Teatro – Nise da Silveira: Guerreira da Paz

Por Ana Lucia Gondim Bastos

“Não se curem além da conta”- um dia advertiu Dra. Nise da Silveira – “Gente curada demais é gente chata”. A psiquiatra alagoana, única mulher formada na turma de 1926 da Faculdade de Medicina da Bahia, dizia ainda “vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é nossa realidade mais profunda. Felizmente, nunca convivi com pessoas muito ajuizadas!”.

Pedido aceito pelo premiado dramaturgo e ator Daniel Lobo ao embarcar na empreitada de levar para o palco, a história, as ideias e o espírito daquela que acreditava que tratar era diferente de calar, era, sim abrir espaço para a expressão artística. Aquela que – para usar uma imagem de um trecho da peça – buscou portos, mas nunca renunciou o mar.

Como num manto de Bispo do Rosário, Daniel sobrepõe imagens, textos e personagens. Ora fala só, expondo reflexões e angústias, ora busca diálogo com o público. Ora conta episódios da história de Nise, ora é a própria Nise, contando suas histórias. Ora ouve vozes (Monja Coen, segundo o autor, “personifica a ‘a voz do inconsciente’ de Jung, mestre de Nise), ora traz as vozes de Ferreira Gullar e José Celso Martinez, em depoimentos filmados. Ora dança, ora canta, ora cala e deixa que as imagens falem por si. Ora é o louco, ora questiona a loucura. Ora está lá fisicamente, ora são imagens projetadas… E, assim, vamos conhecendo sua Nise, a grande inspiração para o que chamou de “epifania cênica! Um grande e poético caleidoscópio para celebrar a vida com humor, poesia e o sagrado que habita em nós”.

A delicadeza, a força e a coragem de Nise estão lá e nos fazem renovar esperanças e a crença em nosso potencial transformador de realidades. A criatividade e a potência do encontro humano, também – Daniel Lobo contou, para realização do espetáculo, com parcerias como a com a bailarina Ana Botafogo, com o pianista João Carlos Assis Brasil, com o percussionista Marco Lobo, além das já citadas nesse texto. Tudo isso no palco do auditório de um museu de arte, e não de qualquer museu! Vale à penas conferir, no MASP até abril.

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