Florestan Fernandes Jr.: Abaixo as máscaras

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Rua 7 de Abril, centro da cidade de São Paulo. A agência da CEF foi destruída. Crédito/foto: clipping.com.br/notícia

Florestan Fernandes Jr., via Por dentro da mídia

Querem transporte coletivo de qualidade, mas depredam pontos de ônibus e colocam fogo nos coletivos. São contra a especulação financeira internacional e depredam agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. Reclamam do custo das ligações telefônicas, mas arrebentam com os orelhões. Pedem mais investimentos em cultura e educação e invadem teatros e shows. São contra os grandes magazines, mas saqueiam pequenas lojas do comércio. Dizem defender os direitos do cidadão humilde, mas colocam fogo em carros populares com a família dentro. São contra a Copa do Mundo, mas não fizeram nada para evitar que ela viesse para o Brasil. Para mim, esse quebra-quebra todo é coisa de fascista, neonazista ou de pessoas a mando de um esquema clandestino para levar à insegurança institucional. São atos terroristas numa sociedade democrática onde as liberdades individuais são garantidas pela Constituição.

Trinta anos após o início da campanha das Diretas Já, temos bons motivos para nos preocupar com o futuro da nossa democracia. Os governos do PT e do PSDB têm responsabilidade de preservar o maior legado da geração que foi às ruas pela redemocratização do país. Foi ela o embrião dos dois partidos. Não quero ser paranoico, mas devemos saber quem são esses encapuzados que se infiltram em movimentos de protesto para gerar pânico e violência descabida.

Tenho uma amiga no Facebook que estuda o movimento Black Blocs e que acompanhou o “protesto” de sábado, dia 25, em São Paulo. Segundo ela, pela primeira vez no grupo havia gente de 14 e 15 anos que ficou apavorada com a violência nas ruas e se retirou das manifestações. Hoje a Folha publica o perfil de quem foi preso pela polícia. Dos 119 identificados, 62 têm entre 20 e 29 anos e 14 são menores de idade. Entre os detidos, uma menina de 14 anos e um senhor de 59 que é funcionário público. E ficou nisso. Nada além. Apenas quatro dos que participaram de atos de vandalismo foram detidos. Isso mostra que os mais violentos sabem quando e como desaparecer da cena do crime.

É urgente que o setor de inteligência das polícias federal, estadual e municipal identifiquem os vândalos para saber com exatidão quem são e se estão agindo a mando de grupos neonazistas ou de paramilitares. A nossa democracia precisa ser defendida imediatamente antes que seja tarde demais.

A realização da Copa no Brasil teve o apoio de quase todos os partidos e dos governos estaduais e municipais. A escolha do Brasil como sede do mundial foi comemorada pela maioria da população brasileira que ama o futebol. Realmente as exigências da Fifa foram exageradas, e algumas obras de governos estaduais excederam e muito os gastos previstos.

Aqui em São Paulo, o estádio da Copa é privado. O mesmo ocorre em Curitiba e no Rio Grande do Sul. Devemos cobrar explicações dos governos de Minas, Rio de Janeiro, Amazonas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Distrito Federal, Ceará e Bahia. Cada um que se explique. Em ano eleitoral é bom mesmo saber quem administrou mal os recursos públicos. Mas depois de todo o caminho percorrido, boicotar a Copa é de uma burrice sem tamanho. O melhor a fazer é aproveitar o evento para retirar dele parte dos gastos que tivemos.

A sociedade civil e os movimentos organizados devem continuar indo às ruas para cobrar de seus governantes ações de interesse público: saúde, educação, segurança, moradia, reforma agrária e transporte público de qualidade. Mas de cara limpa, sem máscaras. Pra mim, quem esconde o rosto numa democracia não tem boas intenções. Mesmo nos movimentos revolucionários em períodos de totalitarismo as pessoas tinham convicção do que queriam e não tinham motivos para esconder seus rostos.

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6 Respostas to “Florestan Fernandes Jr.: Abaixo as máscaras”

  1. Selma Says:

    Escreveu tudo o que penso. Parabéns. Que tal uma boa multa, assim ajudaria a pagar as despesas com a Copa…

  2. Vanessa B Says:

    Concordo, e os policiais também não podem esconder suas identificações – como tem acontecido.

  3. Mineira consciente Says:

    A maioria dos manifestante são “inocentes úteis”, massa manobrada pelas “zelites fascistas e reacionárias, viúvas da ditadura que eles tanto apoiaram e tinham suas benécias. Na verdade a escravidão e a ditadura do Brasil teimam em ser ressuscitadas, os senhores de engenho nunca quiseram a liberdade dos escravos, bem como não queriam acabar com a ditadura.
    Reflexão muito pertinente Florestan Jr. a distância entre a democracia e a ditadura perpassa apenas um tênue fio que pode ser rompido a qualquer momento se nós os responsáveis por esta construção não estivermos sempre atentos a situações como estas que de forma sublimar convence as massas desavisadas que esta é uma luta justa.
    E, recordo-me neste momento das lições de seu pai, um mestre inesquecível que muito contribuiu para formação e desenvolvimento do senso crítico de muitos brasileiros, e, principalmente nós educadores e educadoras. Parabéns!

  4. Dayse Silva Says:

    Florestan Fernandes Jr. faz análise perfeita dessas “pseudomanifestações”.
    Estas pessoas são massa de manobra.
    O que fazem não é ato político.
    Se tivessem elas consciência política, certamente, não fariam o que fazem.

  5. Maria Thereza Says:

    Ótimo texto, mas me permito acrescentar que há falta de inteligência do governo para analisar esses vândalos e excesso de inteligência de quem está por trás disso. O objetivo, todos sabemos e, para quem não tem votos, estão se assanhando demais. Se não for seguida a recomendação do autor, de identificar e punir os malfeitores, vamos descambar numa violência sem par, pois já está crescendo e com o despreparo secular de nossas polícias, a coisa pode ficar feia.

  6. Clovis Pacheco F. Says:

    Quem sai aos seus não degenera! Assino em baixo do que escreveu o filho e homônimo do meu velho e saudoso professor, que honra sobremaneira a memória do pai!

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