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* Texto por Luis Carlos de Alencar e Mariana Santos

Não corre! É um dos gritos dos levantes do Rio. Não corre! Irrompe brado de resistência ouvido pela multidão, após o estouro da bomba e da boiada. Não corre! É o que nos diz a musa desnuda e ensanguentada, com duas granadas na mão:

Você lutou na frente da guerra civil

O inimigo não encontrou fraqueza alguma em vc

Nós não havíamos encontrado fraqueza alguma em vc.

Agora vc mesmo é uma fraqueza

Que o inimigo não pode encontrar em nós.

Sem nenhuma sutileza, a dor invade os espectadores em Paraíso Agora! ou Prata Palomares, direção de Jorge Farjalla, com a Cia. Guerreiro. Essa peça, nascida de José Celso Martinez ainda em 68, é a primeira obra teatral onde se ressoam os ecos das ruas em fogo, do som metálico das barricadas da Av. Presidente Vargas, um acasalamento convulsivo da rebeldia do século passado com as insurgências que ainda brotam nas auroras dos nossos tempos.

Um ódio à sociedade sem paixão, sem mito, sem grandeza, nada é poupado. Uma impiedosa leitura do Brasil, esse que é nascido do estupro do povo originário, da violência colonial, da crueldade dos encontros, mas também da vingança justiceira, da morte redentora, da ira que faz persistir. Uma peça de extremos, porque não existe meio tom na saga brasileira.

A peça retrata a história dramática de dois revolucionários, companheiros de luta, que após muito sofrimento e perseguição, encontram refúgio em uma igreja, na fictícia cidade Porto Seguro. A Santa Prostituta, Nossa Senhora das Dores, quer de ambos um filho, engravidará de suas potências revolucionárias para dar vida àquele que será o ideal revolucionário de volta à América Latina, aquele que despertará os povos contra 500 anos de opressão.

Barroco de sangue, um sangue que ora liberta, ora corrompe. A peça dualiza o companheiro que se mantém fiel às suas convicções, entrando em um espiral de desespero de voltar à luta e o outro, aquele que acaba por se trair, corrompendo-se para os oligarcas locais, a Família de Branco e a polícia estúpida e canalha, os Homens de Preto. O cinismo veste batina, a cruz encarrega-se de escurecer o sonho da sua revolução. O sonho ergue armas, renitente e corajoso na busca da Maracangalha libertária.

Há ainda Tonho, principal liderança popular. Traz em si a vivência de seu povo, os prazeres dessas relações, ilimitados e de mutualidade. Nada é forçado, tudo é vivido. E esse povo não seguirá vanguarda nenhuma, porque não quer e nem precisa de revolucionários para lhe guiar.

Nem Porto Seguro, nem Maracangalha. Nenhuma saída, daqui ninguém foge, não iremos correr: a revolução é em outro lugar, na casa do carrasco, é nela que será parido o carrasco do carrasco.

INFORMACOES:

Abaixo as infos oficiais. Quanto ao preço, procure por Jorge Farjalla no FB e digam que querem vosso nome na lista amiga e vcs só pagarão 20 reais. Se acontecer algum problema, vão mesmo assim: entrem e ocupem a peça na marra! Façam como temos feito nas ruas. Dinheiro não pode ser desculpa para não se ter acesso ao Paraíso Agora!

Paraíso Agora! ou Prata Palomares

Teatro Tom Jobim Galpão das Artes

Rua Jardim Botânico, 1.008, Jardim Botânico, Rio de Janeiro

Até 20/10 Dias: Quinta, sexta, sábado e domingo

Horários: Quinta a sábado 19h30 e dom às 18h30

Horário: 19:30h Duração: 1h15min

Capacidade: 60 lugares

Ingressos: R$ 60,00 (inteira), R$ 30,00 (meia)

*Luis e Mariana são Das Lutas