“Ocupar Wall Street”. O Vaticano nas barricadas.

Às vésperas do G-20, a Santa Sé invoca uma autoridade política universal que governe a economia. Para começar, pede que se implemente um imposto sobre transações financeiras

Por Sandro Magister | Tradução: Fratres in Unum.com

ROMA, 24 de outubro de 2011 – Segundo o parecer do padre Thomas J. Reese, professor da Universidade de Georgetown de Washington e ex-diretor de “America”, o semanário dos jesuítas de Nova York, o documento divulgado hoje pela Santa Sede “não apenas está mais à esquerda de Obama: está também mais à esquerda dos democratas liberais e mais próximo dos pontos de vista do movimento ‘Ocupar Wall Street’ que de qualquer um dos membros do Congresso dos Estados Unidos”.

Na verdade, o documento difundido na segunda-feira, 24 de outubro [hoje], pelo Pontifício Conselho “Justiça e Paz” invoca o advento de um “mundo novo” que deveria ter sua dobradiça em uma autoridade política universal.

A idéia não é inédita. Ela já foi evocada na encíclica “Pacem in terris” de João XXIII, no ano de 1963, e já foi relançada por Bento XVI na encíclica “Caritas in veritate”, no ano de 2009, no parágrafo 67.

Porém, a “Caritas in veritate” dizia muitas outras coisas e o presságio de um governo mundial da política e da economia não era seguramente o centro.

Aqui, pelo contrário, todo o documento gira em torno desta idéia, reclamada desde o título:

> “Por uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública com competência universal”

O que há de utópico e de realista na invocação de tal governo supremo do mundo podemos vislumbrar na desordem geral que nos descrevem diariamente as crônicas da atual crise econômica e financeira.

Porém, pertence ao âmbito do realista e viável um elemento específico de inovação auspiciado pelo o documento: os impostos sobre transações financeiras, também chamado “imposto Tobin”.

O documento dedica poucas linhas a essa proposta. E sabe que esta é contestada por objeções fortes e fundamentadas. Assim como também se sabe que a mesma é apoiada por economistas famosos, como Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs.

Porém, ao apresentar o documento à imprensa, a Santa Sé decidiu mostrar-se decisivamente a favor do “imposto Tobin”, não somente pedindo para “refletir sobre ele”, tal como se lê no documento, mas também respondendo ponto a ponto às objeções e mostrando a viabilidade e a utilidade já no imediato.

Esta apologia do “imposto Tobin” foi confiada ao economista Leonardo Becchetti, professor da Universidade de Roma “Tor Vergata”. Ele desenvolveu a sua tarefa com precisão e com grande quantidade de dados.

> “O Aspecto positivo da crise…”

Sobre a mesa dos chefes de governo do G-20, que se reunirão em Cannes, na França, nos dias 3 e 4 de novembro próximo, estará presente então esta clara postura da Santa Sé a favor da introdução do “imposto Tobin”, cuja  arrecadação “poderia contribuir para a constituição de uma reserva mundial para sustentar as economias dos países golpeados pela crise”.

19 comentários sobre ““Ocupar Wall Street”. O Vaticano nas barricadas.

  1. Giulia d’Amore, por incrível que pareça, mas hoje eu até que estou feliz por ninguém mais dar ouvidos para o que sai do Vaticano!

    O mundano está claramente nas intenções do Vaticano.

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  2. “está a esquerda de obama,” autoridade política universal”,”um mundo novo”,….hummmmmm……..

    Se não se soubesse da promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão e de Nossa Senhora de que seu Imaculado Coração triunfará,dava para pensar que estamos perdidos.

    Muitos bons os tópicos mais recentes,Ferreti. Não sei se é proposital ou não,mas são tópícos que se interligam e mostram o quadro,mesmo para os mais desavisados,da dura realidade em que vivemos.

    Kyrie Eleison.

    Fiquem com Deus.

    Flavio.

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  3. Foi o que pensei, Renato.
    Era mais ou menos o que eu iria comentar aqui. Se a Santa Sé está desprestigiada em termos de autoridade, de respeito e obediência, se a ignoram em suas posições doutrinais e morais, quanto mais em seus pitacos sobre economia?

    Todo o labor desde Gregório XVI a Pio XII foi por água abaixo. Antigamente a Igreja era temida como um real obstáculo. Hoje em dia ela é ignorada e ridicularizada. E falar em economia, na esperança de demonstrar clarividência não contribui em nada. Daqui a pouco ninguém mais se dará ao trabalho de sequer noticiar estas declarações da Santa Sé.

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  4. Que tristes e confusos tempos vivemos: o Papa diz uma coisa, o Vaticano outra!

    E quando falam juntos, falam por meio de códigos comprometidos, no escrúpulo de não desagradar a ninguém, tornando assim a própria fala aberta a toda e qualquer interpretação.

    Quem negar a existência de uma crise merece ter a língua colada ao céu da boca!

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  5. Esta é sem dúvida uma das coisas mais graves que já li neste blog.
    O Pontifício Conselho “Justiça e Paz” (cardeal Turkson-presidente e Mons. Mario Toso-secretario) está de braços dados com dois notórios esquerdistas -e mesmo marxistas- Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs.

    1- Joseph Stiglitz teve a “honra” de ter publicada a defesa da estatização da propriedade (comunização) no GRANMA, jornal do Partido comunista de Cuba, em 07-02-2007, em que defendia as expropriações feitas pelo tirano comunista Hugo Chavez:
    “Joseph Stiglitz Defends Public Ownership”
    http://archives.econ.utah.edu/archives/marxism/2007w06/msg00021.html

    O mesmo artigo está NO SITE DA EMBAIXADA de CUBA no Egito, MAS EXIGEM SENHA DE ACESSO.
    “Joseph Stiglitz Defends Public Ownership”
    http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=%2522Joseph%2BStiglitz%2BDefends%2BPublic%2BOwnership%2522&source=web&cd=10&ved=0CGwQFjAJ&url=http%3A%2F%2Femba.cubaminrex.cu%2FDefault.aspx%3Ftabid%3D8187%26ctl%3DLogin&ei=8rmlTq_3DaT50gG2wbicBQ&usg=AFQjCNEB735B-tXI8SPHnGD_FDvL10oHNQ
    Joseph Stiglitz Defends Public Ownership.

    O velhinho também é figura carimbada dos tais Forum Social Mundial, que é o nome moderno das antigas INTERNACIONAIS COMUNISTAS, que aconteceu aqui no Brasil, em Porto Alegre, com o alegre patrocínio do PT e de toda a canalha comunista dos mais diversos matizes destepaiz…
    http://noticias.uol.com.br/lusa/ultnot/2004/01/19/ult611u35678.jhtm

    2- Jeffrey Sachs, obamista, é da mesma laia. O PCdoB acha ele um cara muito legal e reproduz suas idéias no próprio site:
    “Sachs denuncia ligações perigosas entre política e ricos dos EUA”
    http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=144816&id_secao=2

    Ah!, sim: Sachs é da turma de George Soros, o bilionário esquerdista que patrocina tudo o que não presta mundo afora (aborto, ambientalismo, comunismo, indigenismo….)
    http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&hl=pt-BR&ie=UTF-8&rlz=1T4SUNC_pt-BRBR365BR365&q=Jeffrey+Sachs+marxismo#hl=pt-BR&rlz=1T4SUNC_pt-BRBR365BR365&q=Jeffrey+Sachs+marxismo&um=1&ie=UTF-8&tbo=u&tbm=vid&source=og&sa=N&tab=wv&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.,cf.osb&fp=783ece55841201e2&biw=1024&bih=493

    Diga-me com quem andas….

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  6. Governo mundial???

    Isso me deixa em dúvidas…

    A maçonaria tem a idéia de implantar um controle (governo) universal, o que se percebe com a formação dos blocos econômicos continentais, que tem levado muitas nações às crises econômicas como, por exemplo, a Grécia lá na Europa. A Inglaterra aderiu parcialmente à União Européia, talvez por princípios monárquicos, preservando sua forte moeda, com o objetivo de refletir a sua soberania.

    O anti-Cristo precisa de um governo mundial para que empreenda suas ações finais para a destruição total da Cristandade. Seria essa proposta algo formidável para abrir caminho para ele… Alguns delirantes falam que ele seria Barak Obama (não estão totalmente equivocados).

    Outros mais delirantes, ainda, falam que esta crise mundial é algo provocado, para que um pseudo-salvador apareça, resolva tudo e torne-se a figura do Governante Mundial.

    O que o povo tem esquecido é de que a crise atual vai mais além de que uma crise moral, antes de mais nada uma crise de fé. Os vaticanistas precisam refletir… Nosso Senhor Jesus Cristo é o Rei do Universo…

    O que se pretende então? Laicizar o planeta, para que se percam as referências da Autoridade Divina e implantem aqui a autoridade humana, despida de qualquer sacralidade.

    Não fiquemos de braços cruzados, sejamos os Novos Cruzados!

    Salve Maria,

    Oliveira
    Cidade Ocidental-GO

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  7. Pedro Pelogia
    outubro 24, 2011 às 5:45 pm

    Que tristes e confusos tempos vivemos: o Papa diz uma coisa, o Vaticano outra!

    E quando falam juntos, falam por meio de códigos comprometidos, no escrúpulo de não desagradar a ninguém, tornando assim a própria fala aberta a toda e qualquer interpretação.

    Quem negar a existência de uma crise merece ter a língua colada ao céu da boca!

    Pedro, posso pegar esse seu comentário?

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  8. Vale um esclarecimento. Embora esse documento não leve a assinatura do Papa, ele nada mais é do que o desenvolvimento da idéia lançada por Bento XVI na sua encíclica Caritas in Veritate. Se se derem ao trabalho de a relerem, verão que nela o Papa advoga a criação de uma “Autoridade Política Mundial”. Na ocasião, muito se especulou sobre o que seria e agora, pouco a pouco, vai ficando mais claro: É uma super-ONU vitaminada e pronta para agir em defesa da nova ordem e da nova sociedade.
    É evidente que o documento também permite uma leitura ortodoxa. Com criatividade e boa vontade, até o Manifesto Comunista pode ser lido de acordo com a Tradição. Aos neocons, treinados em dar um “spin” ortodoxo em tudo o que sai do Vaticano nos últimos 40 anos, certamente não faltará criatividade para tal.

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  9. O pior (e que está emergindo com força) são os católicos que acreditam que o liberalismo politico e econômico ( protestante- maçônico) é a alternativa ao comunismo.

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  10. JB (outro), tanto este documento como Bento XVI em sua encíclica desenvolvem a idéia inicial proposta por João XXIII, na Pacem in terris.

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