O parecer

pindura

– Bom dia!

………………..

 A senhora não me respondeu.

– Bom dia! ‒ tornei a cumprimentá-la.

Estávamos aguardando o elevador num prédio comercial.

Ela não me respondeu e esboçou um leve giro de cabeça, apenas quarenta e cinco graus.

Continuamos a espera. Cheguei a pensar que o edifício tivesse bem mais de cem andares ou, então, o elevador, com problemas, tivesse parado, extenso fora o tempo que ficamos ali.

Estávamos no sétimo piso.

Finalmente a carona vertical chegara. A porta se abriu; acredito que o último ocupante comia um saboroso pastel.

Eu e a senhora entramos.

Ela, com olhar sereno e se amparando; eu, com olhar incomodado. É estranho cumprimentar e não receber o cumprimento e ainda ter de aguardar, por eternos segundos, junto desse alguém.

A porta se abriu. Ela saiu, primeiro, se apoiando. Um jovem a aguardara na recepção. Saíram de braços dados. Em seguida saí.

– Bom dia! ‒ cumprimentei o porteiro que aguardava ao lado da porta.

– Bom dia! Que honra, hein? ‒ ele considerou.

– Desculpe-me, mas por que honra? ‒ voltei-me a ele e lhe perguntei.

– Você desceu ao lado de uma influente doutora e uma das mais bondosas pessoas que já conheci e que, infelizmente, há pouco tempo, teve uma doença e ficou com deficiência auditiva e visual.

Não arrisquei mais nenhuma palavra, somente um “até logo” para o porteiro.

(Cínthia Cortegoso)

Uma resposta »

  1. Bom dia, Cínthia.

    Lição sábia.

    ….nós e nosso velho habito de julgar…

    Bjs.

    Cris.

    Responder

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