Opinião: Um povo – senhor do seu destino

Posted by
Spread the love
Francisco Queirós

Francisco Queirós

Assim foi e assim será – dizem. Mas não! Não tem de ser sempre assim. Mudar é possível. Em período de eleições, o povo convocado para eleger os seus deputados pode bem decidir escolher uns e não outros. Não eleger os mesmos. E este é o momento em que é possível a mudança.

O país não é o mesmo de há quatro anos. Portugal foi vítima de um pacto de agressão subscrito por um trio de partidos nacionais e executado por uma tríade de instituições estrangeiras. Os portugueses mergulharam na crise social e económica mais profunda desde há muitas décadas.

A Europa, terra prometida e anunciada, de riqueza, que colocaria o nível de vida dos portugueses a par com alemães, ingleses e nórdicos, foi uma miragem. Foram-se as pescas num país com mar sem fim. Foi-se a produção agrícola, a indústria pesada. Por imposição da Europa e a colaboração estreita de Cavaco e outros que lhe sucederam. Com o rebentar da crise actual, a Europa desnudou-se ainda mais.

Hoje quase todos os portugueses reconhecem que a união económica e monetária, o euro, foi um erro tremendo. Aquando da sua criação praticamente só o PCP o afirmava, referindo-se às previsíveis consequências do embate da panela de ferro com a panela de barro. Hoje, o drama é evidente e todos o reconhecem.

Cresce o número dos que consideram indispensável uma alternativa. Aumenta significativamente o número dos que descrêem da alternância. Poderão cair no desespero ou na apatia. Muitos optarão por não optar, abstendo-se. Muitos refugiam-se no mais fácil. “A política não me interessa. Os políticos e os partidos são todos iguais.”

Não reconhecendo que a sua demissão é indutora da continuação do mesmo estado de sempre. Outros serão convidados a mudar o sentido do seu voto, apostando agora, por demérito de quem governa e como castigo, em quem “lidera a oposição” e está mais próximo de ganhar, substituindo o actual governo. Alguns se encarregarão de promover essa bipolarização. Para que fique como ficar, fique no essencial tudo na mesma. Mas também são cada vez mais os que não crêem nisso.

Muito pode mudar já em Outubro. Mas muito pode e mudará depois em Portugal. Não só não é inevitável que tudo fique na mesma, como o povo se encarregará de encontrar alternativas. A história é feita pelos povos e pela sua luta. A história está repleta de momentos em que o aparentemente inesperado acontece.

Não por acaso, é certo. Mas pela luta dos explorados, pela força que alcançam. Momentos houve e haverá em que os poderosos desistem, vencidos, incapazes já de sustentarem o seu poder e privilégios. Esses são os grandes momentos da história. Fernão Lopes, cronista do povo, descreve bem como a arraia-miúda foi determinante em 1383-85.

Na França revolucionária, a abolição dos principais direitos e privilégios ancestrais dos grandes senhores, proclamada na noite de 4 de Agosto de 1789, enquanto os castelos ardiam, foi proposta e aprovada pelo voto dos próprios grandes senhores! Por vezes, a história parece difícil de entender.

A primeira república espanhola foi proclamada pela assembleia nacional (congresso e senado) de minoria republicana, em Fevereiro de 1873, por uma larga maioria de monárquicos, 258 votos contra apenas 32. A nossa história é muito rica em momentos de ruptura. 1640. 1820. 1910. 1974. O mundo move-se. O povo não se rende, mesmo quando parece mais adormecido.

Vem tudo isto a propósito das inevitabilidades. Inevitável é a reconquista da soberania nacional e a luta de um povo por melhores condições de vida. Agora, em Outubro, o voto é uma arma que pode contribuir para a alternativa necessária.

One Comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.