Oliver Stone e seu documentário sobre Hugo Chavez.
Léa Maria Aarão Reis, via Carta Maior
O filme é um documentário do norte-americano Oliver Stone e tem 50 minutos. Chama-se Mi amigo Hugo e foi apresentado na quarta-feira, dia 5, na Telesur, a televisão venezuelana, em cadeia nacional, para marcar um ano da morte prematura de Hugo Chavez.
Trata-se de uma bela homenagem ao amigo de Caracas com quem Stone iniciou uma afetuosa amizade em 2009, quando o conheceu e filmou-o para outro documentário de sua autoria, Ao sul da fronteira, no qual entrevistou chefes dos governos progressistas do continente sul-americano. Do Brasil – o então presidente Lula dizendo: “Chavez, um homem necessário”, Cristina Kirchner, José Mujica, Evo Morales, Rafael Corrêa.
Depois da morte de Chavez, o cineasta retornou a Caracas e conversou com o já então presidente Maduro, com oficiais de ordens do gabinete do presidente morto, seu irmão, alguns amigos e com a companheira, Cília Flores, e diversos políticos que formaram nos ministérios venezuelanos durante o governo chavista. Todos ainda comovidos e leais ao companheiro.
Aliás, a lealdade das equipes de Chavez é notória neste filme.
Deve-se assistir a Mi amigo Hugo. É importante para conhecer uma realidade que as mídias conservadoras sul-americanas e as do norte da fronteira fazem questão de, desonestamente, não mostrar.
É repugnante ver, quase no final do filme, na montagem dos noticiários de diversos canais norte-americanos comemorando sem compostura e com alegria selvagem a morte de Chavez.
É importante, em especial para os mais jovens, assistir ao filme de Oliver Stone porque para estes sempre foi repassada uma imagem negativa, populista e caricata do finado chefe de governo venezuelano. Foram formados assim.
E não apenas pela honestidade com que o personagem é apresentado. É ressaltada a importância do seu trabalho na liderança dos movimentos de independência do continente, “um precursor do atual processo de integração latino-americano e Caribe,” observa Stone. Chavez jogou no lixo a chamada política externa de joelhos antes praticada pelos governos do sul da fronteira do Rio Grande.
Em Ao sul da fronteira, Stone já anotava: “Os norte-americanos não sabem o que está acontecendo aqui” (na Venezuela). Em Mi amigo Hugo ele completa, na sua narração: “Chavez inspira as gerações de jovens líderes políticos do continente.”
Assistir a este doc é também uma oportunidade de conhecer, em grande close, o ser humano expansivo e seu carisma, no cotidiano. O bebedor de café inveterado, cerca de trinta xícaras diárias. Café aguado; “mas não é colombiano; é venezuelano, muito bom,” brinca Chavez. A rotina estafante de trabalho, das sete da manhã até altas horas da noite. O sono insuficiente, com o qual se preocupavam seus próximos e auxiliares. O ritual que cumpria religiosamente, assim que se levantava da cama: informar-se do preço do petróleo.
Imagens de Chavez na ONU, “desinfetando” o púlpito onde George Bush/“o diabo” acabara de discursar. Visitando e conversando com Fidel e na companhia de Morales. Na Academia Militar, onde ingressou aos 17 anos. Já na qualidade de presidente da república bolivariana, cantando canções campesinas nas festas do interior – adorava cantar. Andando (e caindo) de bicicleta.
A resistência ao golpe vergonhoso, frustrado, do governo estadunidense. As sabotagens nas refinarias. E o presidente Maduro dizendo: “Chavez não foi apenas um ser humano; ele é um grande coletivo. Representa uma nova consciência do mundo que exige o respeito entre países.”
Imagens de Chavez sendo vencido pela doença, arfando, subindo escadas com certa dificuldade, e o último discurso, em 4 de dezembro de 2012, na tevê, a despedida, última aparição pública antes de voltar a Cuba pela última vez. A voz embargada, cantarolando, e a paixão pela Venezuela: “Pátria é minha vida, minha alma, meu amor. Viva a pátria, viva a vida.”
Populista? Mas sem a frieza dos príncipes, dos sociólogos e dos gravatas-de-seda.
Autor de alguns filmes que já são clássicos – Platoon, Nascido em 4 de julho, Wall Street –, Oliver Stone se tornou um amigo íntimo, um confidente de Hugo Chavez.
Este seu doc – “é a minha despedida de um soldado e amigo”, ele declara – é obra de profissional. Tem qualidade e transpira afeto e a cordialidade para com Chavez. “Sua generosidade de espírito era incrível”, ele diz. “Era um patriota que adorava seu país.”
Mas é Cília Flores quem resume, com simplicidade, o homem com quem conviveu bem próximo: “Sempre bem humorado, ele transmitia alegria por onde passava.”
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16 de março de 2014 às 6:44
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