As lágrimas de Jesus

Texto: João 11:35



Introdução

“Jesus chorou”. Neste texto, contendo somente duas palavras, onze letrinhas, não temos diante de nós o todo do caráter de Jesus Cristo, temos apenas um aspecto de suas muitas peculiaridades, isto é, uma parte do Seu caráter. Todavia, o texto é digno de cuidadoso estudo, porque é somente estudando as coisas aparentemente pequeninas que chegaremos, a seu tempo, a uma apreciação justa e real da pessoa de Cristo. Aqui está a manifestação de seus sentimentos diante das pessoas que o cercam, e nesse contexto, diante de um amigo que jazia na sepultura e de suas irmãs e vizinhos que ainda choravam porque sentiam sua falta. As lágrimas não são sinal de fraqueza, mas de sensibilidade as situações diversas com que somos confrontados diariamente. Quando alguém chora, está demonstrando seus sentimentos. As lágrimas podem revelar sentimento de perda, de desprezo, de dor, de alegria, de medo, de fome, etc. Não temos diante de nós todo o caráter de Jesus, temos apenas um aspecto de suas muitas qualidades. O evangelista apenas registrou em seu livro que Jesus chorou, mas não disse a causa de suas lágrimas. Pode ter chorado pela lembrança do amigo com quem estivera muitas vezes, mas também pode ter chorado por causa das irmãs dele que estavam chorando. Pois as vezes não choramos por causa do problema, mas choramos porque vemos outros chorar. O foto é que Jesus chorou!

I- Quais seriam as causas das lágrimas de Jesus


Confesso que não é fácil pensar nas lágrimas de nosso Senhor, mas sabemos que tinha os mesmos sentimentos que fazem parte de nossa estrutura como humanos. Quantas vezes ficamos chocados diante de quadros tão gritantes, de pessoas que se sentem tão impotentes diante de problemas que lhe afligem e a única coisa que podem fazer é chorar, chorar desesperadamente. Infelizmente muitas pessoas estão perdendo a sensibilidade diante dos problemas pelos quais tantas pessoas estão passando. Outros há, que não tem mais lagrimas para chorar, tamanho é seu sofrimento. Mas, quais seriam então, as causas das lágrimas de Jesus? 1- A Sua humanidade. Não podemos negar, que é extremamente difícil compreender o fato da verdadeira humanidade de nosso Senhor… Isso desaparece de nossos olhos pelo esplendor de Sua Divindade. Jesus foi perfeitamente homem e foi perfeitamente Deus e foi tão íntima a união do humano com o Divino. Porém, sua humanidade é idêntica a qualquer de nossa raça. Ele nasceu como os demais homens nasceram; foi criado e nutrido como as demais crianças são criadas e nutridas, crescendo em estatura, em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Tinha fome e comia; fatigava-se e dormia; tinha cansaço e descansava, tinha sede e bebia água; tinha fome e comia; foi ferido e morreu; tinha os mesmos sentimentos de dor, de aflição e de lágrimas. Cremos que Sua natureza era tal qual a nossa, exceto no pecado, embora que nos seja difícil senti-la e imagina-la, na gloria de sua mais alta essência. E, é digno de nota que o único evangelho onde a Divindade de Cristo é mais afirmada, é onde também mais profundamente o Seu lado humano se apresenta. O evangelho de João. A primeira vista parece uma blasfêmia falar de Deus sendo triste, fraco, cansado, com fome…. Todavia, foi fato que Ele sentiu sede, cansaço, fome, os desconfortos da vida e a angustia da cruz.. Não teve vergonha de sua fraqueza. Ele poderia ter reprimido suas lagrimas – muitos pessoas assim fazem habitualmente, mas Ele não quis assim fazer – queria deixar registrada a sua naturalidade. O que fez foi uma coisa natural do humano. Suas lágrimas não eram fruto de arrependimento por crime cometido, como foram as de Pedro. Jesus chorou com a mesma naturalidade como choraram Marta e Maria. 2- A Sua piedade. É outra causa de suas lágrimas. Por que o filho de Deus se fez homem? Para estar em perfeita simpatia conosco. Para que sendo “carne de nossa carne e osso de nossos ossos”, Ele pudesse ser capaz de sentir não meramente por nós, porém, conosco, em todas as nossas dificuldades, tristezas e dores. As lágrimas de Cristo não significam, aqui, o que as suas lágrimas significaram quando Ele chorou sobre Jerusalém. As lágrimas em Jerusalém foram lágrimas que podemos chamar de lágrimas proféticas, porque Ele chorou prevendo as calamidades que inevitavelmente cairiam sobre a nação Judaica por causa da dureza dos corações, -rejeitando-O – rejeitando a Ele que viera trazer a vida eterna. Chorou pensando na triste sorte daqueles que O estavam rejeitando e de outros que iriam rejeitar o Seu dia de graça, e o que poderia dar-lhe a paz. Tais pensamentos, porém, não teve Jesus quando chorou sobre o túmulo do Seu fiel amigo Lázaro. O que provocou estas lágrimas silenciosas de Jesus foi a Sua grande simpatia para com as irmãs chorosas. Assim, Suas lágrimas eram a resposta de Sua natureza humana ao apelo de Sua tristeza. 3- A Sua tristeza. É outra causa de suas lágrimas. A Sua tristeza era dupla: a)- As lagrimas de Jesus eram, então, em parte causadas pelo pensamento de toda a humilhação e sofrimento que o pecado, nos homens, despertava e movia o seu coração. Sabemos que o pecado entristece profundamente o Espírito Santo de Deus. b)- Ele viu claramente patenteada a vitória da morte. Revivia a obra da criação feita sem falhas – quando viu que “tudo era bom”, e agora…. o bem se tornou em mal….estava morto seu amigo como conseqüência do pecado “Porque o salário do pecado é a morte”. c)- Porém, houve um outro pensamento que provocou as lágrimas ou a tristeza de Jesus. É que o maravilhoso beneficio que Ele ia fazer às desoladas irmãs de Lázaro, com a ressurreição de se amigo, custar-lhe-ia um grande preço. A fama deste milagre seria a causa imediata de Sua prisão e crucificação. Aqui está a injustiça e ingratidão dos homens que iriam pagar-lhe o bem com o mal.

II- As lágrimas de Jesus são um penhor

Garantia. As lagrimas de Cristo falam-nos do futuro e nos mostram o que Jesus que sempre ser. Tudo o que foi feito por Cristo sobre a terra, o foi para lição de todos os tempos. A significação de Suas ações não se limitava às pessoas e aos lugares e circunstancias em que Ele procedia. Elas se estendiam como parábolas para ensinar o mundo. Quando Jesus chorou com Marta e Maria, Suas lágrimas prometiam que todos quantos sofressem no futuro, até ao fim dos tempos, encontrariam idêntica simpatia de Seu terno coração. A rebelião de muitos vem pelo pensamento que Deus, como um soberano absoluto, está longe dos que sofrem, e que, para seu prazer, sua criatura sofre…. Assim não se manifestou o Senhor Jesus, mas as Suas lágrimas são a garantia de que Deus nos ama e deseja o melhor para todos nós. Fica triste com nossos sofrimentos, que muitas vezes é o resultado de tudo que semeamos em nossa existência. Mesmo assim chora conosco.

III- As lágrimas de Jesus são um exemplo para nós

Os seguidores de Cristo não estão isentos do sofrimento. A dor é coisa natural e justa para o espírito humano. E isso deve levar-nos ao reconhecimento da subordinação de nossa vida à vontade celestial. Cristo, o modelo da humanidade, o espelho de tudo que era nobre e dignificador, teve o alivio das lágrimas. Ele, ao invés de levantar-se acima da humanidade, coloca-se ao seu nível. Mais uma vez as lágrimas de Jesus nos ordenam simpatia com todos os corações tristes e buscam conforta-los. Daí, como sempre, Ele é o exemplo para os filhos de Deus. Nossa simpatia, é, na verdade, coisa nula, comparada com a simpatia de Jesus; todavia, de algum modo pode contribuir para auxiliar os outros. Cristo nos ordena a segui-lo em sua grande simpatia. Ele nos ordena que tenhamos simpatia para com os homens, não no sentido de condescender com o mal, compactuando com o pecado, mas solidarizando-nos na sua dor, como ordenou também o apostolo Paulo: “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram”. Não amemos o pecado, mas amemos o pecador.

Conclusão

Cristo ainda hoje continua chorando, movido de profunda simpatia pelos que sofrem e chorando pelos que o rejeitam. Precisamos aprender a ter simpatia com os que sofrem pois este é um dos meios mais eficientes de se ganhar almas para Cristo. Abençoado é aquele que sabe ser afetuoso, o que chora com os que choram e que se compadecem da miséria alheia e procura levar o lenço da consolação e o refrigério para a alma desolada.

 

Pr. Cirino Refosco
cirinorefosco@pibja.org

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