“SEU ” ANDRÉ

SEU ANDRÉ “

JAYME ANTONIO RAMOS

“Seu” André é um outro capítulo à parte nas histórias do Pari. Bem idoso, talvez até filho de escravos, morava no Alto do Pari, pertinho do colégio Santa Terezinha.
Era pai da dona Margarida e de tres filhos , que foram craques no Dragão Paulista, Armando, cujo apelido era Duca, Carlos, o Carlito e Ovídio.
O Dragão Paulista era o time do seu coração, todos os domingos lá estava o velho André, com seu cachimbo, ao lado do sr. Vicente Temponi, do Juca e do sr. Roque, pai do Dóia e do Heitor, no campo da Rio Bonito, onde hoje é um estacionamento , na esquina da rua Capitão-Mór Passos. Esse quarteto formava um verdadeiro conselho de anciães, se um jogador chutava mal, um goleiro falhasse, olhava logo para os cardeais , que nada falavam, porem meneavam a cabeça o que valia por mil sermões.
Sr. André, gostava muito de ditos populares para reforçar as suas afirmativas e ele possuía milhares, adquiridos por sua vivência de décadas. Já bem idoso ele possuía um cachorro de raça paulistinha e que era seu companheiro inseparável, o Jipe. Diariamente ” seu” André ia à venda do meu pai com seu inseparável Jipe, que por sua vez era tratado como um rei pelos meus irmãos Josir e Jelson.
Já bem adoentado , acamado, sr. André deixou um dos seus bens mais caros, Jipe, para nós , vindo a falecer poucas semanas após.
O Jipe morreu muitos anos depois e nós já adolescentes fizemos um enterro com toda a pompa, num caixote de maçãs, com várias plantas do jardim que minha mãe cuidava na nossa casa. Ele foi enterrado num arvoredo no fim da rua das Olarias, no fundo da futura Escola Técnica Federal.
“Seu” André contava para nós , incríveis histórias, quase sempre sobrenaturais, algumas tantas bem reais,às quais prestávamos toda a atenção. Morador muito antigo do Alto do Pari, sabia de muita coisa , porém discretíssimo, quando indagado sobre alguns temas mais polemicos, ele dava uma longa pitada , uma longa baforada no seu cachimbo de barro e dava sua gostosa gargalhada, deixando a dúvida no ar e falava ou que já não lembrava, faz tantos anos ou então para respeitar os mortos, já não estão aqui para se defender.
Foi na minha vida , um dos muitos ícones, verdadeiros baluartes na construção da alma do nosso querido bairro doce de São Paulo, o Pari.  Ao lado de outros pilares do espírito pariense, o considero um dos inspiradores do nosso blog

historiasdopari.wordpress.com  e para eles, em meus momentos de recolhimento e de oração peço que estejam ao lado do Pai, gozando das maravilhas celestes.

afro desc. idoso

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