A ESQUERDA E O CRIACIONISMO: CONTRA A FÉ NÃO HÁ ARGUMENTOS.
Para um liberal, discutir democracia com um socialista marxista é como um darwinista discutir a evolução das espécies com um “criacionista”: eles têm explicação para tudo, embora nada faça sentido e a realidade desminta suas crenças. Recentemente me envolvi em um debate com um grupo de marxistas ligados à UNICAMP que deixou isto claro.
Considero o marxismo equivocado desde o nascimento. A própria festejada tese da mais-valia (que pertence ao “Marx pensador”) me parece um equivoco, que pode ser lida sem viés autocrático, mas acaba servindo de justificativa para as principais teses autocráticas que alimentaram o marxismo e alimentam marxistas. É um fruto lógico do “Marx panfletário” e de seu manifesto comunista, que deixa bem claro o intento de destruição da democracia burguesa (a única que existe desde a revolução industrial) e a falácia de que um governo proletário seria a verdadeira democracia por ser um governo da maioria.
É precisamente esta a gênese do autoritarismo, do totalitarismo e da produção de mortos educativos em escala industrial.
A democracia é o contrário da imposição da “vontade da maioria”: é o respeito pelas minorias que fazem parte do jogo político e podem se articular para o exercício do poder. Somente nas democracias existe a garantia constitucional do direito de lutar por mudanças, por novos direitos ou pelo poder. O resto é ditadura, por definição.
DESCULPA PARA TARAS AUTORITÁRIAS
Uma desculpa recorrente da esquerda é que a democracia capitalista tem participes privilegiados da ordem social com acesso privilegiado ao exercício do poder, sujeitando a maioria às suas decisões, o que distorce e inviabiliza a democracia.
Isto é apenas o insidioso autoritarismo colocando seus ovos.
A ideia de que não temos uma verdadeira democracia porque temos injustiças e “participes privilegiados da ordem social” é uma armadilha retórica que traz subjacente a conclusão que não temos uma democracia, mas sim uma ditadura, o que nos leva de volta ao velho papo da esquerda de que minha ditadura é melhor que a sua.
A democracia é, por definição, uma obra em constante processo de inclusão de demandas, inclusive demandas sociais de origem socialista. Isto ocorre porque é da essência da democracia ser plural no que tange a seus atores, mesmo que de forma assimétrica. Até neste período relativamente curto da democracia brasileira, pós ditadura militar, é inegável que houve avanços na conquista de direitos por maiorias e minorias. Isto não quer dizer que está bom. Quer dizer apenas que a democracia, do ponto de vista legal e prático, traz nela o direito de reivindicar, de protestar, de exigir mudanças, de alternância de poder – tudo isto sem ruptura institucional e com a maioria vencedora tendo que respeitar os direitos das minorias derrotadas.
É preciso melhorar? Evidentemente. Temos uma verdadeira democracia? Por enquanto, sim. Mas se a realidade comprovável da democracia é alguma injustiça, a realidade comprovável de governos do socialismo real é a ausência de liberdade e injustiça bem distribuída.
No socialismo não existe pluralidade. Não existe direito de minorias. Não existe sequer direito. Onde ocorreu, vigora a restrição de liberdade em suas diversas formas, do direito de opinião ao direito de ir e vir.
Democracia é, na prática, sinônimo de democracia liberal, pois é a única que existe, que pode ser estudada, criticada, melhorada. É a baliza, a referência pela qual podemos estabelecer parâmetros de avaliação.
Já a “democracia socialista” é uma espécie de saci Pererê da ciência política: simpática, cultuada, tem muitos fãs, mas não passa de folclore.
Artigo de Paulo Falcão.
PS – Para quem deseja se aprofundar no tema, sugiro dois artigos.
Este primeiro analisa o verbete DEMOCRACIA do “Dicionário de Política” de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino
O segundo faz um apanhado geral das principais divisões politico-ideológicas:
ESQUERDA x DIREITA: A TEORIA DAS GAVETAS OU COMO NÃO CHAMAR URUBU DE “MEU LÔRO”.
Aviso sobre comentários: Comentários contra e a favor são bem vindos, mesmo que ácidos, desde que não contenham agressões gratuitas, meros xingamentos, racismos e outras variantes que desqualificam qualquer debatedor. Fundamentem suas opiniões e sejam bem-vindos.
Excelente artigo, soberbo!
Vc se esquece de dizer que marxistas são contra o criacionismo, são inclusive acusados de não terem fé, de serem ateus e de perseguirem religiosos. Para vc, o marxismo é conservador, é o ponto em que vc quer chegar, não é radical demais.
Lúcio, o que eu quis dizer é o que está escrito: criacionistas e marxistas baseiam suas crenças, suas certezas, na fé. Não há nada de ciência. Pode-se dizer até que são religiões concorrentes.
Você não contou o que disseram para vc os marxistas da unicamp, mas creio que a ponte entre democracia burguesa é que ela promete, mas não cumpre. A democracia socialista quer cumprir as promessas da democracia burguesa.
Por exemplo: a democracia burguesa fala em garantir a propriedade privada, mas na sociedade capitalista a maioria não tem propriedade privada. Ela já está abolida para quase todos. Somente uma minoria tem todas as propriedades, os demais não têm praticamente propriedade alguma. Na democracia socialista, os trabalhadores trabalhavam em grande parte para o estado, mas opinavam sobre a produção e sobre o que se passava na empresa (enquanto no capitalismo a empresa é monarquia patronal).
Os liberais falam em liberdade, mas sem dinheiro ou renda, na sociedade capitalista, você está na pobreza. Estando pobre, você não usufrui de direitos. Basta vc perder o emprego para sentir que as promessas da democracia burguesas são vãs. A democracia socialista garantia o emprego.
Abs do Lúcio Jr.
Lúcio, podemos dizer que há prós e contras na ditadura do proletariado (o verdadeiro nome da democracia socialista) e na democracia burguesa.
A questão é: o que cada um considera ponto positivo e negativo.
No caso da propriedade privada dos meios de produção, por exemplo, ao contrário do que você diz, nas democracias liberais há uma grande inclusão de novos proprietários, que iniciam pequenos negócios. Alguns crescem, outros quebram, assim como grandes empresas também mudam de mãos, quebram ou prosperam.
Nas ditaduras do proletariado, temos o estado patrão, o bloqueio das iniciativas individuais e uma sociedade em que há uma evidente e incontestável redução das liberdades, como o direito de ir e vir, por exemplo.
Há quem, como você, ache que a ditadura do proletariado tem mais vantagens que desvantagens para o indivíduo quando comparada com a democracia liberal ou burguesa. Eu discordo.
Mas concordando ou não comigo sobre qual alternativa é o melhor caminho, não há como discordar do fato que apontei no artigo: a democracia liberal existe e a democracia socialista nunca existiu. É um ente mítico.
“O manifesto comunista elimina qualquer dúvida: deixa bem claro o intento de destruição da democracia burguesa (a única que existe desde a revolução industrial) e a falácia de que um governo proletário seria a verdadeira democracia por ser um governo da maioria.”
O M.C. não poderia destruir o que não havia. Em 1848 democracia era só uma boa idéia, mesmo nos EUA. Democracia significava, como bem entendiam os pais fundadores, governo da maioria sem o uso de representantes. Era justamente para preservar os direitos das minorias (na realidade, de algumas minorias, pois negros não eram uma preocupação) que se tentou evitar que o governo expressasse pura e simplesmente a vontade da maioria. Pois, como lembrou Madison, a maior maioria (sic) era a de não proprietários (i.e. pobres). Então, do ponto de vista da história, da Grécia até o início do século XIX, democracia significava o governo da maioria (dos cidadãos).
“A democracia é o contrário da imposição da “vontade da maioria”: é o respeito pelas minorias que fazem parte do jogo político e podem se articular para o exercício do poder. Somente nas democracias existe a garantia constitucional do direito de lutar por mudanças, por novos direitos ou pelo poder. O resto é ditadura, por definição.”
O nó não é o de preservação dos direitos das minorias, mas dos direitos individuais. Como eles são um fundamento constitucional, a maioria, que é sim o mecanismo básico de decisão numa democracia moderna (decisões são tomadas com o princípio de 50% mais um voto, ou variantes), pára quando roça neles. Mas isso é um arranjo construído ao longo de uns 200 anos. Lá por 1800, por exemplo, dificilmente alguém veria em monarquias parlamentares ou repúblicas “oligárquicas” o equivalente de ditaduras.
“Uma desculpa recorrente dos marxistas é que a democracia capitalista tem partícipes privilegiados da ordem social com acesso privilegiado ao exercício do poder, sujeitando a maioria às suas decisões, o que distorce e inviabiliza a democracia. Isto é apenas o insidioso totalitarismo colocando seus ovos.”
Na verdade, o acesso privilegiado ao exercício do poder foi arquitetado pelos elaboradores do governo parlamentar (House of Lords, King in Parliament) e seguido pelos “founding fathers” (Senado, voto de proprietários). Não me parece que seus governos fossem totalitários.
João Paulo, obrigado por sua rica contribuição a este debate.
A democracia é um processo e este processo já existia em 1848, o suficiente para ser nomeado antagonista no manifesto comunista.
Mas o ponto central é que em pleno século XXI, tendo assistido o aperfeiçoamento das democracias liberais mundo afora e os desastres totalitários das experiências de esquerda, ainda temos gente defendendo as teses que fundamentaram a produção de mortos educativos da própria população em escala industrial.
Apenas as democracias liberais oferecem condições reais para minorias e excluídos lutarem por direitos, e conquistá-los, incorporando-se aos atores políticos.
São processos muitas vezes conflituosos, violentos, com mortos e feridos, mas os mortos e feridos nestes processos são uma pequena fração dos mortos e feridos nas revoluções de esquerda, com resultados melhores e mais duradouros.
Você parece defender a democracia direta, que é outro Saci Pererê. Esta ferramenta funciona em democracias de partido único (um eufemismo para ditaduras) ou pequenas comunidades razoavelmente uniformes (assembléia de condomínio ou sindical, por exemplo).
As democracias representativas e sua divisão em 3 poderes independentes não são, como você diz, um artifício idealizado para garantir acesso privilegiado ao exercício do poder. Ao contrário: é a ferramenta que permite a evolução lenta, com pesos e contrapesos, limitando o poder de cada uma das partes e dificultando que momentos de irracionalidade popular (a comoção por um assassinato, por exemplo ou ajustes de contas públicas) sejam correia de transmissão imediata para mudanças desastrosas.
Definitivamente, quem as elaborou não tinha pendões totalitários.
Cara, esse texto é muito ruim, ele é curto e grosso. Todos direitos trabalhistas foram conquistas a partir de lutas de caráter socialista (com ou sem Marx). A questão poderia ser refletir sobre democracia, capitalismo, socialismo e liberalismo. Talvez estivesse aí o filão de reflexão que seria muito mais inteligente. O liberalismo inglês do XIX facultou o direito ao imperialismo em toda parte do globo, assim como hoje em nome do liberalismo e da democracia se legitima ações no mundo inteiro para garantir direitos de potências internacionais. As coisas são muito complexas. Agora, Noruega, França, Alemanha, Dinamarca, Suíça, todos esses países já tiveram momentos mais ou menos socialistas, qual seja, garantindo que a pura liberdade de mercado não dite as regras da política. Garantindo direitos de previdência, décimo terceiro, horas de trabalho, auxílio desemprego, auxílio moradia, auxílio maternidade e paternidade, moradia estudantil, auxílio estudantil, escola pública, faculdade pública, auxílio transporte, toda intervenção do Estado a fim de minorar a desigualdade social e promover a dignidade humana é medida socialista. Para ver isso claro, basta observar os primeiros momentos da Revolução Industrial Inglesa, com crianças mulheres grávidas trabalhando 14 horas 16 horas por dia, sem direito a férias, saúde, nada. Descartáveis como qualquer máquina quebrada. Cada ganho desse foi dos sindicatos, das associações, anarquistas, socialistas e, já no século XX, comunistas até. A história é mais complexa, não existe sistema ideal. A democracia no século XIX era uma coisa muito restrita, mulheres não podiam votar, nem analfabetos, nem pobres, ela realmente prometia muita coisa que na verdade não conseguia dar. Isso muda com o tempo, mas o regime político, seja qual for, e a democracia é sem dúvida o melhor que já se conseguiu, o regime político tem de dar conta da vida na polis, na cidade, na comunidade política. O capitalismo e o liberalismo econômico podem existir em qualquer regime, liberalismo não é sinônimo de democracia, basta falar que nasceu sob o antigo regime. Assim também o capitalismo que é o regime de praticamente todos países do mundo hoje, não apenas dos democráticos.
O primeiro passo para criticar um texto é entender o que leu, e você não entendeu quase nada.
Sua segunda frase, lançada como uma evidência de “erro” do artigo, apenas confirma o que digo na abertura do sétimo parágrafo: “A democracia é, por definição, uma obra em constante processo de inclusão de demandas, inclusive demandas sociais de origem socialista.”
Boa parte da sua argumentação complementar também está abrigada no mesmo sétimo parágrafo quando diz “a democracia, do ponto de vista legal e prático, traz nela o direito de reivindicar, de protestar, de exigir mudanças, de alternância de poder – tudo isto sem ruptura institucional e com a maioria vencedora tendo que respeitar os direitos das minorias derrotadas.”
Outra questão: o artigo não se propõe a discutir modos de produção, mas a estabelecer uma diferenciação clara: desde a revolução industrial, só existiram e existem governos democráticos em regimes liberais. O artigo não diz ou insinua em momento algum que o capitalismo só ocorre em democracias, mas diz o inverso: democracias só floresceram em regimes capitalistas.
Por último, algo até primário, mas que seu comentário exige esclarecer: Noruega, França, Alemanha, Dinamarca, Suíça são países capitalistas com democracias liberais. Quando não o foram, no século XX, foram sob ditaturas ou dominação militar.
Ou seja: “Democracia é, na prática, sinônimo de democracia burguesa, pois é a única que existe, que pode ser estudada, criticada, melhorada. É a baliza, a referência pela qual podemos estabelecer parâmetros de avaliação.
Já a “democracia socialista” é uma espécie de saci Pererê da ciência política: simpática, cultuada, tem muitos fãs, mas não passa de folclore.”
Caso queira se aprofundar no interessante opção dos países nórdicos, dê uma lida no artigo AURORA NÓRDICA PARA O CAPITALISMO
http://goo.gl/H3Nzhj
o seu conceito de liberalismo cabe qualquer coisa que lhe agrade. “democracia liberal” nem é um conceito. Se a Noruega é uma democracia liberal e os EUA são uma democracia liberal, assim como o Canadá e o Japão, o conceito de liberalismo foi todo esvaziado significando aquilo que você acha legal. A Itália é uma democracia liberal, assim como o Brasil é uma democracia liberal, assim como Angola,, Moçambique, Congo, África do Sul, México, Argentina, Bolívia, Colômbia, Venezuela, enfim, poucos são os países que não são democracias liberais. Mas são países tão distintos entre si, que o “conceito” acabou explodindo e não servindo de nada. Aliás, o Império Inglês era liberal, assim como a França napoleônica, e o Primeiro e Segundo Reinado brasileiros, aliás, era democracia isso? Havia eleição no Brasil no Primeiro Reinado, na Regência e no Segundo Reinado, eram democracias burguesas? Aliás, até 1881, a participação popular era maior do que durante toda primeira República brasileira. Seus conceitos não resistem à história, parecem ais receitas de bolo que nunca será feito, porque se for, estraga.
ora você diz regime liberal, ora diz regime democrático. O Império Inglês colocava as mulheres em situações deprimentes, seres praticamente sem direitos, isso é liberal? A partilha de todo o continente africano foi feito sob o ideal liberal, legitimando massacres, violências e desumanização das relações políticas. Isso é liberal? Seu conceito de liberalismo é sem base histórica, é uma ideologia estreita, perversa e narcísica. Não resiste a nenhuma apreciação histórica séria. Sabe o que é bem liberal: a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Toda feita em nome do liberalismo.
por último, na verdade, democracia liberal é aquela do XIX do império inglês, democracia social ou social democracia ou socialismo são todas políticas em estados democráticos após a quebra da bolsa em 1929 e o fim dasetunda guerra mundial. Noruega é uma democracia socialista, assim como a França está deixando de ser, assim como a Alemanha é cada vez menos. Assim, o que há de se contrapor é “democracia liberal” x “democracia socialista”. Os partidos no poder em vários destes países de bem estar social são partidos socialistas. Não confunda as coisas. O neoliberalismo faz frente, dentre outras coisas, a esse tipo de política que hoje está sofrendo várias reformas.
Não confunda sistema econômico (capitalismo), com uma tradição de pensamento (liberalismo) com um regime de governo (democracia). Você parece misturar tudo.
Thiago, o capitalismo é filho do liberalismo e, nas democracias, se confundem.
Já o sistema de governo “Democracia”, desde a revolução industrial, só floreceu em economias capitalistas e só prosperou no capitalismo liberal, daí que a chamada “democracia burguesa” seja chamada também de democracia liberal. Este é o guarda-chuva que abriga social-democracia, democracia cristã, republicanos, democratas, partido trabalhista etc.
Quanto à social democracia, o que interessa observar, do ponto de vista do presente artigo, é que só ocorreu dentro de democracias plurais, ou seja, democracias liberais ou burguesas.
Nunca existiu e jamais existirá o que a esquerda chama de “democracia socialista”. Ou seja, esta entidade mítica é o Saci Pererê da ciência política.
Sobre suas criativas teses e divisões, prefiro conceitos clássicos, opto por autores que se tornaram referência. A base teórica que fundamenta o presente artigo pode ser melhor conhecida no artigo QUANDO A PATRULHA IDEOLÓGICA COMPROMETE A LÓGICA ( http://goo.gl/Emqi6b ) que analisa o verbete DEMOCRACIA do “Dicionário de Política” de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino.
Vocês dois fazem algumas belas confusões.
Thiago o socialismo é a propriedade social dos meios de produção. A Noruega não é um país socialista e sim capitalista, pois nela há a propriedade privada dos meios de produção e o consequente acúmulo privado de capital que inevitavelmente se concentra nas mãos de poucos. O mesmo vale para todos os países do Norte da Europa. Tanto é assim que embora a desigualdade de renda dos países escandinavos seja baixa a desigualdade de riqueza (patrimônio) é extremamente alta porque além da propriedade de uma casa a maioria das pessoas em qualquer sociedade capitalista não possui muito mais patrimônio sendo que a propriedade dos meios de produção termina por se concentrar com uma pequena porcentagem da população.
A Dinamarca é tão capitalista quanto os EUA. O que diferencia esses países é o tipo de Welfare State a qual eles aderem, entre outras coisas. Podemos dizer que a Dinamarca é mais social-democrata do que os EUA se nós entendemos que quaisquer legislações trabalhistas e gastos sociais são representativos de algum nível de social-democracia, o que não é um entendimento completamente errôneo, embora se deva pontuar que no decorrer da história vários conservadores como Bismarck na Alemanha e liberais como Lloyd George na Inglaterra foram responsáveis pela implantação de reformas sociais. O Welfare State avançou por algumas décadas mesmo diante da ausência de vitória de partidos sociais-democratas ou socialistas no final do século XIX e início do século XX. Foi um longo processo e obviamente que quando Bismarck começou a assentar as bases do Welfare State moderno na Europa ele fazia isso por razões pragmáticas como afastar os trabalhadores dos socialistas e diminuir a importância da Igreja Católica na Alemanha recém unificada. As diferenças entre os Welfare States da Dinamarca e dos EUA apesar de significativas não mudam o fato de que ambos Estados existem sob um mesmo sistema econômico, e a propósito os EUA possuem um Welfare State mais importante do que muitas pessoas pensam, formado por programas como Medicaid (sistema de saúde público para os pobres em que o governo financia a assistência médica para pessoas de baixa renda e tal sistema foi ampliado pelo Obamacare), Medicare (sistema de saúde público para idosos e deficientes que funciona como um seguro social no qual as pessoas precisam pagar no sistema para receberem os benefícios), VA (benefícios para veteranos incluindo o sistema de saúde socializado deles que é como o SUS e bolsas escolares), SNAP (assistência social em forma de cupons alimentação), Social Security (como a nossa Previdência Social), TANF (assistência social para famílias pobres como o Bolsa Família), SSI (assistência social para idosos acima de 65 anos ou deficientes pobres como Benefício de Prestação Continuada no Brasil), Seguro-Desemprego, entre outros.
De todo jeito, podemos criar uma escala de social-democracia, mas não de capitalismo, cujas instituições podem ser tanto de laissez-faire como social-democratas, ou em qualquer tonalidade de uma escala entre 0 a 10 entre essas duas ideologias, por isso falar em democracia socialista não faz sentido, já que como pode existir socialismo em uma sociedade capitalista? Pode existir socialismo em uma sociedade de mercado, mas não em uma sociedade capitalista como a existente em todo o mundo desenvolvido sem exceções.
Depois, há que se considerar que a palavra liberal e a filosofia do liberalismo é uma de muitas variações, bandeiras e modificações.
Você está certo quando aponta a falta de sufrágio universal e supressões de liberdades e atitudes imperialistas nos Estados do século XIX. Isso descaracteriza esses Estados como liberais? Até a década de 60 do século passado os negros no Sul dos EUA não podiam votar e eram segregados pelo Estado. Era os EUA uma democracia?
Eu acho que é preciso ter em vista que os termos democracia e liberais servem para identificar alguns elementos e desenhos institucionais em gerais. Então era o Estado do século XIX liberal? Sim porque ele se colocava como oposição ao Estado absolutista do século XVIII e concedia certos direitos civis a população. Era os EUA uma democracia? Sim porque a maioria da população tinha o direito de votar e ser votada com os negros sendo excluídos através de testes de literatura na votação.
O Estado liberal do século XIX geralmente é oposto ao Estado social-democrata do século XX, especialmente aquele que veio a ser construído a partir da crise de 29 e da Segunda Guerra Mundial. Note que ambos os Estados existem em uma economia capitalista, mas o primeiro por interferir muito menos na economia é considerado liberal enquanto o segundo por se constituir em um Estado de Bem-Estar Social como social-democrata. A divisão então é econômica, mas obviamente que o Estado liberal do século XIX foi se tornando progressivamente mais liberal politicamente até atingir o que hoje entendemos como Estado Democrático de Direito. O Estado social-democrata nunca deixou de ser liberal do ponto de vista político.
Entende-se que o Estado Democrático de Direito possui sufrágio universal e proteção a minorias, se entende que nesse Estado o exército não pode ser empregado para bater em trabalhadores de Minas em greve até a submissão e obediência como ocorria no século XIX.
O liberalismo mesmo político se modificou do século XIX até os dias atuais. Hoje não se pode considerar um país que emprega a polícia para forçar trabalhadores de volta ao trabalho ou que exclui mulheres e negros das urnas como uma democracia liberal. De fato não há democracia fora do liberalismo político, por isso o uso do termo pode ser considerado uma redundância. Sobre o contínuo uso do liberalismo como forma de justificar imperialismo, isso é uma característica do imperialismo que sempre busca criar uma explicação intelectual e uma desculpa moral para suas ações, e não do liberalismo. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial tiveram como motivação o imperialismo e o nacionalismo.
Foram todas as lutas por melhoras sociais lutas de caráter socialista? Depende do que você entender por caráter socialista. É bom lembrar que Eduard Bernstein, o fundador da social-democracia alemã, foi um revisionista marxista, e não encontrou apoio em outros marxistas que seguiram alimentando as esperanças de uma transformação radical da sociedade. De fato até hoje muitos marxistas consideram a social-democracia como uma forma perversa de reformismo que serviu para mitigar os males da sociedade capitalista e dessa forma atrasar a revolução socialista, entretanto, há marxistas e socialistas de outras vertentes que não são tão rápidos em dispensar as conquistas sociais feitas sob pressão de movimentos sociais-democratas, então o bando é diverso.
Sobre a impossibilidade de uma democracia socialista. Não há como se afirmar tal coisa, já que nem sequer sabemos como se pareceria uma economia socialista em que os trabalhadores realmente controlassem os meios de produção. Se a matriz do Estado Democrático de Direito como as liberdades de expressão, religião, locomoção e direitos relacionados ao devido processo legal como o direito a um advogado e a um julgamento justo, mais eleições periódicas com sufrágio universal, entre outras coisas, continuarem a existir sob uma economia de controle social dos meios de produção na qual a desigualdade de riqueza se torna a mesma que a desigualdade de renda, então provavelmente nós teremos o que poderíamos chamar de democracia socialista nessa sociedade. Eu não vejo razão para pensar que a primeira parte é inerentemente incompatível com a segunda. Há experiências disso até agora? Não em larga escala e recentemente, embora socialistas se vangloriem da Comuna de Paris e das comunidades anarquistas da Espanha durante a Guerra contra Franco como formas em que uma democracia direta socialista operaria.
Ferraro, obrigado pela contribuição.
Entre a Ditadura do Poder Econômico e a Ditadura do Proletariado, fico com a segunda opção.
Se o “Democracia socialista’ é o Saci Pererê, a “Democracia Capitalista” é a Mula sem Cabeça…
Caro Vixe, não sei se você notou, mas o nível dos comentários por aqui é outro. Sem argumentos, sobra só o gracejo.
Á direita sempre fala que quem trabalha que merecer ter as coisas… então? vai dar a quem? Quem sabe falamos a mesma língua, mas por termos diferentes. Uma e outra possuem um colorido especifico, que ao fim não altera a forma.
Ernesto, seu comentário está parecendo um fluxo de palavras a procura de um sentido. Sei que você tentou ser irônico, tentou fazer uma crítica, mas a coisa ficou solta. De qualquer maneira, sobre a meritocracia que você aparentemente questiona, Eduardo Gianetti da Fonseca tem uma afirmação bastante interessante sobre o assunto: quando o governo promove igualdade na partida (educação de qualidade para todos, por exemplo), está sendo justo e democrático; quando promove a igualdade na chegada (salários iguais para um mesmo cargo, independente do desempenho, por exemplo) está sendo injusto e arbitrário. Esta é a ideia central.
Gostei muito do post de Marcelo García.
Acho interessante colocar como opção à democracia liberal a social democracia.
Ocorre que a social democracia- apesar de ser entendida aquela na qual há ótima distribuição de renda e ótimos serviços públicos estatais- não é socialista por definição, pois não contesta ou coíbe a propriedade privada dos meios de produção.
Ainda, nem deixa de ser liberal. Sim, ela é contra o liberalismo econômico, mas não se opõem ao Liberalismo, como estabelecido pelo Iluminismo, e implementado pela Revolução Francesa, nele se coloca, de maneira simplificada, e isonomia jurídica, a declaração de direitos do homem e a separação dos poderes. A soma dessas três coisas resulta no que se chama de Estado Liberal, como a social democracia abrange esses três pilares ela não pode deixar de ser liberal, apesar de levar em conta reivindicações socialistas.
Não há no artigo um único argumento com fundamento científico ou construído sobre sólidos anteparos doutrinários. Há tão somente uma tentativa vaga de desqualificação superficial do marxismo, sem, no entanto, uma abordagem mínima sobre teses fundantes do materialismo histórico. Não há nenhuma menção às categorias basilares do marxismo e a seu conteúdo sócio-histórico. Nenhuma referência às considerações marxianas a respeito de categorias como ontologia, trabalho, trabalho associado, forças produtivas, relações de produção, dialética materialista, estado, capital etc. Por sinal, não há uma única linha que refute a teoria do valor em Marx e sua contribuição crítica à economia política ou ao autêntico entendimento sobre democracia formal e democracia radical em Marx. Nada. No texto, pretensamente crítico, constam apenas divagações sem qualquer lastro teórico, repetição de jargões do senso comum e um certo desespero no uso excessivo de adjetivos e subjetivos que, de modo superficial e até cômico, tentam refutar bases teóricas bem elaboradas. Por fim, não há um único elemento no texto que faça crer que o autor realmente entenda da monumental obra de toda a tradição marxista, e não só marxiana, a abranger Lênin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Gramsci, pensadores da Escola de Frankfurt, Lukács, Althusser, dentre outros, inclusive contemporâneos, como István Mészáros e Slavoj Zizek. Conclusão: sobrou propaganda, faltou argumento.
Boa crítica. É tão pretensiosa quanto imagina que o artigo seja, mas continua sendo uma boa crítica. O objetivo do artigo não era fazer uma pequena história do mundo, mas deixar claro que algumas experiências políticas existem, são palpáveis, podem ser medidas, pesadas e estudadas, como a Democracia Liberal, e outras pertencem ao campo da ficção ou da religião, como a Democracia Socialista – ou você pode me citar alguma ocorrência deste fenômeno?
De qualquer maneira, aprofundei a questão no artigo imediatamente posterior a este, que pode ser lido aqui: https://questoesrelevantes.wordpress.com/2014/03/12/quando-a-patrulha-ideologica-compromete-a-logica/
Sr. “Questões Relevantes”, perdoe-me a franqueza, mas minha crítica foi tão profunda quanto seu texto pretendeu ser. Respondi-o na mesma medida: apenas apontei a flagrante vaguidão do artigo, que se propôs, de modo jactante, a demonstrar o hipotético caráter ficcional e místico do marxismo. Não o fez, em absoluto. Para principiar uma bem fundamentada crítica, qualquer que seja seu propósito, torna-se imprescindível um prévio conhecimento sobre o objeto estudado, mormente tratando-se um edifício doutrinário tão vasto quanto o é a tradição marxista. A título de exemplificação, tratemos da assertiva lançada em sua última resposta, segundo a qual “democracia socialista” seria uma ficção, enquanto “democracia liberal” seria uma experiência concreta. Pois bem. A primeira omissão claramente perceptível em seu artigo é a inexistência de uma caracterização sobre o que seria “democracia” segundo o marxismo. Sua única – e enfadonhamente copiada – referência a algo próximo de uma elaboração teórica sobre o tema cinge-se à reprodução de trechos do Dicionário de Política organizado por Norberto Bobbio, um liberal reformista, não um marxista de autência cepa. Esse erro primário é também o mais fundamental: falou-se de Marx sem citar Marx. Para corrigi-lo, impunha-se percorrer toda a processualidade da teoria política e de estado segundo os postulados do marxismo, ponto a partir do qual poder-se-ia estabelecer algum referencial mínimo para a crítica. Desse vício decorre o segundo: o texto principia e se finda analisando o conceito de democracia sob o cânone liberal representativo, uma ideia em si, o que não condiz, evidentemente, com o entendimento que se lhe atribui o materialismo histórico. Daí porque a substância da democracia é sequestrada pela projeção liberal que a torna universal. Dito de outra maneira: só há democracia se for liberal, algo somente possível num estado liberal estruturado com base num sociometabolismo capitalista. Uma sinédoque política. Como os processos históricos são ignorados, o texto esquece que, classicamente, o termo democracia servia para designar a sociedade escravocrata e nobiliárquica ateniense, exemplo concreto de que os signos e as instituições se ressignificam, não são atemporais, algo somente sustentável numa perspectiva hegeliana. Nesses termos, é lógico que, entendendo a democracia apenas como regime político liberal, jamais existiria uma democracia antiliberal, a exemplo da socialista. Essa constatação não é um trunfo de excepcional genialidade, mas tão somente o produto de um silogismo formulado a partir de uma premissa equivocada. O terceiro e fatal erro, também um corolário do anterior, está na incompreensão sobre o que seria o socialismo. O texto indica que não há registro histórico de tal experiência. Considerando que o autor propugna a democracia como um instituto liberal, impossível seria que houvesse ou que haverá democracia no socialismo. A propósito, é justamente este o grande empreendimento do marxismo: transformar a atual sociabilidade capitalista para que, no socialismo, a democracia seja plena e substantivamente realizada. O texto reitera em vários lances que a ideia de uma democracia socialista, que supostamente não encontraria paralelo histórico com experiências passadas (o que não é verdade), seria irrealizável. Imagino se Spartácus, milênios atrás, ao organizar um vasto exércio de escravos libertos em sua hercúlea luta contra Roma, tivesse se convencido de que, por não haver um mundo conhecido de homens e mulheres livres, a escravidão seria perpétua. Por fim, caso o autor queira tentar entender o que os marxistas reinvindicam como democracia solicialista, recomendaria a leitura desta singela obra, que reúne pertinentes escritos sobre o tema “Teoria e prática dos conselhos operários”, autores: Milton Pinheiro e Luciano C. Martorano (orgs.), Editora Expressão Popular. Seria um bom começo. Como nossas discordâncias são abissais, de forma e conteúdo, de método e de análise, não haverá avanços nesta discussão. Saudações.
Prezado Lucas Farias, aprecio atitudes como a sua, que levam o debate a sério, que argumentam, que apontam caminhos. Noto que sua conclusão na resposta acima é muito semelhante à que chega o mesmo Bobbio que você critica, ao término do verbete Democracia: a discussão não prospera porque cada lado se vê com os melhores argumentos.
É justamente sobre este embate que tenho tratado na maioria dos artigos do blog “Questões Relevantes”, e faço isto tentando, com honestidade, definir o sentido de palavras chave utilizadas por ambos.
Sua resposta, curiosamente, traz uma afirmação que corrobora este esforço, embora não diretamente. Quando diz “o texto esquece que, classicamente, o termo democracia servia para designar a sociedade escravocrata e nobiliárquica ateniense, exemplo concreto de que os signos e as instituições se ressignificam, não são atemporais, algo somente sustentável numa perspectiva hegeliana” toca exatamente no ponto central das teses defendidas por mim: o que significa realmente democracia hoje em dia.
Certamente você conhece o conceito de que comunicação não é o que o emissor diz, mas o que o receptor entende. Assim, para tentar responder satisfatoriamente esta questão acima, estabeleço um corte temporal: a revolução industrial. Este marco é importante porque delimita um período de tempo em que o conceito de Estado que temos hoje já estava se consolidando. É também a partir deste período que se consolidam as principais teses de esquerda.
Me parece razoável afirmar que não há sentido falar-se em marxismo antes de sua obra vir à luz. Pois bem. Estabelecidos estes parâmetros, reafirmo: as experiências concretas, palpáveis, de democracia são todas liberais. Não há caso conhecido da ocorrência de uma “democracia socialista”. Note que não estou fazendo juízo de valor, apenas uma constatação: a primeira existe e a outra não.
Quando, em sua resposta, afirma que o grande empreendimento do marxismo é transformar a atual sociabilidade capitalista para que, no socialismo, a democracia seja plena e substantivamente realizada, está, quer queira, quer não, corroborando a constatação acima. Está também reafirmando sua esperança em um mundo melhor. É muito justo, muito bonito, mas ainda assim, apenas isto: fé em um futuro melhor.
De qualquer maneira, foi um prazer tê-lo como leitor e crítico. Saudações.
Mises refutou o marxismo e provou, matematica e economicamente, que o socialismo é inviável – sempre se tornará em um sistema de hierarquias onde a nova classe privilegiada é o governo. É um livro de 600 páginas publicado em meados de 1920 que ainda hoje é considerado como a mais séria e fundamentada obra obra anti-marxista já publicada. http://mises.org/library/socialism-economic-and-sociological-analysis
Ao final do texto, por exemplo, temos uma prova de como esta falta de profundidade prejudica a análise, reduzindo tudo a um Fla-Flu ideológico:
“No socialismo não existe pluralidade. Não existe direito de minorias. Não existe sequer direito. Onde ocorreu, vigora a restrição de liberdade em suas diversas formas, do direito de opinião ao direito de ir e vir.”
Aqui temos uma simplificação agressivamente grosseira, que joga no mesmo pacote os comunismos totalitários (URSS, China maoísta, Cuba), a social-democracia (que é socialismo, diga-se de passagem) e os regimes de inspiração socialista (Venezuela).
O autor faria por bem definir que sua crítica se refere ao totalitarismo de esquerda (que, aliás, foi uma elaboração mais de Lênin do que de Marx) e também compreender que o marxismo não pressupõe (e não deveria pressupor) a fidelidade absoluta à obra de marx, tal qual a crença na TE não pressupõe a aceitação in totum da obra de Darwin.
Essas generalizações podem ser atraentes para um público pouco sofisticado, mas acabam com qualquer pretensão de seriedade por parte da análise.
“Democracia é, na prática, sinônimo de democracia burguesa, pois é a única que existe, que pode ser estudada, criticada, melhorada.”
Não sei exatamente o que está mais errado com este argumento, mas acredito que não é um engano só. Ao limitar a validade da democracia ao conceito existente de democracia o autor pratica um conservadorismo quase tramontano, que equivale ao de um pensador do século XVIII que dissesse que o estado era sinônimo de absolutismo, porque era o único regime conhecido. Por outro lado, impõe-se uma restrição para a crítica e a melhoria de tal democracia pois, se as “melhorias” avançarem a ponto de superar o caráter “burguês” da democracia então se produz algo não democrático. Isto equivale a dizer que sem o absolutismo o estado se desfaria (e houve quem dissesse isso no século XVIII, ao afirmar que a figura do rei era a instituição unificadora do Estado). Esta limitação conceitual da democracia acaba por, na prática, impedir qualquer reforma real da democracia.
JG Gouvea, obrigado por enriquecer este espaço com suas reflexões. Discordamos em quase tudo, é verdade, mas o debate é sempre mais rico com quem discorda de nós, porque nos obriga a refletir mais, a aprofundar questões, a avaliar criteriosamente o ponto-de-vista do “oponente”.
Ocorre que já me fiz boa parte dos questionamentos que você apresenta e os respondi em um artigo que trata especificamente do verbete DEMOCRACIA no conceituado “Dicionário de Política” de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino. Ali retomo e aprofundo estas questões.
Convido-o a lê-lo para continuarmos este debate por lá. Segue o link:
JG Gouvea, recentemente publicamos outro post, sobre artigo do professor emérito da USP, Ruy Fausto. Nele encontrei muitas pontes conceituais com o que defendemos por aqui, demonstrando que nossa base teórica é bem fundamentada, apesar de suas alegações em contrário. Neste artigo, ele afirma algo que defendemos desde o primeiro artigo que publicamos: “o “comunismo” foi no passado, e continua se definindo como, um totalitarismo.”
Vale à pena ler: DISCUSSÃO PARA POUCOS, CONSEQUÊNCIAS PARA MUITOS.
Para um texto que procura argumentar contra a seriedade e a validade de uma obra monumental como a de Marx, o seu parece decepcionantemente pequeno, e por uma ironia dessas do destino, é ele que fica parecendo laralaia negacionista. Acho que você precisa de argumentos mais elaborados. Vou acompanhar outros artigos do seu blog, para ver se você os tem.
Mises refutou o marxismo e provou, matematica e economicamente, que o socialismo é inviável – sempre se tornará em um sistema de hierarquias onde a nova classe privilegiada é o governo. É um livro de 600 páginas publicado em meados de 1920 que ainda hoje é considerado como a mais séria e fundamentada obra obra anti-marxista já publicada. http://mises.org/library/socialism-economic-and-sociological-analysis
Talvez a infantilidade esteja mais situada na incapacidade provisória de se entender a base que utilizamos para “avaliar” trabalhos e elaborações, como diria Lebon e Durkheim. Tenho encontrado aqui neste blog espaço para discordar, para expor, para interagir, para aprender, para contribuir. Tenho encontrado disposição rara para a honestidade intelectual, com referencias bibliográficas, embasamento teórico e respeito. Inclusive, encontro a disposição do autor em re-formular, se identificado um ponto onde a argumentação tenha proporcionado esta oportunidade. Ao pontuar os atributos que possam configurar seriedade numa proposta, independentemente do “incômodo” precipitado que possa me acometer uma colocação ou outra, a priori, discordantes das minhas, não resta dúvida que este blog é muito sério. Parabéns Paulo Falcão.
Obrigado. Você me lembrou o final de um poema de Augusto de Campos dedicado a João Cabral de Melo Neto em que ele diz: nunca houve um leitor contra mais a favor.
Esse é o pulo do gato, ser esquerda é ser detentor de uma missão, um projeto de futuro nada claro, onde um grupo de iluminados desconectado da caminhada histórica da humanidade à partir de uma leitura restrita irão fundar uma sociedade “mais justa”. Como são profetas não podem ser julgados pelos seus crimes e genocídios, afinal toda a sociedade presente é falha e contaminada pelo atual sistema controlado por uma minoria que controla os meios de produção, ou seja, infra e supra estruturas. Como o futuro nunca chegará também não podem ser julgados lá, pois no futuro o sistema será esquerdista, portanto os crimes serão a cota de sofrimento que a humanidade impura teve que pagar até o novo status. Quaisquer crimes, transgressões ou genocídios cometidos pela esquerda são atribuídos aqueles que não souberam interpretar a ideológica, não era bem isso, e blá blá blá! Afinal que diabos de ideologia é essa que é tão facilmente deturpada? Sempre que dá merda, e sempre dá não era a verdadeira. Sejamos francos qualquer ideologia derivada destes pensadores sempre acaba em genocídio! O Capitalismo é um arranjo da humanidade em sua caminhada histórica, e a Democracia é filha do Capitalismo, pois só existe Capitalismo onde há Democracia é uma premissa. Depois de milhões de mortos, e de tanta miséria espalhada pelos mais diversos modelos de ideologias esquerdista beira a insanidade qualquer defesa do mesmo.
Acho um equívoco muito grande desse texto em pensar formas de organização politica e social apenas pelo viés do pensamento ocidental, vangloriando o liberalismo político e econômico como a “única forma de democracia existente desde a revolução industrial “. Lamentável isso. Esperava mais seriedade desse blog …
Democracia não começa com o liberalismo político e econômico ( é bom frisar que são coisas diferentes, ou melhor distintas, vc sabe disso não é ?) , ou como vc prefere chamar , com a revolução industrial …
O surgimento da democracia é bem anterior a isso.
Também ver a sociedade apenas pela cosmovisão ocidental é infantil, mas com isso já estou acostumado, isso é comum de pensamentos liberais.
José Maria Zehma Reis, você leu certo, mas entendeu errado.
Como destacou entre aspas, o artigo diz que a democracia burguesa é a “única forma de democracia existente desde a revolução industrial “.
Não quer dizer que não houve democracia antes disso: quer dizer que DEPOIS da revolução industrial a única democracia conhecida é a burguesa, ou liberal.
De qualquer maneira, esta confusão é comum e por esta razão uso a revolução industrial como marco temporal. A democracia ateniense, por exemplo, é anterior à concepção de estado que temos hoje.
Para ter uma visão bem técnica do conjunto, pode usar este dicionário político elaborado por Bobbio e mais dois intelectuais respeitáveis: http://zip.net/bwtmMp
Não sei se está implícito, mas vale a pena pontuar algumas coisas. Ideias esquerdistas incluem o socialismo que foi praticado, não o são. A esquerda não necessariamente é autoritária, lembrando que o anarquismo faz parte das ideias esquerdistas. Lógico que não havia democracia no socialismo aplicado na época da guerra fria, eram ditaduras. Ponto. Aliás, tivemos também diversos governos direitistas autoritários, como os que aconteceram aqui na América do Sul à pouquíssimos anos, em que houve muita violência, cerceamento de direitos e imposição ideológica, ou aquele mantido e apoiado pelos EUA na Arábia Saudita. Além disso, se não houve democracia no socialismo que fora praticado, por outro lado, algumas sociais democracias, cheias de ideias esquerdistas como serviço público de qualidade acessível a toda população, tiveram muito sucesso, por exemplo, a Suécia e a Noruega que possuem índice de desenvolvimento humano altíssimos e boa distribuição de renda. A esquerda como um todo já está bem além do ultrapassado (isso eu concordo) original Marxismo. O que eu acho que também deve ser pontuado é que a dicotomia Socialismo x Liberalismo propõe uma comparação sem substância, pois quando eu vejo “Socialismo” penso em esquerda autoritária e opor a esquerda ou a direta autoritária, a qualquer regime que não outro autoritário, sempre o primeiro sairá perdendo. Fiz essas ponderações em razão de achar que o trecho “A ESQUERDA E O CRIACIONISMO: CONTRA A FÉ NÃO HÁ ARGUMENTOS” está um pouco impreciso.
Digo isso pq do mesmo jeito que um liberal direitista não gosta de ser chamado de fascista (sei que apesar de chamado de extrema direita, tem pouquíssimo de direita), um esquerdista consciente não gosta de ser chamado de socialista (referindo-se ao socialismo da URSS e afins) ou de fã de Lenin, Fidel e Che.
Marcelo, tenho tratado deste tema tendo o cuidado de utilizar sempre teses de referência das tendências abordadas. Segue um link para um longo mas bem fundamentado artigo em que suas ponderações são abordadas: http://wp.me/p4alqY-a
“No socialismo não existe esta pluralidade. Não existe direito de minorias. Não existe sequer direito. Onde ocorreu, vigora a restrição de liberdade em suas diversas formas, do direito de opinião ao direito de ir e vir.”
Eu concordaria com essa frase, se ela fosse formulada assim: No socialimo que vigorou na União Soviética não existia pluralidade. Não existia, em certa medida, o direito de minorias. O direito era totalmente baseado em razões de estado. Vigoraram restrições ao direito de opinião, ao direito de ir e vir, etc.
Discordo que esse seja o único projeto possível de socialismo. Mesmo porque ele não se irá colocar mais como alternativa. Está superado historicamente. A questão de fundo da discussão é como dar um conteúdo material a democracia. Será que democracia e propriedade individual dos meios de produção são inseparáveis? Só poderá haver democracia dentro do capitalismo? Quando se parte para caracterizar o que seria um governo democrático, parece que tudo se trata em estabelecer regras justas e flexíveis do jogo. Respeito às minorias, respeito às regras, negociação, etc.
Mas será que é mesmo possível estabelecer regras justas ignorando sua base material? O direito a livre expressão do pensamento, em termos concretos, se traduz no direito de qualquer um com dinheiro suficiente poder comprar a mídia que quiser para publicar o que quiser (com as devidas limitações legais, é claro, poque dentro do próprio capitalismo existem contrapesos para se combater o monopólio e possíveis delitos).
Da livre expressão do pensamento, decorre o convencimento e desse decorre a expressão da vontade que irá determinar os rumos do país. Não está claro que a propriedade dos meios de comunicação pelo grande capital, com seus interesses e ligação contamina essa expressão da vontade? E assim poderíamos examinar o conteúdo prático de todos os outros direitos e encontraríamos neles os mesmos vícios de origem. Notem que não se trata aqui de abolir a livre expressão do pensamento. Não será por aí que iremos avançar.
Marco, na verdade, todas as experiências de socialismo real cabem nesta definição: União Soviética, China, Cuba, Camboja, Albânia etc.
Quanto a seus questionamentos sobre estabelecer regras justas ignorando a base material, penso que a democracia abriga a capacidade de buscar melhores equalizações, o que vem acontecendo paulatinamente.
Minha preferência é pela social-democracia nos moldes de países como Canadá, Noruega e Alemanha.
Não tenho muito conhecimento dos grandes teóricos que fundamentam o socialismo, nem dos que fundamentam a democracia “burguesa”, mas já li algumas coisas. A democracia socialista foi natimorta em todas as suas tentativas de implementação, ou seja foi preciso instalar uma ditadura para garantir uma suposta democracia, isso não tem como refutar, nunca deu certo e não há muitas evidências de que irá dar certo algum dia. Nesse sentido acho que o texto é bem coerente: vale muito mais a pena contribuir para uma democracia que já existe seja melhor do que apostar na duvidosa “ditadura do ploretariado”. Claro que é ingênuo pensar que esse sistema vai ser o mesmo daqui séculos, mas isso não quer dizer que deve-se destruir o que foi alcançado em prol de algo que já deu errado várias vezes.
Deu certo sim, basta ver os vidões dos lideres e burocratas do estado inchado, do pessoal do partidão único e verão que o socialismo e o bolivarianismo deram certo.