar onde são necessários “e que está sempre presente para nos retirar da pobreza, da doença ou do desemprego” é uma ilusão, que não foi aprovada no teste da realidade. E isso por um motivo muito simples: por mais que um governo seja competente em matéria de distribuição (o que já é difícil), não se pode distribuir uma riqueza sem que existam as condições para criá-la.
https://g1.globo.com/pop-arte/blog/maquina-de-escrever/post/em-livro-provocador-roger-scruton-explica-ideias-conservadoras.html
Nesse vídeo, Eduardo Gianetti da Fonseca explica bem a questão da desigualdade.
Falar em “meritocracia” num país com as diferenças abissais que existem entre as classes sociais é brincadeira. Num país com tamanha exclusão social…é brincadeira.
Ao contrário: falar em meritocracia de forma fundamentada é discutir de forma produtiva tanto as desigualdades, como apontei acima, quanto as alternativas à meritocracia, que serão sempre arbitrárias. Em nenhuma medida é brincadeira.
Brincadeira é transformá-la em espantalho e não ser capaz de apontar uma alternativa não autoritária.
Reproduzo aqui comentário e indicação de João Luiz Mauad:
Mais um ótimo artigo do Fernando Schüler. Eu só acrescentaria que a origem do termo “meritocracia” remonta aos ideais iluministas, que romperam com a tradição de privilégios detidos pelas castas nobres e pelo clero, fundando sociedades baseadas na isonomia e na igualdade de todos perante a lei (ausência de privilégios concedidos pelo estado a algumas minorias).
“É simplesmente um erro imaginar que nossas sociedades sejam meritocráticas
Daniel Markovits lançou um livro chamado “The Meritocracy Trap” (a armadilha da meritocracia, ainda sem edição no Brasil), com as habituais denúncias contra o “mito” ou a “farsa” da meritocracia. O argumento central é um velho truísmo. Nossas sociedades são desiguais, as famílias entram no jogo e, por óbvio, os pontos de partida de cada um na vida são muito diferentes.
O interessante desse debate é que raramente alguém diz quem exatamente defende a ideia sem sentido de que nossas sociedades sejam meritocráticas. As referências sempre se dirigem a uma vaga “cultura popular” que preza o mérito, ou recomenda que as pessoas confiem nelas mesmas e ponham a mão na massa (a cultura da autoajuda é isso, não?).
Nos anos 1950, o sociólogo britânico Michael Young escreveu um livro distópico, “The Rise of The Meritocracy” (a ascensão da meritocracia, também sem edição no Brasil), tentando imaginar como funcionaria uma sociedade em que as posições de poder fossem acessíveis aos mais talentosos. A coisa toda era, por óbvio, uma grande ironia. E um inferno totalitário, apenas isso.
Há uma confusão elementar nisso tudo. Uma coisa é dizer que esforço e a disciplina fazem diferença na vida, outra é imaginar que o mérito seja a base sobre a qual a sociedade distribua recursos e posições de poder. As organizações podem fazer isto, com base em critérios próprios, mas não a grande sociedade, onde os critérios são dispersos (ainda bem), e onde o acaso cumpre um papel essencial.
Hayek matou esta charada quando registrou que o mercado não remunera mérito e sim a criação de valor, segundo a “votação” que cada um faz, a cada momento, a partir de suas próprias preferências, quando decide ou não pagar por alguma coisa. E que a condição de nascimento, assim como uma “mente brilhante, uma bela voz, um rosto bonito ou mãos habilidosas (…) são tão independentes dos esforços de um indivíduo quanto as oportunidades ou experiências que já teve”.
E que seria um inferno, em especial para os menos favorecidos, uma sociedade em que de fato se acreditasse na lorota de que uma boa renda é prova de mérito e uma má posição pressupõe sua ausência.
Ao invés de perder tempo com moinhos de vento, deveríamos discutir com seriedade qual o parâmetro de justiça plausível em uma sociedade aberta. A melhor que conheço diz o seguinte: direitos e deveres iguais para todos e uma base equitativa de oportunidades para cada um. Isso nada tem a ver com igualdade de oportunidades, que implicaria a eliminação de tudo aquilo que possa servir de vantagem para alguém na ideia tola de que “a vida é uma corrida”.
O grande Bernard Williams tratou disso com primor. Igualar oportunidades implicaria eliminar a influência do dinheiro, e logo da comunidade, da língua, e por fim da família e das aptidões naturais (e quem sabe também da sorte) da vida das pessoas. A par de destruir qualquer traço de identidade pessoal, um exercício de nonsense.
O que se deve efetivamente oferecer é uma base mais homogênea de oportunidades. Isso significa muitas coisas ligadas ao direito de crescer com saúde, ser tratado com a mesma consideração e respeito que os demais e poder escolher uma (boa) escola onde estudar (direito hoje concedido apenas aos mais ricos, sob aplausos gerais).
O prof. Markovits diz que temos que abrir as escolas dos mais ricos para a frequência dos mais pobres. Ele está certíssimo. Sem colocar os alunos (com mais ou menos renda) a estudar nas mesmas escolas (e nem me refiro aqui às superescolas) não vai rolar base nenhuma de oportunidades iguais. Como fazer isso? Bolsas? Contratos de gestão com o setor privado? É isso que nosso velho corporativismo mais odeia, não é mesmo?
De qualquer forma, a ideia de que cabe ao Estado assegurar uma base mais equitativa de oportunidades a todos é algo que a tradição liberal há muito incorporou. E não penso que ela seja recusável por um pensamento de esquerda igualmente atual. Talvez vá aí a base de algum consenso público para além da querela política e sobre o qual o país tem boas razões para se concentrar.”
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/fernando-schuler/2020/10/e-simplesmente-um-erro-imaginar-que-nossas-sociedades-sejam-meritocraticas.shtml
Artigo desonesto.
Ignora que para haver igualdade de oportunidades é necessário haver também uma certa igualdade de condições. E tal igualdade de condições vale tanto no sentido econômico como político – afinal, lembremos a clássica frase de Rousseau: “Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém.”
E se tal artigo acusa a esquerda de reducionismo é justamente porque ele mesmo é simplista, pois coloca as coisas em termos de “preguiça”.
Aliás, por “preguiça” lembremos que a classe dominante é a maior preguiçosa. Vivem, ainda mais hoje em dia com a extrema financeirização da economia, de capital não-produtivo (inclusive é mister recordar que a maior parte das dívidas públicas dos países pertencem as maiores corporações do planeta, assim como 82% da riqueza mundial está nas mãos do 1% mais rico – relatório Oxfam). Também é importante citar que onde mais se concentram psicopatas é no meio corporativo (e essa gente tem como características a ausência de empatia e extrema manipulação das pessoas).
Ademais, se historicamente a concessão de direitos e políticas públicas representou benesses a população isso serviu para vender o mito de que o capital pode ser aliado da democracia e, assim, domesticou a classe trabalhadora (que era justamente o que se esperava desde a primeira legislação social, feita pelo Bismarck no fim do séc. XIX), e desde os anos 70 temos a retirada de direitos e sucateamento e mesmo privatização das instituições públicas, e assim o combate a democracia na destruição do Welfare State (inclusive as privatizações de empresas públicas rentáveis têm por efeito acabar com a capacidade do Estado de se autofinanciar, e assim obrigar o corte de direitos sociais). Em resumo: com a destruição da utopia, da capacidade de se mobilizar por uma nova sociedade, as pessoas naturalizaram a TINA (“There Is No Alternative”) neoliberal. Vemos, assim, com tudo isso e somando as desregulamentações, o crescimento exponencial do poder das corporações e a extrema concentração e os Estados nacionais reféns tanto dos lobbies como das chantagens destas, e assim a “democracia” (sendo que o Estado sempre foi domínio da classe dominante e todas as políticas feitas conforme sua permissão) vai se convertendo numa plutocracia (aliás, em toda teoria liberal, de Locke a Hayek e mais além, vemos o desprezo ao povo – o filósofo britânico chama as massas de “burros de carga”, inclusive – e, assim, a democracia liberal como defesa da liberdade dos dominantes sobre os dominados – o que encontra eco inclusive na Grécia antiga, onde a visão era de que os homens racionais eram pensantes e os estúpidos agiam com as mãos).
Você começa sua argumentação com uma mentira. No artigo há uma clara defesa da luta por redução das desigualdades. O resto de sua argumentação segue o mesmo caminho da distorção do que está escrito. No fim, sua argumentação defende um modelo que reduz a desigualdade nivelando todos por baixo e os submetendo a uma ditadura. Não é um caminho desejável para quem preza a liberdade.
“Nivelando todos por baixo…exceto a burguesia” é o teu discurso de destruição da democracia, e portanto da própria liberdade. No discurso privatista, atomizante, alienante, enfim, do Estado “mínimo” (“minimo” para quem? para o povo, e para a burguesia, máximo) notamos bem a prática consequente de aumento tanto da desigualdade como da pobreza e miséria.
Assim sendo, você projeta em mim as tuas “qualidades”. Não sei se você faz isso por alienação ou oportunismo, mas em ambos os casos recomendo terapia.
Novamente seu discurso não encontra ancoragem na realidade ou no artigo. É apenas um discurso costurado a chavões que defende uma utopia arbitrária e sangrenta.
Paulo, acho que cheguei atrasado para as discussões. Meu maior interesse esta no papel dos lideres/gestores . O que gostaria de dividir contigo, é o fato de ver a Meritocracia (tão em moda nas empresas hoje 2019), como um fator desencadeador de lideranças toxicas , estou errado ? A meritocracia não impacta diretamente no modelo SCARF (David Rock – neuroliderança) ? Não continua gerando ou se torna o principal agente do modelo de promoções de Lideres/Gestores sem uma avaliação apurada de suas soft skills ? Em um pais com o nosso, onde falta a autoconsciência ao colaborador, em contrapartida a necessidade de uma melhor remuneração, os modelos não se associam e impossibilitam ao colaborador a não aceitação de uma liderança, a qual ele não esta preparado? A meritocracia como a vemos hoje (no mundo corporativo), não é apenas uma criação de valor ?
Andre, você está discutindo um aspecto mais técnico da meritocracia. Em empresas privadas eficientes, meritocracia é mostrar serviço, é cumprir prazos com qualidade, é entregar o que promete. É destes quadros que saem as promoções, as lideranças.
O artigo trata de algo mais básico, que é a campanha constante contra a meritocracia por gente que não percebe que a alternativa a ela é o arbítrio: promover apenas palmeirenses, ou só mulheres, ou apenas japoneses etc.
Minha tese é que a introjeção da meritocracia leva a pessoa a se esforçar mais para aproveitar melhor cada oportunidade que tem. Este é o ponto. Estatisticamente, entre indivíduos com habilidades e oportunidades semelhantes, quem seguir os princípios acima tem mais chances de sucesso do quem não os seguir.
Genteeee amei essas discussões… já me inscrevi para receber novas notificações e posts… ao dono do blog, parabéns! À propósito… como é o seu nome?
Meu nome é Paulo Falcão.
Olá, autor do texto! Achei muito interessante algumas das suas colocações. Acho essa demonização de conceitos e pensamentos divergentes muito antidemocrática, vejo que a intelectualidade brasileira é bastante unilateral em alguns temas, portanto acho importante existirem espaços como este.
Bem, sobre o texto, vejo que você se preocupou mais com a produtividade que com o bem estar do indivíduo no seu exemplo. Se em um universo de 10 funcionários 3 são viciados em trabalho e decidem se esforçar cada vez mais, deslocando o significado de mérito para patamares cada vez mais altos (exaustivos), os outro 7, que eram trabalhadores comuns, serão considerados “vagabundos”. A empresa começa a exigir a contratação de funcionários cada vez mais “esforçados”, sem vida social, sem vida familiar, orgulhosos de serem trabalhadores incansáveis, daí ocorre um karoshi aqui, outro ali, doenças laborais diversas, depressão e ansiedade em massa, trocamos um problema social por outro. Bem, resumindo, trabalhar é bom, mas não é tudo, principalmente quando a maioria não consegue nem sequer escolher o tipo de trabalho que irá realizar por toda uma vida.
Produtividade é bom quando tem como propósito melhorar o bem estar dos seres humanos. Foi para proteger o trabalhador dos excessos do sistema que foram pensados os sindicatos e não para proteger vagabundo como alguns sugerem. Podemos questionar a utilização do sindicato, mas não a sua utilidade.
Ana, obrigado pela crítica, mas discordo. O ponto central é: sem meritocracia, a alternativa é algum tipo de arbítrio, é transferir o poder de mudar a própria situação do indivíduo para algum ente discricionário.
Quanto aos sindicatos, acho que tiveram papel importante na conquista de direitos e na melhora do capitalismo, mas o sindicalismo no Brasil se transformou em máquinas de arrecadação extremamente corporativistas e, frequentemente, partidária.
As experiências descritas no artigo são reais e em nenhum dos casos envolve horas extras ou mais tempo trabalhado e sim a realização de um trabalho de melhor qualidade durante o tempo normal de trabalho, o que deixa claro que os sindicatos boicotam critérios objetivos de avaliação de desempenho.
Excelente comentário!
Excelente comentário, Ana!
essa cambada direitistas são um bando de zé mané sempre querendo desmerecer uns aos outros “ah vc não entendi isso ” vc não consegue entender aquilo” VAI SE CATAR bando de arrogantezinho que le muito livro e fica de arrogancia chata pra cima de todo mundo ,,..virem uma ostra seus manés .se isolem do mundo ,perfeccionistas aloprados …dentro de vcs não passam de crianças ridicularizadas querendo diminuir o proximo como foram diminuidos .
cheio de pseudo intelectual chato pra caralho de direita aqui ..VÃO TOMAR NO CU SEUS PERFECCIONISTAS LIXOS ,ridiculos .
Não costumo publicar comentários deste tipo, mas resolvi abrir uma exceção. Suas palavras são a prova de um tipo de pessoa que se orgulha da própria ignorância e, na falta de argumentos, agride. No fim, suas palavras dizem mais sobre você do que sobre o objeto de suas críticas.
Cara gostei dessa frase: “No fim, suas palavras dizem mais sobre você do que sobre o objeto de suas críticas.”
Ps: Excelente artigo.
Obrigado.
O problema não é a meritocracia em si, mas a ideologia meritocrática, a que se utiliza do senso comum sobre méritos para legitimar as injustiças e desigualdades sociais.
Perceba que não estou acusando quem defende a meritocracia de compactuar com as desigualdades sociais, é absolutamente compatível ser a favor da meritocracia ao mesmo tempo que contra tais injustiças sociais, justamente por que não é o mérito que cria tais desigualdades; o nojento é ter que ouvir “estuda e entra” como crítica às cotas sociais nas universidades.
Mas é óbvio que esquerda nenhuma acha que cotas são perfeitamente belas e próprias. É óbvio que qualquer esquerda preferiria que o mérito fosse o único fator determinante. Absolutamente toda esquerda sabe que cotas são medidas paliativas para um problema histórico de oportunidade. Nesse sentido, até a esquerda é a favor da meritocracia.
O que todas essas críticas apontadas como “maniqueístas” comumente criticam de fato não é a compensação pelo mérito, justamente por que não é o mérito que cria as desigualdades ilustradas. É isso que a direita precisa entender quando ouve a esquerda atacando a meritocracia, que toda crítica à meritocracia serve para desconstruir seu senso comum, te alertando ao tipo de desigualdade perversa que não pode, absolutamente de forma nenhuma, ser legitimada por ideologia meritocrática.
Portanto existe uma falha de referências nesse debate. Enquanto a direita pensa que a esquerda não acredita em méritos, a esquerda só tenta desconstruir a ideologia que naturaliza desigualdades.
Quanto à questão do salário por rendimento, sou generalizadamente contra essa ideia, por ser possivelmente capaz de estimular esquemas de maquiagem do rendimento, a redução arbitrária de salários, a redução motivada pelo aumento do salário do colega de trabalho, a ameaça ainda mais exploradora não apenas de se perder o emprego mas de se ter o salário reduzido, e a ilusão de que seres humanos são máquinas de potências equivalentes mesmo em cargos de atividade mecânica. Imagino que sejam muitos poucos os casos em que esse sistema poderia ser empregado sem abusos, e que não seria assim tão eficiente para a sociedade.
E realmente, talvez não hajam grandes divergências entre socialistas e liberais nesse ponto em específico, talvez no fundo do debate ambos concordem que a meritocracia é desejável se as diferenças dadas forem de fato resultado de mérito e que diferenças que não sejam devem ser eliminadas; me parece que o que distinguiria mesmo socialistas de liberais é como pensam que as desigualdades serão eliminadas, se é por uma mão invisível de compensação mútua do mercado ou por ampla redistribuição de renda, ou seja, se o sujeito apoia ou não a intensificação de direitos trabalhistas, impostos progressivos, de renda, sobre riqueza, sobre a herança e assistências sociais.
André, seu raciocínio leva ao arbítrio, que é a única alternativa à meritocracia. Mesmo na parte final, quando evoca questões bem resolvidas nas social-democracias nórdicas, parece ignorar que foram conquistas derivadas de escolhas conscientes, do amadurecimento de valores. Nada foi imposto. Há um artigo que trada bem esta questão e que talvez lhe interesse: SERÁ QUE EXISTE UMA EXPERIÊNCIA VIRTUOSA DE ESQUERDA? http://wp.me/p4alqY-if
Não compreendo o que você quer dizer, Paulo. O que significa “arbítrio” como “alternativa” à meritocracia? De quais conquistas, exatamente, você está falando? Ainda posso ler os artigos mais tarde, mas já desconfio da honestidade só pelos primeiros parágrafos.
André, você evidentemente tem boa formação e é inteligente, logo é estranho que enverede por este tipo de argumentação. Em primeiro lugar, arbítrio como oposição à meritocracia é uma questão semântica: se o critério de escolha não é o mérito, resta algum critério arbitrário, como a cor, o sexo, as preferências ideológicas, o time para que torce, o lugar em que nasceu etc. Me parece bastante simples. Outro ponto: você pode concordar comigo ou não, pode apresentar argumentos melhores ou encontrar alguma imprecisão no que escrevo, mas não dá para insinuar desonestidade. Sou claro, transparente, e aponto as questões que abordo com total honestidade. Basta ler com a mesma honestidade.
Ah, sim, entendo. Não vejo que a alternativa à escolha pelo mérito seja a escolha arbitrária. Existem argumentações muito bem colocadas a favor de cada critério anti-meritocrático (não que sejam “contra” a meritocracia, mas são critérios que explicitam onde a meritocracia pode deixar de envolver apenas mérito). Pessoalmente, só me convenço pelo critério social, o que mais se aproxima generalizadamente à realidade que mais afeta as oportunidades no ocidente, mas também não entendo que faria alguma diferença colocar cotas de cor dentro das cotas sociais, por exemplo; o público alvo seria exatamente o mesmo. Não me convenço pelos critérios de cor ou de sexo, apesar de apoiar sim as causas feministas e do movimento negro. É de fato absurdo oferecerem à mulher salários menores que o dos homens se ela trabalha da mesma forma, seja por discriminação sexual ou por lógica de lucro. O “rendimento” do trabalho da mulher não é substancialmente menor que o do homem. É de fato absurdo que os negros ainda ocupem em maioria empregos menos prestigiados, que não sejam representados na indústria midiática de consumo de beleza, e que sejam perfil criminal da polícia – e o fato disso se dar apenas pela perpetuação das desigualdades sociais vindas de tempos escravistas apenas demonstra o quanto tais desigualdades não podem ser naturalizadas por ideologias de mérito e o quanto a aniquilação do racismo estrutural é dependente de uma fortíssima redistribuição de renda.
Enfim, é isso que entendo por critérios anti-meritocráticos e como se relacionam com os rumos dos índices sociais e vejo que qualquer outra concepção é uma má interpretação de tais rumos. Sobre o texto que ainda não li por completo, e não sei se pretendo, entendi uma desonestidade, ou talvez para ser mais justo, uma ingenuidade, associar logo de cara, mesmo que superficialmente, valores de democracia automaticamente à direita sem motivo aparente algum e ainda dizer que a prática política de esquerda “sempre foi” autoritária, como se fosse perfeitamente claro como se traçar uma linha entre dois espectros e então concluir que tudo o que cair à esquerda foi autoritário e que tudo o que cair à direita foi perfeitamente democrático. A criação de Israel não foi democrática. A invenção de dívidas públicas massacrantes por bancos privados multinacionais não auditadas não é democrática. A ascensão de Hitler foi democrática (pelo voto), foi um fenômeno da direita conservadora, e nem por isso foi a melhor experiência do mundo. A invasão do Iraque não foi democrática. A herança colonialista de países subdesenvolvidos não é democrática.
E a esquerda não tem nada a ver com nada disso, sendo uma eterna crítica do capitalismo e não o bode expiatório de todas as suas mazelas. Fala-se em autoritarismo, como se este fosse um fenômeno exclusivo de um único lado, e se esquece que o capital também tem enorme poder coercitivo sobre países inteiros, especialmente os subdesenvolvidos.
O mais estranho na forma como o texto parece abordar a relação das experiências de direita com as experiências de esquerda é a falta de historicidade. Nega-se contexto, se colocam equivalências prontas e voilá, nosso planeta vira um tubo de ensaio pronto para testar sistemas econômicos em modo sandbox. Esse tipo de falácia é muito comum, na verdade, pois ainda hoje se debate economia com exemplos isolados, senso comum (a esquerda não se exime de culpa nesses dois) e análises compradas de think tanks neoliberais. Frente a esse tipo de análise, temos Thomas Piketty que emerge de uma década de estudos aprofundados de um período de dois séculos de dezenas de países, analisando política econômica por política econômica em seus devidos contextos e influências e não empregando maniqueísmos prontos de blocos rotulados por esquerda e direita, para concluir o óbvio, que as desigualdades sociais aumentam sem políticas de redistribuição de renda. Não é à toa que ele nomeia seu trabalho em alusão à Karl Marx.
De qualquer forma, estes são pensamentos meus do que seu texto me provoca, me parecendo bem mais uma opinião de ligeira justificação que uma análise prática de qualquer contexto político geral. O debate é muito mais profundo que tudo isso, portanto seria bem mais interessante um debate em diálogo sobre uma questão singular do que uma chuva de monólogos feitos previamente, sem reciprocidade, em forma de artigos.
André, o blog nasceu do meu desejo de discutir certos temas e ao mesmo tempo criar uma memória acessível a qualquer um que tenha internet. É, com certeza, um diálogo e não um monólogo. Isto fica transparente quando se lê também os comentários dos leitores.
Sua afirmação de que “O mais estranho na forma como o texto parece abordar a relação das experiências de direita com as experiências de esquerda é a falta de historicidade. Nega-se contexto, se colocam equivalências prontas e voilá, nosso planeta vira um tubo de ensaio pronto para testar sistemas econômicos em modo sandbox” é uma destas frases que parecem interessantes mas são apenas um jogo de palavras que não correspondem aos fatos.
Um dos primeiros artigos do blog, chamado “Teoria das Gavetas”, teve exatamente a preocupação de analisar a divisão direita X esquerda, decupando os conceitos por trás das palavras e demonstrando o que é essencial em cada um deles. Talvez seja este o melhor ponto de partida para um debate em que se respeite o sentido das palavras. Se tiver interesse, segue o link: http://goo.gl/jJ5uFC
Vejo que diálogo depende de reciprocidade, como a que estamos tendo aqui. Escrever sobre outro texto pode até ser uma “resposta”, mas é dificilmente um diálogo, pois a reciprocidade é comprometida quando apenas um dos lados tem consciência do outro.
Sobre seu, ainda outro, texto, não compreendo qual seria o grande incômodo. É claro que a divisão esquerda/direita pode ser problemática, como quando afirmam que toda prática política “de esquerda” “sempre foi” autoritária, ou quando, por consequência disso, insinuam que as experiências de direita (uma esquerda implica em uma direita) nunca foram. Mas apesar disso é uma divisão pragmática, que serve de denominação às perspectivas específicas e típicas de determinada concentração de ideias. É algo explorável, criam-se falácias, mas refutam-se falácias e simplificam-se os debates.
Se existisse mesmo tanto incômodo aos que se colocam na gaveta da direita, não seria lógico você se identificar com algo da esquerda? Você não pode gostar tanto assim do rótulo de “direita” para se prender a esse espectro apenas pelo rótulo. Eu mesmo me denomino de esquerda, apesar de ter críticas fortes às tendências pós-modernas, da mesma forma que você pode ter críticas a conservadores e fascistas. Da mesma forma que colocam “liberais” como algo pejorativo, sinônimo de reacionário, também colocam pós modernos como vitimistas e comunistas como assassinos. Me parece que suas tendências são típicas do liberal-econômico progressista-político indeciso. O fato é que, apesar dessa mescla de ideologias não ser recente, foi a esquerda ou, se preferir, os movimentos que se intitularam de esquerda que mais advogaram e que sempre conquistaram as vitórias progressistas e é também fato histórico que movimentos fascistas, nazistas, neonazistas, ultrarreligiosos e conservadores se intitulam de direita. Ninguém da esquerda quer tirar Stalin ou Che, que matou gays, da própria gaveta, o que se tenta no progressismo reformista é se afastar para o outro canto dessa mesma, exaltando-os apenas naquilo em que foram virtuosos, por que ícones políticos também têm seus próprios contextos históricos. Da mesma forma, não faria sentido a direita liberal tentar expulsar Hitler da direita inteira, mas ainda assim propagam a imbecilidade de que o nazismo foi de esquerda. Realmente, deve ser duro ter que dividir a gaveta com Hitler, mas ninguém aqui está feliz e muitos apenas lidam com isso, refutando as eventuais falácias reducionistas do outro lado, sem propagar desinformação histórica.
O que Olavo de Carvalho fez no trecho em que você o citou, foi justamente o que Althusser notou na citação seguinte; Olavo deixa sugerido que há um erro fundamental na distinção esquerda / direita, pela relação distinta que cada um têm com seus extremos, para convencer o leitor de que essa separação não têm base e que aquelas práticas desastrosas da extrema direita não foram de “direita de verdade”. Ele cria uma lacuna ao ignorar que a direita e a esquerda (principalmente a marxista) não nascem da mesma maneira na história. Esquerda e direita são opostos socráticos, mas não são opostos estruturais, pois enquanto a esquerda nasce de uma crítica ao capitalismo, enquanto inserida no mesmo, a direita não tem a mesma história, ela não nasce de uma crítica do comunismo nem do socialismo, ela é resistência à crítica, é estabilishment. E é por isso que comparações dicotômicas de experiências de esquerda e direita são tão suscetíveis a argumentação falaciosa, pois, como havia dito, lhes falta algo, lhes falta contextualização, lhes falta historicidade.
Vou terminar por aqui, nesta análise do fenômeno dualista da política. Outras interpretações do texto, como a democracia ser inerentemente de direita, parecem impróprias para consideração, especialmente consideradas as atuações do capital e seu poder coercitivo inclusive sobre democracias.
André, como escrevi em um artigo recente: “Quem é realmente de esquerda tem como objetivo a superação da democracia liberal e a expansão do controle estatal na economia até a extinção da propriedade privada dos meios de produção.
Marx, Engels, Lênin e Mao-Tsé Tung são os grandes teóricos das experiências socialistas. Os dois primeiros como idealizadores e os dois últimos como intelectuais que teorizaram à luz de experiência concretas.
Tudo que a esquerda produziu do final do século XIX para cá tem influência de pelo menos dois destes nomes e os quatro estão de acordo quanto à necessidade de destruir a democracia “burguesa” e acabar com a propriedade privada dos meios de produção, o que se dá, exclusivamente, sob totalitarismos.
Há quem diga que não é bem assim, mas não consegue dar substância a seus argumentos”.
Esta última frase não se refere a você, mas a renomados teóricos que esbarram nesta questão.
Nosso debate, em grande medida, se dá porque usamos algumas palavras-chave com sentidos bastante diversos.
Este trecho de seu comentário é um exemplo do equívoco: “Esquerda e direita são opostos socráticos, mas não são opostos estruturais, pois enquanto a esquerda nasce de uma crítica ao capitalismo, enquanto inserida no mesmo, a direita não tem a mesma história, ela não nasce de uma crítica do comunismo nem do socialismo, ela é resistência à crítica, é estabilishment. E é por isso que comparações dicotômicas de experiências de esquerda e direita são tão suscetíveis a argumentação falaciosa, pois, como havia dito, lhes falta algo, lhes falta contextualização, lhes falta historicidade.”
O artigo abaixo traz a reprodução de um texto “de esquerda” que explica bem o seu equívoco: QUANDO A ESQUERDA É QUASE DIREITA http://wp.me/p4alqY-jz
Paulo, a sua interpretação é muito incomum. Você parece ter concluído que a democracia em si, que é sistema político e não econômico, é de direita e liberal, por que você acredita que todo o discurso de esquerda, por ter grandes influências do pensamento marxista, necessariamente compactua com estratégias totalitárias de eliminação da propriedade privada dos meios de produção. Isso é uma falácia reducionista, não é uma conclusão induzida.
Eu defendo o aprofundamento reformista da democracia através do socialismo, pela distribuição eficiente (intervencionista) de renda e estatização responsável dos meios de produção imprescindíveis à dignidade humana, pois a lógica de lucro não é tolerável. Isso não é ser contra a totalidade do direito privado dos meios de produção (é ser contra a exploração dos mesmos). Você projeta interpretações suas às falas de intelectuais e declara a sua tese absurda como “reforçada” a cada extrapolação desse reducionismo. Na verdade, em última análise, o que você propõe é apenas uma nova definição de rótulos, para que você se sinta confortável na direita como a sua única ideologia e que todo o resto que você rejeita esteja do outro lado, porém isso não faria nada além de adaptar discursos, rodar o jogo de palavras, mas sem consequência real alguma para a realidade materialista, para os rumos da sociedade.
Estou plenamente familiarizado com seus argumentos, mas a recíproca não é verdadeira. Fundamento minhas críticas citando os próprios teóricos e decupando suas ideias. Não sou dono da verdade, apenas respeito muito o sentido das palavras e as teses que lhe deram substância. Todo seu palavreado tem um sotaque claramente Marxista. Se o próprio Marx reconhece que suas ideias são inviáveis sem abolir a democracia liberal, que só ocorreu em estados capitalistas (embora o capitalismo possa conviver bem com ditaduras de esquerda e de direita), reconhece que exigem a instalação de uma ditadura para que se realizem, não sei o motivo de alguém achar que tal alternativa possa não ser totalitária. A frase “Eu defendo o aprofundamento reformista da democracia através do socialismo, pela distribuição eficiente (intervencionista) de renda e estatização responsável dos meios de produção imprescindíveis à dignidade humana, pois a lógica de lucro não é tolerável” é apenas uma tentativa de dourar a pílula do autoritarismo embutido na proposta. Como já sistematizei em outro artigo, “O chamado Liberalismo Econômico e as democracias liberais são os promotores dos maiores avanços da história humana em termos de qualidade de vida, longevidade, liberdade individual, direitos civis, liberdade religiosa, liberdade sexual e direitos de minorias. São também, curiosamente, o mais atacado sistema econômico e político do século XX e XXI.
Não importa aos críticos que tais sociedades tenham evoluído de forma magistral neste período. Não importa que continue evoluindo.
O mais curioso é que não importe também que todos os projetos político-econômicos formulados como alternativa ao livre mercado e às democracias terminaram em desastres humanitários, genocídios e barbárie em nome do bem, como demonstra o livro TEMPOS MODERNOS: O MUNDO DOS ANOS 20 AOS 80 de Paul Johnson.
O que os engenheiros sociais e outros pensadores não compreenderam é que, enquanto o Liberalismo Econômico é uma leitura da sociedade, uma tentativa de compreender como funciona uma sociedade fruto de milênios de desenvolvimento, Nazismo, Fascismo e Socialismo, por exemplo, são “projetos de sociedade”, são propostas de uma nova forma de organização que se propõe a abolir a atual e resolver os problemas do mundo.
Este é o ponto. Toda filosofia procura explicar o mundo. Isto é produção de conhecimento. Quando a filosofia deixa de explicar o mundo e passa a propor outro mundo, a propor uma ruptura, deixa de ser filosofia e produção de conhecimento e passa a ser, antes de tudo, um projeto de poder.
Quem compreende o Liberalismo Econômico como projeto de poder, como “projeto de sociedade”, compreende errado. Não há comparação possível entre o liberalismo e, por exemplo, o Nazismo e o Socialismo. Enquanto o Liberalismo Econômico e a Democracia Liberal são de natureza libertária, Nazismo, Fascismo e Socialismo são totalitários, por definição.”
Deve lhe informar, Paulo, que não sou comunista e não compactuo com experiências autoritárias. Você pode me chamar de “liberal” por isso, se achar que cabe na sua interpretação, mas o fato é que ninguém que compartilhe das minhas visões se chama de liberal, no sentido econômico. Certamente é muito mais plausível que você tenha uma interpretação psicodélica de marxismo e democracia do que todo mundo, exceto você, não pensar da maneira “certa”.
Não é contradição nenhuma ter influência do pensamento marxista e não ter tendências autoritárias, pois ao contrário do que você deve querer imaginar, Marx passa muito mais de seu tempo criticando as formas absurdas do capitalismo que defendendo políticas absolutistas como remédio. Marx deve ser lido em seu próprio contexto e interpretado para o nosso próprio, e é justamente por grande parte da esquerda compreender isso que você não encontra mais marxistas clássicos com facilidade.
Dizer que foi o liberalismo econômico quem mais promoveu os avanços progressistas que você citou não passa de uma falsificação histórica. Qualquer movimento social progressista hoje e de qualquer outra época se auto-intitula de esquerda e ainda têm discursos de inspiração obviamente marxista, pois não se falava em opressão de classe antes de Marx. Não é por que essas vitórias surgiram em meio a políticas liberais que seriam consequências desta. É muito pelo contrário, surgiram APESAR desta, por influência do pensamento marxista e pela liberdade democrática. Fossem consequência de políticas liberalistas, teriam pleno apoio das elites e surgiriam naturalmente, sem necessidade de trancarem uma fábrica e incinerarem centenas de mulheres.
Como demonstra Thomas Piketty, o liberalismo econômico agiu apenas a serviço das elites, ampliando as desigualdades sociais e fazendo a manutenção de seus métodos de controle. A sua forma de colocar liberalismo como “leitura” e socialismo como “projeto de sociedade”, você não deve ter percebido, nega absolutamente toda espécie de sociologia possível e historicidade das experiências que fogem do modus operandi capitalista. É muito pelo contrário. O capitalismo já passou por mudanças radicais desde o século XIX, todas por pressão popular dos movimentos sociais de esquerda, e assume hoje uma forma menos cruel, mas ainda plenamente operacional das manipulações do capital. O que isso demonstra é que experiências progressistas destacadas do sistema capitalista serão sempre poderosamente reprimidas pela influência da mídia corporativista e do mercado oligopolista, independente de terem bons resultados sociais internos, enquanto experiências progressistas internas ao capitalismo, enquanto sob apoio popular, acovardam as forças elitistas e conservadoras que manipulam os três poderes do Estado até que sejam então aceitas pelo mesmo como causa humanitária.
André, não sou em quem diz que os maiores avanços humanos em termos de qualidade de vida, liberdade, saúde, educação e direitos individuais ocorreram em democracias liberais. São os fatos. É a História. Ou você aponta um exemplo concreto que me desminta ou comece a rever suas teses.
A primeira onda do feminismo se pautou em direitos sufragistas e contratualistas igualitários entre gêneros. Direitos trabalhistas são por definição contrários à ideologia liberal, pois se defende a liberdade de oferecer qualquer quantia por qualquer trabalho, e se assume que o mercado de livre concorrência consertaria toda espécie de abuso.
Malcolm X, um dos maiores ícones da luta pelos direitos raciais, era socialista, por sua compreensão da estrutura de opressão social sobre a maioria negra nas classes de baixa renda. Martin Luther King também defendia o socialismo, pelo mesmo motivo; não acreditava que o capitalismo fosse capaz de fazer algo pelas comunidades negras.
Os aspectos mais políticos que econômicos dessas duas lutas e a própria luta LGBT, são nitidamente e radicalmente anti-conservadores, o que as empurra longe de qualquer ideologia que compactue com a manutenção de privilégios históricos. É inevitável que se afastar de ideias conservadoras, historicamente opressoras, também os faça se afastar de ideias que compactuem com a manutenção dos elitismos capitalistas. Não é à toa que são os setores socialistas que mais defendem os direitos das minorias, e não os liberais que dizem “apoiamos”, mas se preocupam mais em cortar direitos trabalhistas pela promessa da mão invisível. Isso é ainda mais nítido na luta negra, visto que é muito mais claro que seu maior algoz, a desigualdade social, é produto das manutenções corporativistas, tipicamente liberais.
Os maiores avanços em matéria de liberdade e direitos individuais são esses que coloquei. Liberdades econômicas são liberdades da elite, e portanto não são democratizadas o suficiente para que não se convertam em opressão.
Os maiores avanços tecnológicos e democráticos nas áreas de saúde, e portanto nas de qualidade de vida, são resultado da distribuição pela rede pública de saúde e de pesquisa em universidades públicas ou de financiamento público, e não por empresas privadas.
Os maiores avanços na área de educação teriam que ser necessariamente democráticos e portanto só poderiam ser das escolas públicas, dadas as desigualdades sociais e os preços desproporcionais das escolas privadas, que não serão melhores que as públicas em questão de “avanços humanos” se não tiverem seu acesso democratizado.
Desmentido por exemplos o suficiente?
Todos os problemas colocados aqui são dilemas padrão das democracias modernas, que se debatem entre ideologias e pressões dos setores privados e financeiros, que vão sempre de encontro com o interesse público a partir da lógica de lucro, pois não é suficiente para esses setores satisfazer a demanda consumidora tirando o máximo de mais valia, é preciso também explorar ao máximo o poder dos contratos e da chantagem econômica.
Pare de espernear e compreenda o que está em discussão: tudo que você descreveu como conquistas decorrentes de lutas “da esquerda” está certo, mas isto só ocorreu dentro de democracias libeirais. Este é o ponto. O único sistema conhecido que abriga o direito de lutar por mudanças e a conquista paulatina de direitos é a democracia liberal. Não há exemplo conhecido que me desminta. Outro ponto é quando diz que “Os maiores avanços tecnológicos nas áreas de saúde, e portanto nas de qualidade de vida, são resultado de pesquisa em universidades públicas ou de financiamento público, e não por empresas privadas”. Isto é simplesmente falso. As maiores e melhores universidades do mundo, responsáveis pela maioria das descobertas científicas em todas as áreas, são privadas. Mas mesmo que fossem públicas, existem dentro de uma democracia liberal que as viabiliza. Seu erro não é incomum, como pode ser visto aqui: http://wp.me/p4alqY-3n
Você não consegue mesmo dissociar as pressões de seus contextos, né, Paulo?
Você realmente acredita que nenhuma esquerda pode ser democrática? A sua justificativa pra isso é realmente que você acha que, se Marx defendia uma estratégia autoritária, ninguém pode reaproveitar parte de suas ideias sem também ser autoritário?
Você realmente não consegue perceber a imbecilidade dessa falácia, Paulo?
A propriedade privada dos meios de produção nunca foi pré-requisito para democracia. O liberalismo corporativista muito menos. Democracia consiste de participação popular. É só isso, caso você não saiba.
André, o liberalismo de Adam Smith e Locke é a origem e a espinha dorsal da democracia que conhecemos, que vivenciamos. A liberdade individual e o direito de propriedade estruturaram esta democracia que abrigou todas as conquistas que você descreveu. Se não confia em mim, confie numa colega de esquerda. Leia o artigo que sugeri acima QUANDO A ESQUERDA É QUASE DIREITA http://wp.me/p4alqY-jz
Não adianta muito abrigá-las, mas reprimi-las por décadas. De novo, você não demonstra ter noção do que é pressão e do que é contexto. Segundo a sua lógica, até o comunismo é de direita, por tanto Marx quanto Engels terem sido burgueses e por terem oferecido sua base ideológica “dentro de democracias liberais”.
“Ah, mas tem que ser democrático pra ser liberal”
Então me desculpa, meu amigo, mas aí nem o liberalismo vai ser liberal, visto que, de novo, todo o processo liberal contribuiu para a ampliação das desigualdades e injustiças sociais, para a compra dos três poderes do Estado pelos oligopólios financeiros e para o financiamento das guerras motivadas pelo preço do petróleo.
Nada democrático.
André, ou você finge não entender ou está realmente perdido entre os conceitos que não domina. O que afirmo é que a democracia liberal é a melhor solução conhecida para gestão de sociedades complexas e solução pacífica de conflitos, embora ocorram conflitos e muitos deles violentos. Também afirmo que tais democracias só ocorreram sob capitalismo. Tudo que você descreveu como lutas por direitos, como denúncia de exploração etc ocorreu dentro de democracias liberais e conseguiu mudá-la, melhorá-la. Esta é a beleza da coisa. As experiências de governos de inspiração marxista terminaram todos em totalitarismos. Estes são os fatos comprováveis.
Gestão de sociedades complexas… como a gestão do transporte público corporativista, a gestão da educação e da saúde sucateadas por influência de lobbies, a gestão da dívida pública massacrante do oligopólio banqueiro e nunca auditada. Liberdade econômica permite e estimula o predatismo no mercado, por que a lógica de lucro só atende demanda… enquanto dá lucro. Lógica de lucro não pode atingir as esferas de interesse público – o meu problema não é nem com a propriedade privada do que é por mero consumismo.
Solução pacífica de conflitos… como no oriente médio, onde a ação dos oligopólios petrolíferos estimula o imperialismo estadunidense, ou ainda na realidade racial brasileira, onde é a própria desigualdade social criada pela crescente concentração de renda, causada pela liberdade de mercado, que estimula conflitos sangrentos entre a polícia e a esfera marginalizada.
Tudo o que descrevi como lutas por direitos aconteceu apesar da manutenção dos valores conservadores pela mídia corporativista e apesar da exploração da classe trabalhadora pelo capital gerador de capital. Não é muito revelador dizer que aconteceram durante ou dentro do capitalismo predatório, se não forem mérito do próprio. Aqui a ideologia meritocrática não é tão conveniente para os liberalistas.
As suas últimas observações só demonstram o que eu já havia dito,
– que as experiências de esquerda destacadas do capitalismo são poderosamente reprimidas pela mídia corporativista estimuladora de guerras civis (ou de Estados totalitários como resposta) e por sanções econômicas massacrantes;
– e que as experiências de esquerda internas ao capitalismo acovardam as forças corporativistas e conservadoras, que manipulam os três poderes do Estado, até que ganhem seus direitos pela política, como vitória histórica, ou pelo mercado, incorporando-se à lógica de lucro, o que também é uma vitória dado o contexto capitalista, mas por mérito próprio da mobilização social que veio a criar o novo público, não por mérito do capital que só atende a demanda enquanto houver lucro.
André, saia da caixinha estreita em que você está. Há experiências virtuosas de democracias liberais. Várias, como Austrália, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Alemanha, Finlândia e Canadá. Mas não há nenhuma experiência virtuosa de esquerda. O homem é bélico. Facilmente vemos aflorar a besta-fera atávica. A civilização ocidental e a democracia liberal vêm construíndo uma fina camada de verniz que tenta conter esta selvageria. Ser civilizado é isto, ser tocado de forma positiva por este verniz civilizatório. O que era aceitável na Guerra do Vietnã, por exemplo, já não é aceitável hoje. Há sim absurdos, mas há espaço para protestos, há espaço para votar em novas posições e ideias. Você, neste último comentário, apenas enumerou estereótipos. A vida é escolha. Eu defendo um sistema em que você pode discordar frontalmente de mim. Pode lutar para realizar suas ideias. Tem o direito constitucional de lutar por novos direitos. Se você discorda de mim, a lógica diz que defende um solução totalitária em que eu estaria preso ou seria fuzilado. Foi assim nas experiências concretas de substituição das democrcias liberais, seja à direita com o fascismo e o nazismo, seja à esquerda com as várias experiências socialistas.
Parabéns ao autor, excelente artigo.
Obrigado.
A prática comprova a tese do artigo: é preciso elevar a base e não rebaixar o teto.
Pesquisador conclui que mais de 50% dos universitários são analfabetos funcionais
http://goo.gl/iGO7Fb
Excelente artigo. Venho há tempos buscando uma explicação mais formal sobre o assunto e este texto elucidou bastante o que de fato é a meritocracia. Infelizmente, os sindicatos e os setores governistas conseguem com sucesso espalhar inverdades sobre o tema com base nesses “espantalhos da direita” citados pelo autor.
Obrigado.
Achei muito instrutivo o debate de vcs, a muito nao lia sobre um assunto q me chamasse tanta atenção.. estou buscando entender mais sobre meritrocacia pq acredito q seria um meio mais justo de se viver… compreendem? Depende do q vc busca. Qualquer individuo q queira adquirir conhecimento está propricio a ter uma visao de mundo ampla e individualizada. Sendo assim, ha igualdade para aqueles q se dedicam, q buscam e nao se conformam apenas c o q lhes é oferecido. Só pela boa vontade eles já se encontram em um patamar de igualdade.. q os difere daqueles q precisam ser impulsionados ou insentivados de alguma maneira. Devemos observar mais o individuo do q seu ambiente..O individuo q nao busca nao é merecedor, seja de qual classe for… e ele nao percebe q o seu meio poderia ser melhor se ele se esforçasse mais… ele se conforma em permanecer onde está…isto lhe basta.. enquanto q aquele q busca nao se contenta c o q lhe é comodo. Obrigada a todos! Desculpem a simplicidade nas palavras e a falta de embasamento. Lembrem-se q o trabalho dignifica o homem.
Obrigado pela participação.
Sou contra a meritocracia e fecho com os comentários de Carol. Quando fizemos o programa sobre Galeano nós apontamos os méritos dele, e para a criação de um novo conhecimento o mérito deve ser verificado, mas ele sempre tem seu limite, ele vivia em um tempo de perseguição política. Dentro das empresas a meritocracia aumenta a intesidade do trabalho e favorece o empresário. Motiva o aumento da exploração do trabalhador. Neste mesmo programa nós comentamos sobre um notícia acerca da friboy, a meritotocracia leva a isso que conversamos sobre a reportagem no programa. O pagamento de horas extras não seria um exemplo de meritocracia? Pois quem trabalha mais que as horas que a lei manda, recebe mais. Mas tem menos tempo de lazer e tem menos saúde. Todo mérito tem seus limites nas condições de existência, e a classe a qual se faz parte limita. Em uma sala de aula, como usar a meritocracia com os alunos, pensando na alimentação desigual de cada estudante? No tempo de trabalho desigual entre cada aluno que além de frequentar os bancos escolares, também trabalha? Mas trata-se sim de uma questão relevante, também a meritocracia. Na transição do escravismo ao capitalismo, a meritocracia no Exército brasileiro, foi um avanço, por exemplo. Em alguma medida a meritocracia significou a sua profissionalização e um enfrentamento ao colonialismo lusitano nas nossas terras. Hoje em dia, não vejo algo positivo na meritocracia.
Rafael Freitas, você não está sozinho, e de certa maneira isto é um problema. Em uma socidade socialista, a ausência de meritocracia levará ao paulatino desestímulo e queda na produção de riquezas, bens e serviços. Em uma sociedade capitalista, a meritocracia acaba por se impor – ao menos na iniciativa privada. Mesmo em empresas públicas, a mobilidade na carreira tem um componente meritocrático, ou caminhamos para a injustiça absoluta do QI (quem indica), que é um desastre anunciado, como demonstra bem o presente caso do Petrolão.
Como assim, levará, tens bola de cristal? O futuro te aparece como se estivesse na tela de uma TV? Já viveste em um país socialista? E de qual tipo de socialismo falas? Fazer propaganda de meritocracia em uma sociedade desigual é por demais injusto. Alguns estão na corrida há centímetros da vitória e outros nem uniforme do patrocinador possuem para a largada.
Rafael, levará porque esta é a natureza humana. Este experimento já foi testado na União Soviética, Alemanha oriental, Albânia, Vietnã, Camboja, China e Cuba com resultados muito semelhantes. Como a teoria a ser aplicada é a mesma e a natureza humana idem, fico com Albert Einstein: você não conseguirá resultados diferentes repetindo sempre a mesma experiência. As democracias liberais são as experiências de sociedades complexas que lograram atingir os mais altos índices de qualidade de vida para suas populações, mesmo as de menor renda. Isto não é juízo de valor, apenas uma constatação, um fato.
O conservador sempre naturaliza a realidade para que nada mude.
Bruno, penso que uma análise isenta vai permitir observar que as democracias mudaram para melhor e muito nos últimos 100 anos. E continuam mudando. Sou 100% a favor de mudanças, inclusive as defendo no artigo em questão, mas penso, como Platão, que apesar de seus defeitos, é o melhor arranjo criado pelo homem para a gestão de sociedades complexas.
Tua análise não é isenta, Paulo Falcão, ela é liberal e panfletária. Meu amigo pessoal, João Paulo, também defendia o liberalismo, com alguns argumentos repetidos. Acho válido outro ponto de vista. Mesmo entre os liberais não há uma certeza quanto a essa tal natureza humana. Boa, má, fruto unicamente da experiência? A natureza humana na época anterior as invasões europeias no Brasil, é a mesma do período escravista, que é idêntica a de hoje? Ou as condições materiais, as necessidades moldam tal natureza? Será que tal natureza humana não possui história? A dialética não entra nela? Estaria esta natureza humana no vácuo? Como a natureza humana explica o suicídio, o masoquismo, as diferentes formas de sexualidade e a meritocracia? Não vejo as pessoas como tão iguais. Uma mesma pessoa muda dependendo da classe que está inserida, ou com quais classes se relaciona. A natureza humana explica quem faz voto de pobreza e quem pratica corrupção em Brasilia?
Para mim a natureza humana não está livre da história. Esta ciência abocanha também a natureza humana. Olhem que interessante esta citação, abordando a questão da natureza humana:
http://goo.gl/HmgPL7
Rafael, curiosamente o que para você é uma contestação do que afirmo, para mim é confirmação. Seus questionamentos deixam claro o que sempre digo: a natureza humana é plural. Não nego isto em nenhum momento. O que reafirmo em diversas ocasiões é que exatamente por isso mesmo o tão sonhado “comunismo”, a Terra Prometida por Marx para além da ditadura do proletariado, é uma miragem e pertence ao campo da fé e não da ciência.
Seguem alguns trechos de artigos em que trato do pluralismo das pulsões humanas.
“No socialismo não existe pluralidade. Não existe direito de minorias. Não existe sequer direito. Onde ocorreu, vigora a restrição de liberdade em suas diversas formas, do direito de opinião ao direito de ir e vir.
Democracia é, na prática, sinônimo de democracia burguesa, pois é a única que existe, que pode ser estudada, criticada, melhorada. É a baliza, a referência pela qual podemos estabelecer parâmetros de avaliação.” http://wp.me/p4alqY-3n
Ou este:
“Quando a esquerda fala em igualdade, parece uma coisa bacana, mas como nos lembra Barthes e o fascismo da língua, isto significa a eliminação da diferença e, quase sempre, do diferente também.
Quando fala em liberdade, fala em abrir mão da liberdade individual (de empreender, por exemplo) em prol da “liberdade coletiva”, um ente mítico se a liberdade individual foi suprimida.
Quando fala em fraternidade, fala em apoio mútuo entre iguais (de classe e/ou ideologia), mas em guerra sangrenta com os desiguais (qualquer um que não reze por sua cartilha).” http://wp.me/p4alqY-4D
Quanto à citação disponível no link que você enviou serve como crítica ao “capitalismo malvadão” tanto quanto aos sonhos socialistas. O próprio Marx tinha desprezo pelo campesinato e aqueles que ele julgava “atrasados” na formação de uma consciência de classe revolucionária.
Acreditar que existe meritocracia no Exército brasileiro é muita inocência. Nunca foi uma instituição desse tipo e qualquer um que tenha servido ou que tenha uma parente lá dentro sabe disso. Várias atitudes exemplificam isso:
Todos os oficiais-generais (isto é, generais de 2, 3 e 4 estrelas) são escolhidos por si mesmos, ou seja, se aparece uma vaga, os generais que sobraram elaboram uma lista e indicam um nome para o Ministro da Defesa (que não precisa ser militar), que por sua vez é indicado pela Presidência. QI puro.
O sistema de pontuação para promoções de patentes mais baixas (exemplo: 1º sargento -> subtenente) utiliza critérios que não necessariamente condizem com as necessidades de serviço. O caso mais grotesco das 5 Armas é o de Comunicações, em que um Teste de Aptidão Física vale mais do que um curso de graduação ou pós-graduação na área (exemplos: Ciências da Computação, Segurança de Redes, etc). De fato, os cursos não valem n-a-d-a nos critérios de pontuação. Que se fodam os que manjam de informática, queremos franco-atiradores bombados e velozes na frente do PC e do telégrafo.
Militares de carreira que ingressaram no Exército pelo EsFCEx não podem ingressar no Instituto Militar de Engenharia (para mestrado, por exemplo). É ridículo, mas é verdade. Já vi acontecer.
Em suma, As Forças Armadas como um todo são uma das instituições menos meritocráticas do Brasil.
Obrigado pela contribuição. Foi instrutiva.
Discordo com o fato da meritocracia ser favorável a Democracia, de acordo com o que eu entendi no artigo, a meritocracia é favorável para o capitalismo e o grande empreendedor.
Por exemplo, no artigo, você diz que acompanha um supermercado com 420 empregados, e os caixas não ganham nenhuma renumeração á mais pela quantidade de clientes atendidos mas, mesmo se ganhasse, a renumeração não chegaria nem perto do lucro que o dono do supermercado ganha.
Veja bem, o discurso contra a meritocracia não é só usada para “abaixar o teto” por “esquerdistas medíocres”, mas uma tentativa de acabar com a desigualdade social, ou por acaso você acredita que se um dos caixas desse supermercado tivesse uma boa base, renumeração e se esforçasse muito um dia ele seria dono do supermercado? No máximo seria gerente, e isso, seria o “teto”. O grande empresário, pela sua formação, não atende os clientes diretamente, não trabalha 9 horas por dia, 6 dias por semana.
O “teto” que você fala, ao meu ver, não é um patamar desejável para esses grandes empresários, duvido que para qualquer pessoa até, (prepare-se para o clichê) mas o que as pessoas querem é sair da casa, chegar na cobertura, avistar tudo de cima. Para mim o “teto” é posição de proletariado iludido que se acha classe alta, que trabalha pouco e acha que isso se deve ao fato de ter se esforçado. Na verdade isso tem a haver com a mais-valia, onde o trabalho é fragmentado e o lucro desse trabalho não vai para o trabalhador, mas sim pro dono da empresa.
Nessa linha de raciocínio, não acredito em meritocracia, nem naquela que o quadrinho afirma (porque sim, existe diferenças na formação de indivíduos de acordo com o seu poder sócio-econômico) e nem naquela que o artigo afirma como a meritocracia correta porque o lucro do esforço produzido em nossos trabalhos não retorna para nós numa proporção justa.
Simplificando: somos criados em situação diferentes, outros tem privilégios, outros nem tanto; os com privilégios tem tempo de estudar e uma boa qualidade de ensino; os outros muitas vezes precisam trabalhar e estudar e não podem pagar uma boa qualidade de ensino; os com privilégios se formam nas melhores faculdades, na maioria dos casos os outros se formam na que dá; os com privilégios conseguem os melhores empregos e melhores oportunidades para abrir um negocio, os outros, tem mais dificuldade, arranjam um emprego bom e vão vivendo; os com privilégios começam a trabalhar cada vez menos conforme o tempo passa e a ganhar cada vez mais, os que não tiveram as mesmas oportunidades passam a trabalhar mais e a ganhar basicamente o mesmo. Os privilégiados são donos, os outros são empregados.
A meritocracia não existe porque é quase impossível uma mobilidade social de alguém de classe baixa, por exemplo e para uma pessoa da classe média se tornar classe alta é tão difícil quanto pois a desigualdade é imensa.
Não sou contra a meritocracia porque “a tese é bonitinha mas ordinária. É apenas a desculpa perfeita para quem faz o elogio da preguiça, própria e alheia.” mas porque tá mais que na cara que é injusto. Uma sociedade evoluída é aquela em que todos os indivíduos evoluem, não apenas uma parte deles (uma parte “merecedora”), temos que começar nos vendo como uma sociedade, não apenas indivíduos se esforçando para chegar ao teto.
Prezada Carol, sua resposta indica que algumas coisas não ficaram claras. Assim, vou tentar esclarecer.
Evidentemente o mundo não é justo, a vida não é justa. Mas o fato concreto é que nas sociedades meritocráticas a redução das desigualdades ocorre com a elevação da qualidade de vida geral, enquanto nas sociedades não meritocráticas a equalização se dá pela distribuição da escassez, ou seja, os pobres continuam pobres, mas busca-se diminuir o número de ricos.
Os exemplos mais radicalmente meritocráticos estão na Alemanha, Canadá, Finlândia, Noruega e Japão, entre outros.
Os exemplos mais radicais de ausência de meritocracia são Cuba, Coreia do Norte e os falecidos países socialistas.
De certa maneira a meritocracia é uma competição da pessoa consigo mesma. Uma sociedade meritocrática é aquela que estimula cada um a ser o melhor que puder, a aproveitar ao máximo cada oportunidade que tem. Uma sociedade assim certamente produzirá resultados melhores que uma sociedade não meritocrática, tanto do ponto de vista econômico como social.
Onde todos se esforçam, nem todos chegarão ao mesmo lugar, mas cada um terá melhoras em relação a si mesmo.
Quanto à questão do supermercado, como em qualquer empresa, há pessoas que se destacam, sobem na hierarquia e, sim, deixam a empresa para montarem seu próprio negócio. No exemplo que citei, já vi dezenas de casos de ascensão profissional e 4 de pessoas que saíram para montar o próprio negócio.
Outro ponto importante: você diz que, na questão do supermercado, “os caixas não ganham nenhuma renumeração à mais pela quantidade de clientes atendidos mas, mesmo se ganhasse, a renumeração não chegaria nem perto do lucro que o dono do supermercado ganha”. Segundo este raciocínio, a pessoa que trabalha melhor, na mesma função, não merece ganhar mais porque seu esforço está beneficiando mais ao patrão que a ela mesma. Bem, veja que ela poderia ganhar mais e beneficiar-se de seu esforço, mas você censura esta postura. Prefere a lei do mínimo esforço em que todo mundo trabalha pouco e mal, como uma espécie de vingança contra o empregador. Não é um bom caminho. Quem não trabalha bem acaba sendo substituído por outra pessoa disposta a ser eficiente.
Aproveite cada oportunidade que surgir para você. Dedique-se. Dê seu máximo. Leia mais, estude mais, mesmo que aqui na internet, mesmo que não seja em uma escola formal. Estude quem concorda e quem discorda de sua concepção de mundo. Fazendo isso, o conceito de meritocracia ficará bem mais claro para você e, possivelmente, lhe dará novas perspectivas.
Obrigada por responder meu argumento, mas receio que algumas coisas não tenham ficado muito claras também.
Acredito que nesses estados que você usou como exemplo, a meritocracia realmente pode fazer algum sentido porque as condições de base são mais igualitárias, (eu não tenho muita certeza, mas alguns deles as escolas, por exemplo, são de responsabilidade do estado), e são muito bem executadas, alguns pelo fato de terem centenas de anos de evolução e outros simplesmente por planejamento (não vou me prolongar aqui por não estar inteiramente por dentro desse assunto) mas isso não quer disser que não exista divisão de classes lá ou que não exista pobreza. No Brasil, as coisas são meio se não totalmente diferentes, a começar pelo fato de que o nosso pais, assim como Cuba, foi colonizado e a nossa revolução nada mais foi que um trato e a nossa constituição já foi mudada várias vezes, ou seja, somos um pais muito novo e o pior ainda sem planejamento nenhum.
A questão da meritocracia que você aborda vai além de uma competição consigo mesmo, muitas pessoas desistem de seus planos de carreira não porque não fizeram o melhor que podiam ou foram preguiçosas, muitas pessoas não tiveram escolha, tiveram que largar os estudos para trabalhar e ajudar em casa, ou tiveram que lidar com outros tipos de responsabilidades e prioridade desde muito jovens, coisas que alguém de família abastada não precisa se preocupar.
Não estou falando que as pessoas não devem dar o melhor que podem só porque não foram privilégiadas de jeito nenhum, mas existe diferença sim e é muito grande. Eu conheço gente que nunca pensou em fazer faculdade porque sabe que não tem dinheiro pra pagar uma, o pior é que essa mesma pessoa não sabia que aqui no Brasil exista a USP, que é publica e de graça, e essa pessoa não era preguiçosa, muito pelo contrario, as vezes trabalha todos os dias da semana sem descanso e dá o melhor de si sempre, ela não me parece menos merecedora de uma boa qualidade de vida que ninguém mas quem ganha com todo esse esforço não é ela, a questão é que as pessoas são exploradas.
Em questão ao exemplo do supermercado, eu não mencionei em lugar algum que os empregados não deveriam ganhar comissão, ao contrário, deveriam receber uma comissão e um salário mais justo. Eu apoio com todas as forças o pequeno empresário, eu não concordo com o modo de exploração das grandes marcas e empresas (ainda mais depois da terceirização). Mas analisando um pouco, 4 pessoas de 420, não é nem 4% do total de empregados que deixaram de depender de terceiros para uma ascensão econômica, se a meritocracia fosse tão eficaz, seriam mais de 4%, seriam mais até que 50%, seria uma regra não uma exceção.
E a proposito, pode deixar que eu desde de pequena me agarro com unhas e dentes a toda boa oportunidade que eu tenho. Eu saio todo dia de casa cedo e volto tarde da noite estudando o dia inteiro, trabalho todo final de semana pra pagar a minha passagem que me levam pros cursos, cursinhos e afins. Só moro com a minha mãe e raramente vejo ela porque ela trabalha o dia inteiro também. Conheço gente que com menos da metade da minha idade tem mais chances de entrar na faculdade na área que eu quero atuar porque teve educação de qualidade, acesso a cultura, e dinheiro da família pra bancar despeças sem preocupação.
Realmente, o mundo não é justo, a vida não é justa, mas eu não vou ficar parada aceitando o fato de que simplesmente nasci sem sorte, e de que para poder sequer me igualar a um estudante de classe alta eu precise que sacrificar tanto, me matar tanto. Eu não desejo isso pra ninguém, eu quero oportunidades iguais para todos, eu não vou aceitar que o mundo é injusto, eu quero justiça e igualdade! Me admira que uma pessoas que discuta questões políticas num blog tenha falado algo tão pequeno.
Espero que o meu relato tenha lhe dado novas perspectivas.
Carol, admiro seu esforço. Parabéns. Você certamente irá além de pessoas que tiveram as mesmas oportunidades mas não as aproveitou. Isto é a meritocracia em funcionamento, quer você concorde com ela ou não.
Quanto ao número de pessoas que deixou a condição de funcionários para abrir o próprio negócio, acredite, 4% é um excelente número em qualquer país do mundo.
Não vou ficar demonstrando aqui que estou certo, que você não entendeu isto ou aquilo. O que me importa é seu interesse, seu apetite.
Quero apenas salientar uma questão e deixar para você uma sugestão de leitura.
O ponto a salientar é que eu e o artigo reconhecemos a necessidade de diminuir as desigualdades, principalmente na partida, o que significa, por exemplo, oferecer condições de saúde e educação adequadas para todos, principalmente as crianças. É uma luta justa e que vale à pena, mas não se faz isto rebaixando o grau de exigência ou punindo quem nasceu em melhores condições. A diferença deve ser diminuída elevando a qualidade do que é oferecido para quem é menos favorecido e está em posição desvantajosa.
A sugestão de leitura é um artigo curto em que talvez fique clara a origem das ideias que regem seu pensamento. Mas deixo claro: não precisa confiar em mim ou no que indico. Basta que leia com isenção, sem preconceitos. Persiga a lógica, persiga o sentido das palavras. Segue o artigo: EDUARDO GALEANO, AS VEIAS E O CORAÇÃO ABERTOS.
Estou vindo do outro post, tenho alguns pontos que gostaria de argumentar sobre este. O sistema capitalista não é meritocrático, uma analise dos 1% mais ricos da população já desmancha essa hipótese, já que seus rendimentos ficam até 1000% acima do nível de renda médio. Mesmo que fossemos argumentar que as pessoas são diferentes ou se esforçaram para isso. Os stakanovistas russos conhecidos por superarem metas de produção tinham como seu máximo uma produtividade que chegava a 10 vezes do rendimento médio do trabalhador, mesmo que fosse esforço 1000% teria de ser um esforço cavalar. E pior, por que essa diferença não se verifica em todo sistema mas somente nas posições mais altas do capitalismo, então fica claro que eles se apropriam do trabalho dos outros. É uma sem-vergonhice dizer que o sistema capitalista e meritocrático. O máximo que podemos querer num sistema capitalista e que tenhamos salários mais justos.
Cássio, não há dúvidas que as pessoas mais ricas têm um ponto de partida mais vantajoso, mas todas as soluções contra isso são, principalmente, um misto de inveja com desejo de vingança.
Como digo no artigo, é preciso equalizar as condições “de partida” de todos, mas fazer isto só é realmente desejável pela elevação da base. Fazer isto pelo rebaixamento do teto é burrice e traz sérios problemas.
Como lhe disse em outro artigo, vários países encontraram boas soluções para esta questão sem precisar abolir o capitalismo ou a democracia liberal, entre eles Noruega, Finlândia, Suécia, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e até mesmo a Alemanha.
Mas há ainda um ponto muito importante: sociedades meritocráticas não são aquelas em que todos têm as mesmas oportunidades e o melhor vence. Ninguém sério diz uma bobagem destas. O que as sociedades meritocráticas fazem é estimular as pessoas a desenvolverem ao máximo seu próprio potencial, estimular cada um a ser o melhor possível. O referencial é o indivíduo e a competição é com ele mesmo.
Agora pense: uma sociedade que estimule todos a realizar o máximo de seu potencial certamente atingirá resultados gerais muito superiores que uma sociedade que padroniza o desenvolvimento pela lei do mínimo esforço, que insiste no rebaixamento do teto e não na elevação da base.
Espero que tenha ficado claro.
Concordo que a esquerda cria espantalhos ridículos do conceito de meritocracia, mas achei o texto de vocês um pouco fraco e não chegou no âmago da questão.
Não se trata nem mesmo de dar oportunidades iguais. Nem quando você dá educação, saúde, saneamento, etc. para toda a população, você NÃO consegue ter igualdade de oportunidades. Igualdade de oportunidades é uma ilusão tanto quanto a igualdade de resultados.
A questão é que as pessoas são movidas por estímulos. Dê uma recompensa maior se as pessoas alcançarem um resultado melhor e vice-versa, sendo que o critério para definir quais resultados são melhores é o quanto as pessoas conseguem atender às demandas de outras pessoas. E isso, a economia de mercado consegue fazer melhor que qualquer outro sistema. Mas lembrando que a pessoa que melhor atende às demandas das outras NÃO é necessariamente a que mais se esforça.
Mas também não se trata de comparar uma pessoa com outra pessoa. Por exemplo, comparar uma pessoa que nasceu na favela com outra que nasceu em berço de ouro. É óbvio que aquela que nasceu em berço de ouro tende a se sair melhor. Trata-se de comparar uma pessoa com ela mesma, ou seja, se você se esforçar, vai se sair melhor na vida do que se você não se esforçar e isso te estimula a se esforçar.
Bruno Peitl, é por ai. Cada um deve se esforçar para atingir o máximo de seu potencial. Uma sociedade em que a maioria siga este princípio será sempre melhor que uma sociedade que faça o oposto.
Tenho uma página no Facebook, chama-se Portal Centrismo. Posso repostar?
Claro, fique à vontade.
Interessante para um contraponto. Porém, vocês estão extremistas demais, uma boa análise, sobre qualquer coisa, indica seus lados ruins e seus lados bons. E mesmo no lado bom vocês não indicaram com veemência as questões positivas do meritocracismo, mas sim algo bem vago e mais um alicerce de críticas.
A cota racial é de fato sim estatística, tal como essa é exatamente a sua função. Este não é um programa para a melhoria da qualidade do ensino ou seu aperfeiçoamento, é um programa de inclusão e ascensão social visto a grande variabilidade de pessoas que não possuem muitos acessos adentrar uma faculdade e terem uma chance de estudar em uma faculdade publica sem ter que pagar uma privada, facilitando a sua vida. É mais ou menos um bandaid que o governo criou, um remédio e não uma prevenção infelizmente. A causa em si é muito mais profunda e aborda tambem muitos outras razões que vão além da social, como etnicas, religiosas.
Porém a grande questão do benefício da meritocracia, que vocês citaram dando o exemplo dos professores (que é um péssimo exemplo, por sinal, ja que tal medida já é o que acontece hoje, aonde professores passam e empurram péssimos alunos para a escola receber uma verba melhor) , é exatamente o problema dela.
O seu debate deveria ser muito mais sobre produtividade e meritocracia do que a meritocracia em si.
A produtividade e a meritocracia é e sempre será pequena, objetiva e inovadora, ou seja, ela sempre será uma porcentagem muito baixa de um grupo de pessoas que conseguiram, basicamente, ser melhor do que as outras.
Porém aí esta o problema, este não é o padrão. A grande questão da meritocracia é que ela nivela por cima, e toda vez que voce faz isso, voce cria uma classe e portanto uma divisão e uma desigualdade. Por outro lado, ela é muito positiva pois melhora a produtividade.
E aí percebemos que estamos falando tambem, de laranjas e maças, pois há uma grande diferença entre produtividade e inovação\melhoria de qualidade, nem sempre as duas andam juntas. Posso criar uma máquina que irá retirar o trabalho de 30 trabalhadores, tal como posso criar uma máquina que vá a plutão ou uma cura. São duas coisas bem diferentes
O problema é que o padrão é a maioria, e aí esta o alicerce do grande problema da meritocracia em si, ela não sustentável. É basicamente a história do mundo de hoje que vivemos, aonde temos um grupo de pequenas minorias, que justamente trazem esse aumento da produtividade exponecial as custas também de uma grande desigualdade. O modelo de sucesso sempre sera de quem é o maior produtor será o mais “eficaz”, a produção sempre tem que ser exponencial e caótica.
Dito isto, é importante ter políticas de gerência e administração dessa produtividade, que caberia ao governo, mas sabemos que os governos falham miseravelmente nisso, sejam de esquerda, direita, ou a maioria, dos dois.
Isso que não chegamos nem ainda a questão dialética do meritocracismo.
A grande questão é que há pessoas que são melhores que as outras e ponto final, pessoas que se diferenciam do bando e fazem a diferença, tal como também pessoas que trabalham exatamente com o que querem, diferente da grande maioria. Porém, isso não é algo surpreedente, para a nossa população isso é natural. Porém o grande problema esta em como tratar essas pessoas, e como estabelecer as estruturas da sociedade a partir delas.
A meritocracia em si não deveria ser um problema, pode ser positiva, pois ajuda a inovação. Mas no nosso mundo ela é extremamente negativa e insustentável, pois é tratada pela lógica da produtividade. Enquanto continuarmos a criar mais pedestais e mais barreiras, não vamos evoluir nunca. Sempre será uma competição e a batalha dos mais fortes.
E se você pensa que isso é natural e normal, é aí que nos diferenciamos. Pois por esta lógica não somos nem um pouco mais evoluídos que o cachorro da rua ou a zebra na Africa.
Deveríamos ser os únicos a entender e criar a nossa sociedade igual tanto para os mais fortes quanto para os mais fracos, tanto para o melhor quanto para o ruim. Mas infelizmente não é o que acontece… e a meritocracia é somente mais um combústivel para isso.
Caio, o princípio básico e fundamental da meritocracia é: seja 100% esforçado, aproveite cada oportunidade que tem ao máximo. Uma sociedade em que todos valorizam o esforço leva uma grande vantagem sobre outra que defende a mediocridade.
Quando você diz que “A cota racial é de fato sim estatística, tal como essa é exatamente a sua função. Este não é um programa para a melhoria da qualidade do ensino ou seu aperfeiçoamento, é um programa de inclusão e ascensão social visto a grande variabilidade de pessoas que não possuem muitos acessos adentrar uma faculdade e terem uma chance de estudar em uma faculdade publica sem ter que pagar uma privada, facilitando a sua vida”
está na verdade dizendo que a realidade é irrelevante, o que interessa é a ilusão, o “me engana que eu gosto”.
Quando salienta que o exemplo dos professores é péssimo, fiquei com a nítida impressão que não entendeu o que leu.
A impressão aumenta com o restante de sua argumentação, principalmente a parte final. Recomendo que leia mais atentamente o artigo e se informe sobre as diferenças de resultados entre promover a igualdade na partida (“a fair go”, como se diz na Austrália – origem da História em quadrinhos) e na chegada.
Em 1978 ainda existia a cortina de ferro e a União Soviética. Ainda eram um mito e um modelo para a esquerda. Esta resposta de Milton Friedman em uma palestra é deste período e traz contribuições interessantes para este debate sobre meritocracia, desigualdade e oportunidades: https://goo.gl/I8vjRu
Obrigado. Muito boa sua contribuição.
O pior mentiroso é aquele que mente para si mesmo. Os reaças estão vendo que não é possível usar a meritocracia (pois é uma mentira flagrante), logo inventam desculpas… É o blog mais irrelevante do mundo.
Ricardo, comentários assim dizem mais sobre você do que sobre o objeto criticado.
A total ausência de argumentos, a incapacidade de apontar um erro ou inconsistência afloram desta crítica preguiçosa baseada em adjetivos.
Se você tiver argumentos para sustentar suas opiniões, terei o maior prazer em publicá-los, mas já deixo avisado que novos comentários preguiçosos como o seu não serão publicados. É uma questão de respeito aos leitores que buscam um debate de ideias sério e consistente.
Lembrei-me imediatamente deste texto:
http://www.libertarianismo.org/index.php/artigos/meritocracia/
Creio que seja um complemento ao seu.
Erico, obrigado pela contribuição. Acredito que de todo o artigo que você sugeriu, o ponto central é o conceito de Hayek de que uma sociedade que visasse à igualdade ou alguma noção de “justiça social” relacionada a isso, acabaria por se tornar uma sociedade menos livre e no limite (dependendo da obsessão por esse objetivo), uma sociedade totalitária.
Me parece que o conceito que citei do Eduardo Gianetti tem esta mesma preocupação quando faz a distinção entre a promoção da igualdade na partida (libertadora) e na chagada (autoritária, totalitária).
Existem exemplos de “equalização social” bem-sucedida em sociedades livres, como a Noruega e o Canadá. Particularmente, penso que sejam bons modelos a serem estudados e mimetizados.
A democracia direta, defendida por muitos filiados de partidos ditos “de esquerda”, como PT, PSOL, PSTU, está em cheque, com a votação da Diminuição da Maioridade Penal. Segundo li, 90% da população brasileira é a favor da diminuição, mas estes mesmos partidos são contra. Os deputados dos partidos defensores da democracia direta, se fossem coerentes, deveriam votar de acordo com a vontade da maioria da população, mas não é o que vai acontecer… Pessoalmente sou contra a diminuição nos termos em que está sendo proposta, só estou tentando mostrar, o problema que é a tal da democracia direta!
Fernando, seu comentário ficou um tanto pedido aqui. Sobre Democracia Direta, temos outros artigos. Um deles é este:
DEMOCRACIA DIRETA:BOA INTENÇÃO LIBERTÁRIA OU LIBERTICIDA?
http://goo.gl/guJjPy
Sobre a redução da maioridade penal, veja A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL E A IDADE DA BALA que pode ser lido aqui: http://goo.gl/shRFm9
Esse é o mesmo tipo de absurdo que eu vejo que a autora do texto comete.
Romantiza a palavra.
Isso ai não é democracia direta meus caros.
Recomendo a leitura desse link par entenderem o que é democracia, o que é democracia direta e o que é essa tal de democracia representativa que é o que temos hoje que não é democracia e sim uma oligarquia.
http://educacao.globo.com/sociologia/assunto/organizacao-social/democracia-direta-indireta-e-representativa.html
Fabio BT, nós já discutimos isso. O link que você indicou é de uma matéria escrita por alguém de esquerda e que é favorável à tese da democracia direta. Ok. No entanto, isto não muda o fato de que não existem exemplos concretos de democracia direta. Nem o fato de que as tentativas conhecidas tinham viés autoritário.
Há quem defenda a tese de que a Suécia seria uma democracia direta, mas na verdade eles têm um sistema de democracia representativa que se utiliza de referendos e plebicitos em temas mais sensíveis, possibilidade que aliás já está prevista na constituição brasileira.
Quem procurar abaixo vai encontrar tanto o link para as propostas de vocês quanto minhas considerações sobre a fragilidade delas.
Se tiver tempo, dê uma lida no artigo DEMÉTRIO MAGNOLI NO PAÍS DA DELICADEZA PERDIDA ( http://wp.me/p4alqY-eG ) e veja o programa Roda Viva que está indicado lá.
Acredito que algumas bases teóricas indicadas ali poderão ajudar você a compreender que está fazendo uma simplificação grosseira dos temas que abordou.
Acho justo. Ex. Um lixeiro q cata por mes todo o lixo q e de sua incumbencia ser retirado deve com certeza ganha um salario mais alto do q um medico que digamos deixa a desjar para atender o publico, atendendendo poucos pacientes ou atendendo os mal ou simplesmente passando sua responsabilidade para com o paciente para outro.
Mila, é bacana a pessoa ser indignada com injustiças e desigualdades, mas é péssimo se ela transforma isto em ações maniqueístas. Pior ainda quando não compreende a lógica por trás do próprio discurso. No exemplo que você dá, sobra indignação e falta compreensão mínima de como são definidas remunerações. Funciona como ironia? Talvez. Mas é só.
O que temos é uma oligarquia já ouviu essa palavra?
Já, Fábio, já ouvi. E como respondi a pouco, o que você propõe também tem nome, chama-se aristocracia.
Você é prisioneiro de uma utopia. Felizmente, sua utopia não oferece riscos à boa e velha democracia representativa, ao contrário das utopias tradicionais da esquerda, porque terá sempre menos apoio junto aos excluídos. Caso um dia não haja mais excluídos, sua utopia será naturalmente desnecessária. Já expliquei isto melhor em outra resposta abaixo.
1. Senti falta de referências aos liberais clássicos, que foram os que propuseram a substituição da aristocracia pela meritocracia.
2. “Quem defende a Meritocracia não diz que, desde que ambas se esforcem, a criança classe média e a que nasce na favela têm a mesma chance de sucesso. Isto é uma estupidez criada pela esquerda.”
Isso é meio verdade. Tem realmente gente que defende meritocracia dizendo que: (a) todo mundo tem condições iguais, que é só se esforçar; ou (b) que condições iguais são impossíveis, uma vez que todos nascem diferentes. Esses são os libertarianos. É um corporatismo travestido de liberalismo. A meia verdade é que a esquerda brasileira se aproveita dessa falácia para denegrir a meritocracia, como vc apontou no teu texto. Pq? Pq essa esquerda é um corporativismo travestido de socialismo, e o reconhecimento das diferenças individuais de performance divide a base dos movimentos sindicais. Mas as esquerdas na anglosfera não têm esse discurso. Na Austrália o que eles defendem é que todos tenham “a fair go”.
3. De fato, sem equidade, não é meritocracia; é marmelada. Quem diz isso são os liberais, desde Adam Smith. Eu concordo, pq sou liberal. Pelo visto vc tb é (só precisa ancorar tua opinião em si mesma, e não em contraposição à esquerda, i.e. não ser meramente sua imagem invertida no espelho).
Boas observações. Faço duas ressalvas.
A primeira é que não nego que existam pessoas à direita que defendem a meritocracia de forma obtusa, mas sim afirmo que estas pessoas são irrelevantes como formadores de opinião, como intelectuais e como interlocutores.
Em segundo, costumo apresentar o contra-ponto com a esquerda para desnudar o hábito que a maioria dos esquerdistas contemporâneos tem de mentir, de falsear a verdade para justificar suas teses. Ou por outra: meu ponto de vista fica mais claro quando explicita as falácias de quem se opõe a ele.
O problema é com o uso do mito da meritocracia contra a taxação que sirva para financiar um campo de oportunidades mais igualitárias ou o provimento do básico para todos independentemente da capacidade individual de ganhar renda no mercado, coisa que é determinada por genética e status social por nascimento. E o uso da meritocracia dessa forma não é nem de longe incomum. Eu já disse antes e repito que as instituições de John Rawls solucionam a questão ao admitirem que a igualdade de oportunidades é algo impossível e que a sociedade ganha quando todos fazem o seu melhor e se utilizem de seus potenciais e ao mesmo tempo afirmar que todos devem ter direito ao um pedaço da economia e a uma chance razoável de serem o que quiserem ser ou o máximo de oportunidades possível para que a sociedade seja justa.
Sobre as outras coisas citadas, a política de cotas certamente não é a solução para o déficit social brasileiro, mas há argumentos a favor. Para mim o melhor argumento ultimamente é o de que a universidade é pública, eu até sou a favor da privatização das nossas faculdades públicas, mas na impossibilidade disso, o uso de cotas para melhorar o acesso da população mais pobre é o mínimo a se fazer para diminuir a regressividade de um gasto público que permanece altamente regressivo.
Sobre sindicatos, é uma séria simplificação a que você faz e uma com não muito respaldo na realidade. Na realidade os sindicatos tem sido uma grande fonte de aumento salarial e não apenas equalização por razões óbvias, um indivíduo não tem poder nenhum frente a uma empresa, já um sindicato possui. Não é por nada que a diminuição dos membros dos sindicatos em países como os EUA foi acompanhado pela estagnação salarial dos trabalhadores.
Ferraro, sua resposta indica que temos opiniões com mais pontos em comum do que divergentes sobre o assunto. O que você aponta no primeiro parágrafo está em consonância com a visão do artigo.
Quanto à questão das cotas, meu ponto é que se trata de uma “redução” falsa das desigualdades na medida em que não elevou a qualificação da base, mas sim rebaixou o teto. Pode haver resultados positivos para quem foi beneficiado diretamente? Sim, mas não contradiz a crítica.
Quanto aos sindicatos, não nego que possam ser úteis na conquista de direitos, mas reafirmo que agem contra a meritocracia. Os dois casos que cito são exemplos concretos do que afirmo.
Bom ja que parou de discutir a ideia e resolver analisar as pessoas. Tomei liberdade de julgar você.
Vejo você com seu texto muito mais ingenua do que o nosso projeto.
Você romantiza a palavra ao invês de ver ela pelo seu significado. Não consegue compreender o que é democracia, nem aristocracia, nem meritocracia.
Nosso projeto é de democracia ao pé da letra. Sim sabemos que há analfabetos e por algum acado ele tem poder por outro sistema? Ou seja é tão meritobobo que não considera um analfabeto um ser inferior?
Nosso projeto preve que todos possam se representar. Isso é democracia. O sistema de hoje é um sistema meritocratico ridiculo. É tão ridiculo quão a metodologia usado por esses mesmos que defendem a meritobobocracia, provas que testam o quão você decorou ao inves do que você entendeu.
Em fim sugiro você a romantizar menos as palavras pq daqui a pouco vira pastor de igreja….
Só falta dizer que deus escreveu que meritocracia é a melhor coisa do mundo….
Fábio, a diferença fundamental entre nós é que eu entendi o que você escreveu e você não entendeu o que escrevi.
Isto não quer dizer que você seja burro ou despreparado, mas indica que é prisioneiro de uma utopia. Felizmente, sua utopia não oferece riscos à boa e velha democracia representativa, ao contrário das utopias tradicionais da esquerda, porque terá sempre menos apoio junto aos excluídos. Caso um dia não haja mais excluídos, sua utopia será naturalmente desnecessária.
Quanto à meritocracia ser “a melhor coisa do mundo” Platão chegou à conclusão semelhante quando idealizou o governo dos sábios. Depois, reviu a tese e, sem renegar a importância do mérito, mas diante da evidência de que nenhuma forma de governo se realiza plenamente, seria a democracia o sistema em que o conjunto das pessoas teria mais vantagem em viver. Ou, como sintetizou Churchill de forma irônica: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.
Fábio, embora o contexto seja diferente, o texto abaixo é bem interessante para reduzir os danos destas ideias que você defende:
Bill Gates foi convidado por uma escola secundária para uma palestra. Chegou de helicóptero, tirou o papel do bolso onde havia escrito onze itens. Leu tudo em menos de 5 minutos, foi aplaudido por mais de 10 minutos sem parar, agradeceu e foi embora em seu helicóptero. O que estava escrito é muito interessante, leiam:
1. A vida não é fácil — acostume-se com isso.
2. O mundo não está preocupado com a sua autoestima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo.
3. Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.
4. Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
5. Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade.
6. Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.
7. Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
8. Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido… RUA!!! Faça certo da primeira vez!
9. A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
10. Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.
11. Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas). Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.
O assunto sobre Meritocracia é bem mais complexo do que parece. Não existe o lado do eu concordo ou discordo. Deve-se analizar as entrelinhas: O que torna Paula inferior por estar do outro lado da bandeja? De fato no quadrinho em questão a grana que Richard ganha por portar um canudo de formação.
Bora la então para utopia de todos com as mesmas oportunidades. A bandeja é de quem?
Sera mesmo que a questão é a posição quanto a bandeja. Ou o ganho que um dos lados vai receber .
Um tempo atraz em um programa da Tv cultura(Provocações), uma senhora aparentemente de uma classe com mais benefícios(sem classificar os meritos), foi questionada sobre quanto gastava com seu animal de estimação, na epoca o valor era maior que o salario mínimo. Foi perguntado ainda o que achava da desigualdade social, a resposta foi; é normal não tem como todos ter os mesmos benefícios caso contrário quem vai trabalhar de doméstica pedreiro etc.
O comentário por baixo é para muitos um tanto quanto revoltante. Mas não nega a realidade. A distribuição de renda é injusta e o mérito é de quem tem uma formação salva algumas exceções.
A busca desenfreiada por lucros, me deixa curioso pessoas, passam mais tempo com o colega de trabalho do que com a familia. Como conseguir uma sociedade melhor sem coisas básicas.
Do meu ponto de vista o melhor seria criarmos na sociedade formas de dar ao cidadão itens básicos(carro do ano e casas em condominios de longe são tais itens), sem obrigalo a fugir de sua dignidade e obrigações e benefícios no que diz respeito a familia. Vendendo saúde, remédios, educação, com toda certeza teremos que comprar segurança. E é ai que muitas das vezez Richard e Paula se encontram.
Tiago, dá a impressão que você só leu a história em quadrinhos, e não o artigo.
Defendendo a meritocracia se esquece que a elevação da base só acontece com a luta das próprias minorias por essa mudança. Das leis trabalhistas à emancipação feminina, reivindicações só se tornam direito por pressão daqueles que almejam essas conquistas. O interesse maior é daqueles que se encontram excluídos e não dos que já tem acesso. A política de cotas, por exemplo, ajuda a elevar a base a partir do momento em que o beneficiado ascende socialmente e traz suas reivindicações para a pauta política. Não se trata de manobra estatística. E a meritocracia salarial, apesar de ter pontos positivos, pode favorecer um ambiente de trabalho hostil.
Maria Julia, no caso do sistema de cotas nas universidades, você pode falar em elevação da auto-estima, mas não em elevação da base, pois a pessoa não se tornou melhor preparada ou mais capaz para a tarefa que tem pela frente. Recebeu um “desconto”, uma ajuda.
Quanto à luta por direitos, é um direito constitucional APENAS nas democracias, e a luta por direitos costuma ser mais efetiva justamente nos países em que a Meritocracia está mais presente.
A luta por direitos é um dos grandes valores deste sistema político. Dê uma lida neste outro artigo: LIBERDADE, DEMOCRACIA E MARXISMO: ESTRANHO FETICHE.
http://goo.gl/LcEZLz
Assim como ser de direita não significa querer intervenção militar, ser de esquerda não significa querer um Estado Socialista.
Maria Julia, ai é que está o problema: a definição do que é ser de esquerda. Este blog trata bastante deste tópico. Inclusive há um artigo específico e longo sobre isto, chamado TEORIA DAS GAVETAS. Se tiver tempo, leia.
Se o artigo da Revista Forum e seu conteúdo não incomodasse tanto os ‘privilegiados’ não haveria repúdio a ele e ao seu conteúdo. O conteúdo fala por si só.
Raymond, o que me incomoda não é o conteúdo do artigo da Revista Forum e da revista em quadrinhos. O que incomoda é o grau de estupidez de quem vê algum valor lógico no que é apenas um erro exaustivamente repetido. Note que você não apresentou nenhum argumento, não apontou nenuma falha lógica na crítica que o artigo faz. Galileu quase foi queimado quando disse que a Terra era redonda e girava em torno do Sol. A maioria pode perfeitamente ser prisioneira de uma ideia errada.
Numa boa, “O grupo que defende a Meritocracia nos termos indicados pela Revista Forum e pela história em quadrinhos que o acompanha, pertence à mesma categoria dos que defendem ou pedem “intervenção militar” quando o assunto é política: são uma inexpressiva minoria utilizada como espantalho” este é parte literal de seu artigo e isso não passa de uma generalização pobre, por respeito ao seu ponto de vista e opinião não usei outro adjetivo.
Procuro sempre respeitar o ponto de vista das pessoas. Mensiono aqui um exemplo que é verídico e, como afirma certo aforismo, ‘ideias convencem exemplos arrastam’. Vi de perto a história de duas famílias e de dois jovens da mesma idade e o desfecho da ‘carreira’ de um e de outro, e, incrivelmente ‘conferem’ com o sucinto relato da tirinha.
Sugiro interessante leitura: Contribuição para uma teoria do diletante. Autor Lucrécio Pinto dos Santos. Disponível em: http://passapalavra.info/2013/12/89186
Raymond, leia de novo o artigo. Em nenhum momento nego que este tipo de situação aconteça, o que nego é que isto tenha relação com o que se chama Meritocracia.
Quanto ao artigo que você indicou, há um problema de base: o autor desconhece o sentido da palavra Diletante, que vem a ser o oposto do que está descrito ali. Diletante é aquele que se ocupa de qualquer assunto por prazer, e não por obrigação. Lucrécio Pinto dos Santos precisa consultar o dicionário e consertar o artigo.
Você poderia discorrer sobre o significado ou definição da palavra diletante? Não digo que seja necessário um tratado do termo, mas, algo esclarecedor, pois, até então não entendi satisfatoriamente e com clareza o termo.
Diletante deriva de dileto, preferido, querido. Diletante é alguém que gosta particularmente de um assunto e o estuda, procura outros com interesse comum para trocarem informações, mas que é um “amador”, palavra que tem matriz e significado próximo de “diletante” e opõem-se ao termo “profissional”, que vem a ser um especialista, alguém que se dedica ao assunto por profissão e não por “hobby”. Woody Allen e Luiz Fernando Veríssimo, por exemplo, são músicos diletantes. No artigo, a ironia em “críticos diletantes” está no fato de que certas pessoas são apaixonadas pela cítica em si e não por um assunto em particular.
Dê uma olhada neste vídeo curto sobre a elite, a classe média e os pobres e a meritocracia. https://goo.gl/XP8xMZ
Raymond, há várias questões na relação deste vídeo com o artigo (que você parece não ter entendido).
Em primeiro lugar, ele não contradiz o artigo. De certa maneira o reafirma, quando coloca a classe média na condição de lutar, de se qualificar e se esforçar para diminuir sua desigualdade em relação aos ricos.
A maior contradição entre o vídeo e o artigo está no tocante aos mais desfavorecidos.
Clóvis de Barros Filho fala em diminuir a desigualdade pela revolução, o que deu em exemplos como União Soviética, Albânia, Cuba, Coreia do Norte, Camboja, China etc (sendo que a China só deu um salto qualitativo quando virou uma ditadura capitalista, ou capitalismo de estado).
O artigo fala em diminuir a desigualdade por investimentos públicos nas áreas mais essenciais, como educação, saúde e saneamento. Este modelo deu em exemplos como Noruega, Finlândia, Coréia do Sul, Canadá etc.
Não sei se você compreende o abismo que existe entre um caminho e o outro no que tange a resultados práticos para a população em geral e para a liberdade individual em particular.
A questão não é que todos tenham os mesmos trabalhos ou qualquer coisa do tipo….
Meritocracia (do latim meritum, “mérito” e do sufixo grego antigo κρατία (-cracía), “poder”)1 é um sistema de gestão que considera o mérito, como aptidão, a razão principal para se atingir posição de topo
Ou seja meritocracia não o problema esta no CRACIA…. porque mérito cracia significa que quem vai ter o poder é quem tem mérito…… é parecido com uma aristocracia ou tecnocracia……
O problema do poder ser tão concentrado em uma determinada “classificação de seres humanos” é que tende a ter INJUSTIÇAS por falta de visão HOLÍSTICA da raça humana.
Por isso desde sempre consideremos a DEMOCRACIA o melhor tipo de sistema de poder pois ela é o POVO no PODER no qual consegue de forma holista atender a escutar a todos e todos terem os mesmos poderes.
Qual o problema? Não era possível ter DEMOCRACIA antes da internet…. porque era impossível que todos do país participassem das decisões .
Hoje temos internet vamos a lutar pela DEMOCRACIA de verdade e não a falsa democracia representativa (politicos) que é uma forma de MERITOCRACIA e NÃO DEMOCRACIA.
https://www.facebook.com/konsentodd
Konsento.org
Fábio, a meritocracia faz bem à democracia. E democracia é exatamente esta imperfeita e conflituosa que conhecemos. O que você chama de democracia é uma utopia que até hoje só produziu pesadelos.
Dê uma olhada neste artigo: LIBERDADE, DEMOCRACIA E MARXISMO: ESTRANHO FETICHE.
http://goo.gl/LcEZLz
Este é o nosso projeto de democracia de verdade Konsento.org
Nunca existiu democracia.
Fabio, visitei a página de vocês, li o conteúdo e vejo que são bem-intencionados, mas ingênuos em diversos níveis.
O primeiro deles e o principal é que são urbanos, demasiado urbanos, e não conhecem o Brasil. Não conhecem as dificuldades de acesso à cultura, educação e internet. Não conhecem os analfabetos funcionais, não conhecem as dificuldades de colocar um prática de forma minimamente justa as ideias que defendem.
Na prática, o que vocês defendem é um misto de democracia ateniense com o governo aristocrático de Platão.
Há também influência da democracia direta nos moldes socialistas, em que quem domina a ferramenta, domina a manipulação da informação e o poder.
Cito abaixo trecho de outro artigo que trata da questão:
“Uma desculpa recorrente dos marxistas é que a democracia capitalista tem participes privilegiados da ordem social com acesso privilegiado ao exercício do poder, sujeitando a maioria às suas decisões, o que distorce e inviabiliza a democracia. Isto é apenas o insidioso totalitarismo colocando seus ovos.
A ideia de que não temos uma verdadeira democracia porque temos injustiças e “participes privilegiados da ordem social” é uma armadilha retórica que traz subjacente a conclusão que não temos uma democracia, mas sim uma ditadura, o que nos leva de volta ao velho papo marxista de que minha ditadura é melhor que a sua.”
http://goo.gl/k8X4C9