Impressões de um peregrino.

Por Luciano Mendes

Nosso Senhor nos Santos Evangelhos diz que se entra no Reino dos Céus pela porta estreita (Mt 7,14-14). E também nos ensina que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve (Mt 11, 28-30).

Em absoluto, estas duas sentenças do Evangelho resumem o caminho de um peregrino.

No último domingo, 30 de outubro, eu e um grupo de amigos tivemos a graça de nos unir aos Peregrinos de Cristo Rei na cidade do Rio de Janeiro.

Juntos, percorremos longas horas a pé e também de bonde até chegarmos aos pés do Cristo Redentor.

Para muitos talvez esta caminhada seja só um belo momento de admirar a paisagem paradisíaca que o caminho rumo ao Cristo Redentor oferece, para outros pode significar também um momento de contato com a natureza ou então a simples visita a um monumento que é considerado uma das sete maravilhas do mundo.

Porém, na vida de um católico toda a leitura aparente das coisas temporais muda, e o significado temporal de algo que se parece com um passeio ganha caráter sobrenatural e torna-se peregrinação.

E este caminho de peregrinos que fizemos nos mostra que realmente somos seres que estão de passagem por este mundo e que, por mais que as realidades e as experiências humanas nos tragam satisfação e alegrias, o nosso objetivo é chegar a Cristo.

O caminho foi longo, nosso grupo levou umas 4 horas até chegar aos pés do Cristo Redentor, e nele tivemos tempo de rezar e meditar juntos e também individualmente.

Por alguns momentos eu quis me afastar do grupo justamente para poder meditar um pouco mais diante do caminho que eu fazia.

E no meio do caminho percebi que a vida cristã é idêntica ao caminho que fiz como peregrino do Redentor. E que estou neste mundo como um peregrino também.

Em alguns momentos, seja na peregrinação ao Cristo, seja na vida, sentimos que não chegaremos nunca. O caminho parece não ter mais fim e, apesar de tudo de belo que este caminho tem, o nosso objetivo é chegar lá no alto.

A certa altura olhei para o alto e vi o Cristo muito distante, mas de braços abertos só esperando os seus peregrinos como que com o sinal de um grande abraço que o Pai está pronto para dar aos filhos que tanto caminharam para chegar até Ele.

Num período do caminho só havia descidas, descidas íngremes, e até brinquei com um dos amigos que eu nunca havia chegado ou ido tão baixo. Mas, na realidade, de vez em quando desço muito mais baixo, quando não dou testemunho na minha peregrinação rumo aos céus e quando não sou digno de ser chamado filho de Deus com tantas faltas e imperfeições minhas. Mas eu olhava para cima e Ele permanecia lá, de braços abertos a me esperar.

Quando as forças pareciam acabar e quando achávamos até que já havíamos chegado ao mais baixo, avistamos a estação do bonde que leva até aos pés do Cristo.

A sensação foi de alívio e de alegria, e todo o cansaço pareceu naquele momento desaparecer. A figura do bonde me lembra as consolações de Deus em nosso caminho: quando as forças parecem estar no limite, é próprio Senhor que vem ao nosso encontro e nos reanima através da Igreja e de seus Sacramentos.

E a subida foi uma experiência singular, como que um preâmbulo da beleza e da majestade que nos esperava lá no alto.

Quando chegamos até o alto, ficamos extasiados com a imensidão do Cristo e ao mesmo tempo vimos o quanto somos pequenos diante de sua divindade e da sua criação.

Dos pés do Cristo Redentor é possível ter idéia de como a cidade do Rio de Janeiro é linda e sua natureza é exuberante.

Mas a experiência não terminou. Pouco tempo depois, tivemos a graça de reunirmos em torno da capela que há aos pés do Redentor para assistirmos ao Santo Sacrifício da Missa.

E assim, lá do alto, o Cristo se fez presente para todos nós e para todo o Rio de Janeiro em corpo, sangue, alma e divindade na Santíssima Eucaristia.

De certa forma, ouso dizer que fomos aquela pequena gota d’água que se coloca no vinho no ofertório e unidos a Cristo nos tornamos partícipes do sacrifício, suportando um frio enorme e um vento forte durante a Santa Missa.

O desconforto causado pelo frio não é nada comparado ao amor imenso que Nosso Senhor tem por nós quando na Cruz perpetua o seu único e eterno Sacrifício.

E ao fim da missa e na viagem de volta para casa pude meditar e entender que meu papel neste mundo é o de ser peregrino e de enfrentar a tudo e a todos se for necessário para estar aos pés do Cristo.

Fico imaginando que se figuras de linguagem e a bela paisagem são um pouco do céu na terra, quanto mais será o dia do fim da nossa peregrinação e o nosso encontro com Senhor que está nos esperando de braços abertos ao lado de sua Santíssima Mãe.

Fotos: Sentinela Católico

9 comentários sobre “Impressões de um peregrino.

  1. Muito lindo e verdadeiramente uma lição. Eu nunca tinha pensado com profundidade sobre que a vida é uma peregrinação, e, como tal, tem mil acidentes no percurso.

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  2. São muitos os relatos de pessoas que ficam extasiadas com a beleza do caminho até o Cristo e tem seu ápice com a visão da natureza aos pés do Cristo. Quão maravilhosa a obra da criação. Quão maravilhosa a certeza pela fé que fomos criados para dominar tão magnífica natureza quão maravilhoso seguir o caminho em que homens dominaram a natureza e no topo de tão imponente rocha elevaram a imagem de Cristo Rei e como maravilho foi ouvir o sacerdote defender a soberania de Cristo sobre nós, sobre nossa família e sobre toda a sociedade. Se os turistas tem o ápice com a visão natural a nossa foi a visão sobrenatural a certeza da presença real de Cristo e se os turistas perdem a voz diante da beleza natural o católico grita e o peregrino soma-se ao cruzado para gritar o mais alto possível para que todos possam ouvir que Cristo Reina! Cristo Impera!

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  3. Fui um dos privilegiados que estiveram nesta peregrinação. O articulista foi muito feliz em traçar este paralelo entre nossa vida e uma peregrinação. Ainda mais quando chegamos tão baixo e acabamos por encontrar a misericórdia divina quando menos esperamos…

    O sermão do pe. Anderson foi espetacular, certamente um dos melhores, se não o melhor, que ouvi em toda a minha vida.

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  4. Muito bom o depoimento mesmo.Uma pergunta: A foto que ilustra o tópico é uma foto da missa?

    Fiquem com Deus.

    Flavio.

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