Ano VII

Heleno

quinta-feira abr 12, 2012

Heleno (Heleno, 2011), de José Henrique Fonseca

Duas coisas me agradam em Heleno: a atuação de Rodrigo Santoro, neste filme mais do que apenas correto, e o fato do filme não seguir a cartilha narrativa de boa parte do cinema nacional que imagina saber o caminho das pedras para atingir o público e acaba sempre morrendo na praia, como se o problema fosse, apenas, de ordem narrativa, e como se o público e seu anseio fosse algo fácil de definir e captar. Nessa espécie de jogo de “esconde-esconde”, “batalha naval”, seja lá o que for, procura-se mais a fórmula certa do que uma verdade a ser filmada, e daí o naufrágio certo. Heleno foge disso, ousa até mesmo no preto e branco, apesar de alguns excessos na fotografia de Walter Carvalho, mas ainda assim, não dá para dizer que Heleno seja um bom filme. É, sim, um filme estranho, com asperezas, irregular e imperfeito, e os bons momentos, que são muitos, só acentuam, como já escreveu Inácio Araújo no seu blog, a sensação de que falta algo ao filme.

Esse algo me parece relacionado à sua “alma”, a uma unidade na estrutura dramática que o tornasse menos frio e mais vibrante, menos escorregadio na relação que estabelece com o público. Contribui para esse distanciamento as idas e voltas no tempo que nem sempre parecem claras ou necessárias, um ar etéreo demais em certas cenas e, sobretudo, opções na decupagem das sequências e em certos planos que chamam mais a atenção do que deveriam, quebrando não só o ritmo do filme, mas também se opondo ao que a estrutura dramática do filme pede.

Entre fugir inteiramente da cinebiografia comum, plana, cronológica e buscar uma narrativa mais ousada, o diretor José Henrique Fonseca parece ter ficado com um pé em cada opção e Heleno parece não fluir como deveria, não nos envolve como gostaríamos e dá muitas vezes a sensação de que a história que está sendo contada é maior que o filme, que o filme não consegue dar conta dela, que a adorna demais ou que não capta, ainda que Santoro esteja muito bem, o caráter ambíguo e autodestrutivo do personagem.

Alguns momentos do filme são muito grandes, um deles me parece antológico que é a sequência na qual os internos no sanatório em Barbacena estão sentados com o enfermeiro ao ar livre e Heleno não só brinca com a forma de falar do enfermeiro, que prolonga as vogais antes de começar as palavras, como força um companheiro a aceitar um cigarro, o que gera uma reação inesperada deste e uma relação bastante intensa e dramática entre ambos. Este e outros momentos que poderiam ser descritos aqui parecem, no entanto, não formar um conjunto homogêneo, são fragmentos, blocos isolados, inarticulados.

Cesar Zamberlan

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