Aliança do PSB com PPS de Roberto Freire não desperta críticas de Marina Silva. Evento em Brasília lança bases de plano de governo com ataques a Dilma e acusação de que Brasil retrocedeu.
Hylda Cavalcanti, RBA
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, lançou na terça-feira, dia 4, em Brasília as “diretrizes” do plano de governo que pretende utilizar na disputa pelo Palácio do Planalto, em outubro, pelo PSB. O ato oficializou também a adesão do deputado Roberto Freire (SP) à chapa, encerrando uma aliança mantida desde 2006 entre PPS e PSDB, em uma parceria que não despertou críticas da recém-filiada Marina Silva.
Campos, pré-candidato à Presidência, fez uma retrospectiva do apoio dado ao governo de 2003 até setembro do ano passado, dizendo que a legenda não se arrepende das lutas travadas e dos caminhos tomados anteriormente. Mas não economizou críticas sobre a condução do país, afirmou ser contrário “ao estado de letargia existente hoje” e que “o Brasil parou e saiu dos trilhos do desenvolvimento”.
Embora o discurso tenha se iniciado num tom de que os avanços obtidos até aqui foram importantes, mas é preciso fazer mais – chavão que tem sido utilizado pelo partido em seus vídeos pré-eleitorais –, essa ideia não conseguiu se sustentar até o final da fala de Campos, que colocou, entre outras coisas, que “não viabilizar políticas sociais com crescimento da economia é o mesmo que enxugar gelo”.
“Temos visto concentração de renda crescendo, analfabetismo crescendo, a indústria caindo e o país perdendo competitividade. É hora de fazermos a virada de valores que o país tanto deseja”, acentuou. O evento, que contou com a presença de cerca de mil pessoas, no auditório Nereu Ramos, localizado na Câmara dos Deputados, foi prestigiado por parlamentares e políticos dos mais diversos partidos.
Campos lembrou suas origens e a vida política da família, que teve como chefe o ex-governador pernambucano Miguel Arraes. Ele disse que, ao romper com o governo, no ano passado, tomou uma decisão dura, mas que entendia ser um imperativo de consciência. “Nos posicionamos no sentido de tocar o país, fazer com que o Brasil não saia dos trilhos”, colocou.
“Seja de um assentamento rural, periferia no Sudeste, ou em qualquer cidade na Amazônia Legal que vamos, temos a clara percepção que as pessoas estão vendo que o país parou, saiu dos trilhos que vinha, que com idas e vindas estava avançando. Isso não quer dizer que faremos ataque à política. Como filho de uma família de militantes e perseguidos políticos, conheço bem o fel da democracia e não podemos botar cabresto na democracia. Carregamos na consciência o dever de lutar e lutar sempre”, afirmou Campos.
Encontro de forças
Freire se sentiu à vontade com a aproximação. Rompido com o PT ainda durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PPS promoveu uma trajetória de aproximação do bloco PSDB-DEM, e agora, sem candidatura tucana paulista ao Planalto pela primeira vez na história, projeta uma nova mudança.
“Estamos em casa”, frisou Freire, ao destacar que a aliança consiste num encontro de forças políticas que estiveram juntas em 2002, imaginando um Brasil diferente, um país de mudanças. “Sabemos que houve mudanças, mas muitas começaram a se afastar do projeto. Este é o reencontro de uma trajetória mais do que histórica que remonta a personagens importantes como Francisco Julião, Miguel Arraes e Gregório Bezerra.”
De acordo com o deputado pernambucano eleito por São Paulo, “se não estávamos juntos muito recentemente, não é porque não nos faltasse história juntos nem sonho de futuro”. “O PPS, ao analisar um programa político que acalente transformações para o Brasil numa sociedade mais justa, vislumbrou uma retomada histórica, uma esquerda democrática. Vamos encontrar com o nosso futuro de igualdade, justiça e liberdade.”
Desta vez, Marina, abrigada no PSB desde outubro passado, não apresentou oposição à entrada do PPS, antigo aliado do PSDB em São Paulo, onde a ex-ministra tem trabalhado para que se vete uma coligação com o tucano Geraldo Alckmin.
Marina não esteve em papel central no evento em Brasília, adotando postura diferente da mantida em outros encontros. Em sua fala, mais curta, bateu em tecla conhecida: o programa de governo do PSB será fruto do envolvimento da sociedade nos vários setores para um Brasil mais justo. “Estamos reafirmando aqui o que dissemos quando foi firmada a aliança entre PSB e Rede, em outubro passado. Nossa aliança não está baseada nas estruturas, no tempo de tevê durante a campanha eleitoral, no marketing nem na maior quantidade de pessoas apoiando a legenda nos estados”, assegurou.
Conforme enfatizou a ex-ministra, “é preciso ampliar as conquistas, mas sem ter a atitude de complacência a erros cometidos repetidamente”. “Reconhecemos que tivemos avanços que precisam ser mantidos, mas ao mesmo tempo aprofundados. Não adianta dizer que somos modelo de desenvolvimento capaz de promover justiça social. Também é preciso preservar a base social. Não adianta buscarmos melhores condições agrícolas e adotar políticas predatórias”, salientou.
Cinco eixos
O programa de governo, que foi elaborado com a ajuda de internautas a partir de uma plataforma digital, apresenta como pontos principais cinco eixos: reforma do Estado, reforma urbana, meio ambiente e recursos naturais, saúde e educação e cultura. No tocante à reforma do Estado destaca a necessidade de desburocratização e da substituição de nomeações políticas pela de especialistas, que levem em conta a meritocracia.
Em entrevista coletiva após o evento, os dirigentes do PSB não quiseram explicar por que nos governos estaduais comandados pela legenda tem sido observada a prática inversa, com grande números de cargos ocupados por pessoas indicadas pelas mais variadas alianças firmadas.
No quesito Educação e Cultura, o governador teve parâmetros para argumentar e discorreu – durante um bom tempo da apresentação – sobre a experiência que tem adotado em Pernambuco, com a instituição das escolas em regime de tempo integral. Segundo ele, o número de crianças na escola em período integral naquele estado é semelhante ao observado na Região Sudeste. Ele também falou dos programas de capacitação e formação dos professores e emocionou muitos dos presentes quando disse que, quando creches e escolas têm pessoas preparadas e apaixonadas com a educação dos estudantes, a transformação acontece.
Em relação às políticas sociais, o programa socialista ressalta a importância de os trabalhos serem feitos a partir de uma visão intersetorial e numa gestão que mantenha o serviço bem prestado, mas não como ação de governo propriamente e, sim, como política pública do Estado. Já quanto ao urbanismo, o trabalho aborda a necessidade de haver integração e debate nos projetos para o setor, passando por melhoria de serviços de transporte a segurança pública.
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Tags: Aécio Neves, Aliança, Banco Itaú, Chico Mendes, Declaração, Eduardo Campos, Eleições 2014, Filiação, Heráclito Fortes, Jorge Bornhausen, Marina Silva, Natura, PPS, Presidência da República, PSB, PSDB, Rede Sustentabilidade, Roberto Amaral, Roberto Freire, Roda Viva, Ronaldo Caiado, Tide Setúbal, Vice
9 de fevereiro de 2014 às 20:41
Que Nosso Senhor Jesus Cristo e as pessoas de caráter livrem o Brasil dessa corja.
9 de fevereiro de 2014 às 13:49
Se o Brasil está fora dois trilhos quais as propostas para colocá-lo nos trilhos? Alguns economistas chegaram a propor até o desemprego para alavancar a economia. Faltou combinar com os trabalhadores. Na verdade a caravana continua passando e os cães invejosos continuarão latindo. Quanto mais eles ladram eu mais acredito que estamos no caminho certo. Um pouco de “Peçonha Virtual” para eles. Vou colocar uma parte do artigo: “Estou de saco cheio de ver o país dar um passo adiante e dez para trás, por que o progresso democrático contraria os interesses de meia dúzia de poderosos, cuja ganância é maior que o tempo que eles terão de vida para aproveitar o produto de sua perversidade.
Estou de saco cheio de ver o único Governo em muitos anos que nos livrou do FMI, voltou a financiar moradias, criou milhares de empregos, como nenhum um outro governo, criou um programa de segurança alimentar para atender os famintos, assumiu a liderança da América Latina e impôs respeito no mundo todo, ser execrado diariamente nos jornais, como se tivesse inventado a corrupção, a violência e todos os problemas que o país arrasta há quinhentos anos.
Estou de saco cheio de saber que isso é preconceito, sim. É ódio de classe, sim. É desejo de manter privilégios inaceitáveis, sim. Pois quando o sociólogo da Sorbone quebrou o país três vezes, liquidou o patrimônio do país a preço de banana, sucateou o parque industrial do país com uma política monetária absurda, multiplicou a dívida externa e comprou votos pela bagatela de duzentos mil para se reeleger, nunca mereceu da mídia o linchamento diário que vêm recebendo o Governo Lula, Dilma e o PT.” . Estamos conversados.
9 de fevereiro de 2014 às 12:57
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