Cada vez que resolvo abrir alguma antiga agenda, me assombro com a ingenuidade, a urgência, a necessidade, o caos que encontro ali gravado em palavras…Mas, ao mesmo tempo, me reconheço inteira, com todos os meus lados mais obscuros, além dos mais óbvios, que eu nem mesmo sabia que estavam ali…Comecei a escrever sobre isso em um post, mas, como todos os outros, ficou suspenso em uma idéia incompleta.
Ainda preciso fazer um efetivo exercício de escrita para conseguir realmente expressar meus pensamentos e sentimentos em palavras. Meu incrível poder de síntese, que pragmaticamente me é muito útil, torna-se um empecilho para transformar meu Ser em um texto que faça um mínimo de sentido.
Pensando bem, agora me ocorreu a seguinte ideia: estou me tornando a síntese de mim mesma. É mais prático, economiza um mundo de energia gasto em existir. Então, simplesmente preservo minha existência sendo menos eu. Não preciso trocar de personalidade, apenas reduzir o esforço dispendido no exercício da dor e delícia de ser o que é…
E assim se passam os meus dias, existindo menos, numa versão low profile que, se não chega a ser uma negação de mim, com certeza não sou eu. As horas passam e a vida se torna menos densa.
O que também se torna um problema, porque se um dia eu quis criar asas e voar, não era com essa falta de densidade. Porque essa economia de mim não se traduz em leveza…
Continuo sendo uma nuvem negra, carregada, daquelas que prenunciam tempestades, quando na verade gostaria de ser uma nuvem gordinha, branca, daquelas bem ralas, que o vento carrega sem esforço, que forma desenhos suaves…

Mas, o que na verdade eu queria dizer quando comecei esse post é que, teoricamente, eu gosto de mim.
Eu me acho uma pessoa inteligente, gosto de todos os meus gostos, gosto das opiniões que tenho, das músicas que escuto, dos livros que leio, das ideias e da maioria das minha loucuras.
O problema é que o fato de gostar de mim não torna a convivência comigo mais suportável, mesmo estando nessa versão menos, a convivência ainda é dolorosa.
Um dia eu chego lá…

* O início desse post resultou de um comentário no Blog Between rupture and rapture

 

Um pensamento sobre “

  1. Fiquei tão feliz quando vi que o seu comentário no meu blog acabou virando um post no seu.

    Ando pensando muito a respeito de agendas e anotações em geral. Ando me perdendo de mim mesma ultimamente, ando me prometendo escrever mais o ano que vem e amarrar os detalhes em páginas com ou sem linhas. Sou uma pessoa que precisa de memórias, que precisa confirmar os fatos com alguma coisa por escrito, algo que realmente me diga que tudo aconteceu, que não ando inventando coisas.

    Afinal de contas, de vez em quando me acontecem umas coisas tão estranhas/surreais, que preciso de validação externa.

    😛

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