O Glacial – Junho a Dezembro de 1972

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O “Sermão aos Pássaros” de Carlos Faria, Fernando Arrabal e a cor PÂNICA


 


Tenho procurado, ao longo de toda a complicada tarefa de reconfigurar e ordenar a colecção de Glaciais, trazer aqui motivos de especial interesse que digam respeito aos próprios conteúdos, às personalidades colaborantes ou citadas no suplemento.
Hoje encontrei aqui uma recordação do meu convívio com Carlos Faria e acho que tem algum cabimento mostrá-lo, juntamente com o facto de ilustrar o gosto estilístico que tinha em usar a sua preferida “cor pânica” e, inclusivamente, de ter folhas de papel de carta editadas nessa cor e que mostravam, do lado esquerdo, a toda a altura, a expressão: PÂNICO.


Essa cor e a designação de PÂNICO tinham a ver com a inconfundível figura do irrequieto escritor, dramaturgo e cineasta espanhol Fernando Arrabal, fundador de um movimento com essa designação que, desculpem-me os meus leitores, não vou procurar definir em todas as suas características. Há várias presenças no “Glacial” de poemas de Fernando Arrabal, além doutras no nº 27 de 1 de Abril de 1969.
No Glacial nº 59 de 10 de Dezembro de 1970 há um resumo bastante qualificado do itinerário de vida e da obra de Arrabal, da autoria do grande crítico de teatro e dramaturgo Carlos Porto. Esse resumo, além do nome do retratado, é encimado, julgo que por iniciatíva de Carlos Faria, com a expressão “O homem do pânico…”. O que nele se diz a certa altura chega bem para caracterizar o interesse que Carlos Faria tinha pelo artista:

“…Obra profética e marginal, provocatória e compro­metida, obsessiva e isolada é a imagem da personali­dade inconformista e exibicionista, espanholíssima e uni­versal do seu autor. Alguns termos definem essa per­sonalidade e essa obra: Morte, Sexo, Absoluto, Anar­quia, Solidão, Beleza, Destruição, Amor.”

O ser uma figura “espanholíssima” arrastava desde logo uma imensa admiração em Carlos, cujas alusões a Espanha, ao seu povo e à sua cultura eram sempre entusiásticas!…

Abaixo, numa dessas folhas de “cor pânica” que Carlos Faria me ofereceu, um poema que me ditou. O poema dele está assinado em nome de Karlos Faria.
O nome Karlos foi escrito por mim, naquela letra desenhada que às vezes fazia, e que sempre era diferente consoante as circunstâncias, mas o nome FARIA já foi escrito por ele mesmo, na sua bela e muito regular caligrafia.
O poema pareceu-me lindíssimo nessa altura pelos sentidos que contém, pelo ritmo e pela atmosfera pluralíssima de inquietação e sonho que são específicas da escrita do seu autor.
Gostei muitíssimo deste poema – e por isso lhe pedi que mo ditasse para ficar com ele  – e faria outro tanto hoje porque contém intacta toda a sua vibração e frescura de horizontes poéticos e de MENSAGENS humanizadas e actuantes!…

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“Sermão aos Pássaros”, escrito por mim em fundo de COR PÂNICA, assinado a meias por mim e pelo Carlos, num serão qualquer em Ponta Delgada, fim dos anos sessenta. COSTA BRITES

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depois de lido este conjunto de GLACIAIS pode clicar nesta frase para ter acesso ao seguinte

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