São Paulo, Califórnia.
E eis que chega o segundo dia do Lollapalooza, a congregação pós-moderna que envolveu São Paulo em um filtro vintage de uma Lomo Diana ou Instagram for iPhone™ (para os mais ~~~tech lovers~~~) neste último final de semana. Aliás, antes de entrar na questão musical, vale um adendo para a vestimenta do público frequentador. É curioso notar como a moda hipster e o comportamento estão completamente massificados. Tem um quezinho da globalização consumista que padronizou por completo e homogeneizou várias tribos que poderiam ter diferentes comportamentos e atitudes. Nas roupas, mostramos um ~~~mashup~~~ de referências para não se referirem a absolutamente nada. Nas atitudes e comportamentos, há um excesso de desdém tão grande que só pode significar o intenso acúmulo de objetos (pessoas como objetos inclusas também) para nos divertirmos e jogarmos fora. Bonito isso. Só que não. E é justamente neste excesso de desdém, também visto como uma atitude blasé, nome mais cool pra isso, que eu vou me atentar na crítica musical do Lollapalooza. E a constatação de que o cenário musical está realmente triste só se intensifica. Vide o caso da banda que ilustra este post, o MGMT (ou Management, para os iniciados).
Esta banda, supra-sumo dos desejos hipsters há 6 anos atrás (like, so long ago) fez um show que, posso dizer sem nem pestanejar, foi o pior que já vi. Tudo bem que falar mal da atitude ao vivo desta banda é chutar em cadáver, mas não custa aqui se atentar para alguns pontos importantes sobre como esta atitude blasé é boa só quando nós praticamos, e não quando recebemos de alguém. Andrew VanWyngarden, líder da banda, simplesmente ligou o foda-se, adotou uma postura de não estar nem aí para a plateia e cantou com uma falta de vontade que dava raiva. Uma banda com o potencial de fazer as pessoas entrarem em um catarse coletivo com músicas que são hinos da juventude pós-qualquer coisa e que simplesmente não soube lidar com a situação de que a massa poderia pular, chorar e gritar com as batidas sexuais de “Electric Feel” ou com o ritmo viciante de “Kids”. Para Andrew VanWyngarden, estas músicas são tão last week que nem dá mais vontade de cantar. E é essa extrema falta de vontade que eu chamo de paumolismo musical, que se estende para outras bandas indies deste festival, como o Friendly Fires e o Foster the People.
Bem, o Friendly Fires fez aquele show fácil de enganar e de parecer que é bom, já que o vocalista se esforçou, rebolou, tentou mostrar que estava ali realmente presente para a plateia, mas a banda não ajuda. Por que estas bandas insistem em colocar um milhão de camadas e sonoridades em suas músicas se, ao vivo, elas vão ficar bem baixinhas, para ninguém realmente ouvir ou sentir? Acho que é um conservadorismo tremendo eles se sujeitaram a deixar a guitarra e a voz mais alta. Cadê as baterias diferentes do Friendly Fires? Cadê os metais que se ouve nos álbuns de estúdio, a linha de baixo? Os sons que fazem a galera realmente sentir a música nas noites do Estudio M viram perfumarias. Eles até estão lá no palco, mas ninguém ouve. Esta bandas são todas boas de estúdio, mas péssimas de palco. Se isto se passasse há 40 anos, como foi com o caso dos Beatles (e não estou aqui comparando estas bandas com os garotos de Liverpool), tudo bem. Mas hoje, quando querer viver de álbuns não é mais um bom negócio, é mais do que necessário tirar o blasé do rosto ou do som pra fazer um show, no mínimo, honesto. O Foster the People, pelo que me dizem (estava vendo o Skrillex, meu próximo ponto), até fez esse show honesto, mas creio que essa banda sofrerá um estigma muito pior para uma banda: Luciano Huck adotará esta banda em suas baladas em Angra, suas músicas serão hits do Buddha Bar e Disco e DJs com nomes diminuídos e sobrenome de bem nascido farão remixes para a galera delirar no Sirena. Aí, meu amigo, esta banda vai cair no pior ostracismo possível.
Voltando ao ter alma. Gogol Bordello mostrou isso perfeitamente bem no calor saárico das 14h. A banda de Eugene Hutz realmente acredita na música que está fazendo e, mais do que isso, na mensagem que tem para passar. Na verdade, ao contrário das outras bandas indies, eles têm uma mensagem. E isto faz toda a diferença. Eles não estão lá no palco apenas brincando, pulando, se divertindo pra caralho no carnaval cigano que organizam. Você percebe que no meio de toda aquela brincadeira existe algo verdadeiro. E isto se traduz no som da banda, tudo alto, com todos os instrumentos tendo o seu merecido destaque, e na atitude da banda, de ter buscado uma verdadeira inovação dentro do rock e dentro de suas próprias músicas (de uma pegada completamente cigana no começo da carreira, para algo cada vez mais latino nos últimos álbuns). E é esta mudança de comportamento musical que faz do Skrillex o ponto mais importante deste post.
O ex-emo e auto-intitulado rei do dubstep e da música eletrônica é amado por muitos e odiado por muitos. Na verdade, este é o primeiro ponto bem positivo a seu favor. Foo Fighters, mais do que agradar todo mundo, não desagrada ninguém. Skrillex não. O som é difícil de ouvir, às vezes até insuportável. Parece realmente a rebelião das máquinas ou um robô sendo torturado pelo DOI-CODI. Mas ele é novo. E completamente inovador dentro de si mesmo. O show nunca cai no marasmo, seja pelos efeitos de luzes impressionantes ou pelas mudanças abruptas em todas as músicas quando menos se espera. E é isso que um show pode e tem que trazer. E o jovem Skrillex entende isso muito bem e tem na mão os seus admiradores. O controle do show é todo dele, mas, mais do que isso, ele controla um show inteiro com momentos inesperados. Ao contrário do Foo Fighters, que busca agradar sem sair da zona do conforto. E é justamente esta falta de conforto que faz do som do DJ com o cabelo mais feio do mundo (parece sarna) algo único.
Bem, encerro aqui meus posts sobre o Lollapalooza e as percepções acerca dos dois dias de shows. Espero que vocês tenham gostado.
Hasta!