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Crítica: Os Vingadores

Os Vingadorthe-avengers-mondo-poster-variantes (The Avengers, EUA, 2012) não é só um filme, é um acontecimento, independentemente de qualidade. Isso é fato. É um blockbuster que começou há cinco anos, quando Robert Downey Jr. vestiu a Mark I no deserto do Afeganistão. De lá pra cá foram outros quatro filmes para apresentar os heróis que se juntam sob a marca do grupo da Marvel. E em tempos de histórias em quadrinhos adaptadas de maneira cada vez mais adulta, aqui temos uma grande viagem de montanha-russa, cheia de emoção e diversão, mas que te deixa tonto vez ou outra.

A história que vinha sendo escrita escolhe bem o inimigo a ser batido pela equipe, Loki, o irmão de Thor (interpretado com gosto por Tom Hiddleston). Afinal, olhando para trás, não há um oponente sequer que poderia fazer frente ao grupamento, a não ser, claro, um deus que baixa na Terra para fazer dela seu novo território. Fora que há um reforço alien para que a guerra seja declarada.

O mais interessante é que a junção dos Vingadores segue um bom caminho tortuoso até que eles acertem os ponteiros, algo muito bem explorado pelo filme ao colocar em combate os dois maiores egos da turma, Tony Stark e Thor, numa briga épica vista de camarote por Loki. Fora que as faíscas entre os heróis dão origem a ótimas cenas, como o diálogo entre Capitão América e Stark – “O grande homem numa armadura. Tire isso, o que você é?” “Gênio, bilionário, playboy, filantropo…” – e um soco final de Hulk em Thor após uma pequena batalha em cooperação.

Vale ressaltar que há inúmeras boas cenas de ação que dão a dimensão do evento que a plateia presencia, como a chegada de uma nave-monstro mecabiolígica trazida pelo Homem de Ferro para o combate direto com os Vingadores. Aliás, tecnicamente o longa é quase irreparável, com efeitos visuais de primeiríssima, mesmo no exagerado porta-aviões da S.H.I.E.L.D. que se transforma numa aeronave monumental.

Já o 3D da produção acaba não sendo tão relevante, principalmente se comparado ao conflito urbano visto em Transformers – O Lado Oculto da Lua, também com destruição predial e robôs gigantes, mas que conseguem uma escala muito maior ao adotar planos abertos com grande profundidade de foco. Fora que a grande quantidade de elementos em cena e a montagem extremamente ágil podem causar certa fadiga ocular. O que não vai acontecer com seus ouvidos, uma vez que o som do longa é bem trabalhado, repare no momento em que a porta-aviões voador (irônico isso, né?) entra em colapso e como há um burburinho na sala de controle, além dos diálogos e dos efeitos sonoros mecânicos. O que estraga é a onipresente trilha sonora de Alan Silvestri, a qual não dá descanso. Dessa forma, é uma brisa quando Loki ataca em meio à apresentação de uma ópera e a música do compositor é substituída por uma música clássica e, em seguida, por “Shoot to Thrill”, do AC/DC.

O diretor Joss Whedon também capricha também em cenas desaceleradas, criando sua própria versão de O Silêncio dos Inocentes ao colocar Scarlett Johansson e sua Viúva Negra num diálogo com o Loki de Hiddleston aprisionado por paredes transparentes, numa nada óbvia relação de submissão que subverte a dinâmica entre Hannibal Lecter e Clarice Starling com muita esperteza (assista e entenda a mini-reviravolta). Fora que a câmera em ângulos oblíquos e que gira ao redor dos Vingadores dá o exato tom de racha entre o grupo durante uma discussão especialmente tensa, a qual mostra a dificuldade de unir aquelas “pessoas notáveis”.

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O inteligente roteiro é milimetricamente pensado para cada reviravolta ou diálogo entrar em cena no momento certo. Escrito por Zak Penn ao lado de Whedon, ele é um dos melhores elementos do longa-metragem, seja respeitando características dos personagens já estabelecidas em outros filmes, como a ironia de Stark, seja estabelecendo uma nova persona mais tranquila e até mesmo ácida para Bruce Banner (Mark Ruffalo), que funciona justamente pelo contexto mais leve de Os Vingadores em relação aos projetos anteriores do Hulk, com Edward Norton e Eric Bana atormentados.

Em contrapartida, a explicação para o controle da raiva de Banner se contradiz, ao fazer com que a Viúva Negra seja atacada na primeira vez que Hulk surge e durante o conflito nas ruas de Nova York, quando Banner revela seu segredo.

Problemática

Tudo bem que Os Vingadores seja uma grande diversão e uma boa produção que não quer ser mais do que é: entretenimento. Todavia, é válida uma pequena discussão. Em determinado momento, a Nick Fury (Samuel L. Jackson) e a S.H.I.E.L.D. buscam Loki e um personagem informa ao diretor que todas as câmeras e celulares do mundo estão sendo usados para rastrear o vilão. Em O Cavaleiro das Trevas, de 2008, há uma passagem parecida em que Batman (Christian Bale) usa um mecanismo criado por Lucius Fox (Morgan Freeman) para rastrear o Coringa (Heath Ledger) por meio de celulares. Dali, segue um diálogo interessante sobre invasão de privacidade, que Fox classifica como “um poder perigoso demais para um homem”. Algo que em Os Vingadores é ignorado, não havendo qualquer referência ao tipo de artifício antiético da unidade.

Se esse é um filme livre das amarradas do tempo em que as histórias em quadrinhos são adaptadas de maneira cada vez mais adulta, é possível dar um pontinho a mais para O Cavaleiro das Trevas, que consegue se desfazer do rótulo de adaptação de HQ. Se Tony Stark tira a armadura e se torna um playboy, não há uma história de heroísmo para contar. Se Batman e Coringa tirarem suas fantasias no longa de Chris Nolan, eles se tornarão dois psicóticos brigando dos dois lados da Lei, com o Bruce Wayne tendo seu momento de sanidade e evitando que uma cidade venha abaixo por conta da criminalidade. E, claro, com uma história (bem) contada. Maturidade é a palavra.

Nota: 8,5

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12 responses

  1. Aleishow

    Depois de Histórias Cruzadas o melhor que já vi no ano até agora!!! Discordo com a nota e realmente acho que faltou a foto do Thor em evidência. Anyway…
    Bela crítica, namorado!

    5 de Maio de 2012 às 4:40 PM

    • Tirando Cap. América, Thor é o mais sem graça…

      5 de Maio de 2012 às 4:40 PM

  2. Aleishow

    Concordo, mas é o mais LINDO!

    5 de Maio de 2012 às 4:44 PM

  3. Crítica muito bem fundamentada, como sempre. Eu, particularmente, evito comparações com O Cavaleiro das Trevas, pois apesar de ambos serem “filmes de herói”, focam em propostas totalmente diversas. Nolan faz seu épico dramático procurando ser factível com uma trama cheia de densidade moral, Whedon faz uma obra voltada para a aventura inteligente, a exploração das diversas personalidades se tornando mais fortes quando aceitam trabalhar em conjunto, mas sempre de uma maneira lúdica, leve e acessível. Os Vingadores transporta e exacerba nas telonas exatamente o mesmo espírito das HQs (pegue a primeira aventura dos Vingadores na década de 1960 e o filme e veja que as premissas são as mesmas). Ou seja, Nolan faz seu “Poderoso Chefão” do cinema contemporâneo. Whedon faz seu… “The Avengers #1”!

    6 de Maio de 2012 às 12:56 AM

    • Em relação á comparação entre Batman e Vingadores, achei interessante ambos os filmes usarem um mesmo artifício poderoso de maneira tã distintam já que estamos em uma época em que privacidade é algo amplamente discutido. Tudo bem que no filme do grupo da Marvel a questão passa quase despercebida e é usada para um “bem maior”, mas foi exatamente esse o discurso usado por W. Bush quando desatou a guerra contra o terror (ou como diria Borat: “war OF terror”), só que no fim das contas as razões eram bem mais obscuras. Não quero que Os Vingadores seja denso e carregado, mas um pouvo de problematização não faz mal pra ninguém.
      Já com relação ao Cap. América, o achei chato e sem empatia, além de altamente datado. Mas sou um apreciador de filmes, não conheço seu passado quadrinesco. O que não acho que deveria ser levado em aqui, afinal, estamos falando de uma adaptação de Cinema. Se ele não consegue chegar às plateias é um problema do personagem nas telas. Só mais uma coisa: ele não estaria em todas as versões dos Vingadores por uma questão de patriotismo?

      6 de Maio de 2012 às 1:25 PM

  4. Como bom ner… fã de narrativas gráficas da Marvel, tenho que fazer minha defesa do Capitão América. É um personagem fundamental na dinâmica dos Vingadores, que em nenhuma formação sequer ficou sem ele ou o Homem de Ferro. Eles se desentendem, mas se completam. É claro que, no cinema, é difícil comparar Chris Evans com Downey Jr. em capacidade de atuação, mas o bandeiroso me surpreendeu de maneira muito positiva nos filmes (até mesmo porque eu não gostei do seu Tocha Humana). Também apoio e nunca acharei ultrapassado o conceito do herói clássico, com honra e conduta irrepreensíveis. Nos tempos modernos eles podem não ter a mesma empatia com o público do que a saturada cena dos anti-heróis, mas são em homens assim que você botaria sua confiança. Sem contar que, para eles, a amplitude de suas ações sempre pesa mais. Go, Cap! (muito ner… peculiar esse comentário, né?)

    6 de Maio de 2012 às 1:05 AM

  5. Thainã

    Show Vini, texto perfeito! Beijos

    8 de Maio de 2012 às 1:26 PM

  6. Realmente, Vinícius, em relação à tecnologia de rastreamento, foi uma ótima observação. Somente depois que você falou que percebi que, em princípio, se trata da mesma coisa usada em Cavaleiro das Trevas, mas sem explorar as consequências. Quanto ao Capitão América, claro que acho que é uma questão de patriotismo, pois independente de ações políticas de A ou B, ele representa os bons valores que mantém aquela nação coesa. Nos quadrinhos, destarte as interpretações que se sobressaem de um ou outro roteirista, a orientação editorial dele é bem interessante, visto que lendo a história dele não dá para “encaixá-lo” em um dos dois principais partidos. Algumas vezes, por exemplo, ele assume posições bem libertárias, como na “última grande saga dos quadrinhos”, a “Guerra Civil”, onde ele se torna fora-da-lei e opositor do Homem de Ferro e do governo, por discordar que os heróis tenha que expor sua identidade e agir conforme orientação de Washington. Analisando somente o filme “Os Vingadores”, vejo que realmente faltou um pouco de empatia para o personagem na primeira metade, mas na minha opinião isso é diminuído se considerarmos seu background do primeiro filme.

    8 de Maio de 2012 às 3:19 PM

    • Bom, sobre os quadrinhos chega a ser humilhação eu querer dar a minha opinião, pois estou anos-luz atrás do amigo Diego Araújo, expert no assunto. A análise foi principalmente do filme, e realmente acho que faltou algo no personagem, que é sem carisma e se tranforma num action hero sem grande profundidade.

      8 de Maio de 2012 às 3:47 PM

  7. Eduardo Almeida

    Só tenho uma coisa a dizer……
    Thanos, /

    15 de Maio de 2012 às 1:18 AM

  8. Uma coisa que esqueci de comentar. Pra quem conhece o Thanos, deve ter sacado que ele emprestou para o Loki a jóia da mente, uma das 6 que compõem a manopla do infinito, que o vilão tentou unir para fazer seu genocídio estelar e assim agradar sua amada, a Morte (ela mesma). Um dos vilões mais insanos dos quadrinhos, típico das sagas interestelares viajandonas e divertidíssimas da Marvel nos anos 70 e 80. Quem jogou super-nintendo deve lembrar dele também no jogo “Marvel Super Heroes: War of the Gems”, clássico da porradaria em 16 bits.

    30 de Maio de 2012 às 12:58 AM

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