É MENINA OU MENINO?

— eis uma das perguntas mais frequentes quando se anuncia uma gravidez, quando se vai comprar roupas, brinquedos ou qualquer outro presente para um bebê.

Hoje em dia, com ultrassom, nem se discute: aos três meses, já se pode identificar o sexo do bebê. Nós somos aqueles 10% que não quiseram saber; que preferiram deixar para a hora do nascimento essa descoberta. A cada ultrassom, o Marco e eu fechávamos os olhos para não ver o pintinho ou a pererequinha. A esperta da ginecologista já sabia, mas guardou o segredo para nós.

Como a gente respondia aos outros: — não sabemos! — quando perguntavam sobre o sexo, vinham muitos palpites. Olhavam meu rosto, para ver se tinha mais espinhas, se estava bonita, se meu cabelo estava sedoso. Olhavam para a barriga, para ver se era pontuda ou redonda; se o quadril estava mais largo. Até cálculos com nossas datas de nascimento fizeram.

A maior parte desses palpites estava correta: era um menino, o Francisco, lá dentro da barriga. Algumas poucas pessoas diziam que era uma menina. De toda forma, para nós, isso era indiferente. Tanto faz se menina ou menino. Para nós, era bebê, filhote, criança, sem artigo para definir.

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— Indiferente, como assim tanto faz!? Mas como vocês vão comprar as roupinhas, os móveis, o carrinho, etc. etc. etc…

Aí aparece um dos principais argumentos para se saber o sexo do bebê: comprar coisas para ele. Nas lojas, tudo é repartido em duas seções, uma na qual predominam o rosa, lilás, o salmão, as estampas de oncinha e o preto (tendências modernas para meninas) e outra em que predominam os tons de azul e cinza, com super-heróis, caminhões e animais selvagens. Como se não existissem outras cores maravilhosas como amarelo, laranja, verde, marrom. Como se um menino não pudesse se vestir de rosa. Como se uma menina não pudesse usar uma camiseta de dinossauro.

Na prática, compramos muitas coisas neutras, mas também rosa e azul — um pouco de tudo.  Mesmo depois de ter nascido, quando precisamos comprar algo, não pensamos no azul; escolhemos algo simplesmente se nos agrada ou não. Por isso ele tem várias roupas coloridas. Recebeu roupas usadas de meninas — é claro que também ganha presentes “de menino”, um monte de roupas azuis, fazer o quê… No final das contas, qual o problema se o Francisco usar rosa, estampas florais, borboletas ou de coração? Essa discussão dá pano pra manga, um post só não dá conta, ainda falarei sobre isso.

Voltando à nossa experiência durante a gravidez, era interessante e gostoso viver com esse pequeno mistério. Não tínhamos expectativas ou imagens definidas de quem seria aquele bebê lá dentro. Sem nome, sem ultrassom 3D para ver como era o nariz ou a boca. Para nós, era bonito guardar em segredo a vida daquele bebê que se formava e crescia na escuridão e no calor. Como também deve ser bonito, para quem se dispõe a isso, criar a identidade do bebê, dar-lhe um nome, uma personalidade antes mesmo de nascer.

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anameliacoelho

Conto estórias, crocheto, tricoto, junto fios e tramas.

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