Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

Escárnio ao verde

5 Comentários

Aqueles que teimam em mutilar o Código Florestal e a causar ao Brasil males com certeza irreparáveis, deveriam pensar melhor em sua responsabilidade. O meio ambiente é bem comum a todos, que o pacto republicano confiou à guarda do poder público e da sociedade. Sem a sua tutela, não haverá mais vida no planeta. As futuras gerações dependem da sensatez das atuais. E estas já se mostraram insensatas. 

Continuam a desmatar, a poluir, a conspurcar a natureza. A devastação da Amazônia desequilibra o clima. Todos sentem na pele – e milhares já morreram – por causa do caos climático. Inundações são constantes. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul enfrenta a maior estiagem de sua história. E a seca na região amazônica em 2010 surpreendeu a todos. Como pensar que a região mais provida de água doce enfrentasse tal carência? 

A questão é eminentemente moral. Falta com a moral quem não leva a sério as ameaças persistentes de afligir o que já é por demais aflito e de continuar a impor o castigo da inclemência à desprotegida cobertura verde, patrimônio que homem algum construiu, mas que sabe – criminosamente – destruir. 

A Amazônia é um diferencial que qualifica o Brasil a ostentar fortes razões de orgulho perante os demais habitantes da Terra. Como fomos perder esse brio e pactuar com a tendência dendroclasta? Apelemos a Gonçalves Dias, que em carta a Antonio Henriques Leal, já chamava o brasileiro a encarar a Amazônia com respeito e devoção: 

“Vós que, semelhantes a mim e a muitos outros, talvez sem razão, vos entristeceis ou irritais com o jeito que as coisas vão tomando, acaso porque se vos tornou menos risonho o céu de vossa imaginação, – vós que, num acesso de hipocondria, chegastes a desamar a terra de que sois filhos e a descrer dos homens de que sois irmãos – vinde-me aqui passar um quarto de hora em noite de luar sereno, ou nessas noites de escuro, ainda mais belas e mais serenas que as outras, em que milhões de estrelas se refletem nas águas, e no escuro transparente do céu e do rio desenham o duplicado perfil dessas florestas imóveis e gigantescas; respirai-me estes aromas, que se elevam suavemente combinados, como de um vaso de flores colhidas de fresco, e haveis de achar-vos outro, e, como nos tempos felizes da juventude, capaz ainda das ilusões floridas, da confiança ilimitada, da fé robusta, nos sucessos, nos homens, no futuro, e, sequer por alguns momentos, podereis sentir orgulho de vos chamardes brasileiro também”.

José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.

Autor: Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. Atual Reitor da UniRegistral. Palestrante e Conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

5 pensamentos sobre “Escárnio ao verde

  1. Sua sábias palavras me remeteram à um trecho do filme MATRIX, onde o agente Smith, ao tentar obter de Morfeus o código de Zion, fala sobre a relação da raça humana com seu meio ambiente. Neste trecho ele enfatiza que o homem é o único ser entre todos os seres vivos na terra, que se instala num local como uma praga, suga todos os seus recursos e depois de dizimar tudo, migra para outro local para repetir o mesmo feito, por isso deveria ser aniquilado da face da terra.
    Hoje vejo que esta fala, apesar de ácida, é uma crítica a realidade que o homem está impondo a si mesmo. Até os gafanhotos, espécie devastadora de plantações, se recolhe por um tempo até que a natureza se recomponha de sua destruição.
    É preciso que o homem pare de se comportar como um tumor maligno no meio ambiente, sob pena de corroer-se a si mesmo, irremediávelmente!

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  2. Desembargador, gostaria de pedir que o Senhor escrevesse um artigo explicando tudo aquilo que se pretende alterar no Código Florestal. Então, seus leitores do blog poderiam encaminhar o link do artigo também por seus emails e isso ajudaria a esclarecer melhor a situação atual.

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  3. Olá, Professor!

    O senhor está certo. Mas, se assim como o senhor, eu e a maioraia da população não apoiamos a reforma do Código Florestal, como é possível essa reforma ser aprovada? O Congresso está representando quem, afinal?
    Penso que uma matéria tão importante deveria ser objeto de plebiscito,
    para que a população possa ter, efetivamente, o direito de se manifestar.

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  4. Dr. Renato:
    Pelo tom de suas postagens no Twitter, sempre tão transparente e lúcido, vê-se o brihantismo de seu caráter. Suas publicações traduzem o bom senso e a necessidade de justiça que carregamos no peito.
    Parabéns, homem de bem, por sua conduta e sensata tentativa de mostrar a todos o quanto estaremos perdendo com a nova aprovação do Código Florestal. Que a vida, hoje tão desconsiderada por muitos homens públicos, que nos representam no Congresso, seja sempre a nossa máxima prerrogativa diante de todos os impasses, “ad infinitum”…
    Paz!
    .
    Ane

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  5. Dr. Renato, bom dia.
    Certa vez li, não me lembro onde, algo sobre “OS DEZ MANDAMENTOS DO PADRE CÍCERO”, coisa que se relacionava com a proteção do meio ambiente. Hoje me lembrei deles, fiz uma rápida busca na internet para reencontrá-los e aqui reproduzo o que encontrei (11, não 10).

    PRECEITOS ECOLÓGICOS DO PADRE CÍCERO

    1. “Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau.
    2. Não toque fogo no roçado nem na caatinga.
    3. Não cace mais e deixe os bichos viverem.
    4. Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer.
    5. Não plante em serra acima, nem faça roçado em ladeira muito em pé: deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza.
    6. Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água da chuva.
    7. Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta.
    8. Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só.
    9. Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a você a conviver com a seca.
    10. Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo ter sempre o que comer.
    11. Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.”

    Não sei se são verídicos, isto é, se realmente são da autoria daquele santo padre nordestino, mas, ainda que não, creio que se fossem seguidos, certamente nosso mundo seria hoje bem diferente. Gostaria de saber se realmente existiram tais “mandamentos”, uma vez que – na internet – é possível achar de tudo, inclusive textos falsamente atribuídos a autores renomados (“Instantes”, por exemplo, atribuído a José Luís Borges; coisas do tipo).

    Meus cumprimentos e um forte abraço.
    Roberto Villalva

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