A nova etapa da AP470 tem de corrigir as injustiças

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Sede do STF, em Brasília.

Mudaram inteiramente as circunstâncias desde o espetáculo circense de 2012.

Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

O “mensalão” volta à agenda. Mas sob circunstâncias tão diferentes das do ano passado que pode ser chamado desde já de “mensalinho”.

Joaquim Barbosa, por exemplo, é outro. Para exercer seu papel de juiz severo e impiedoso, ele tinha de ser, como Robespierre, incorruptível. Ou, para trazermos para os dias de hoje, um Mujica.

Mas os meses mostraram um JB bem longe da imagem projetada pela mídia. Reforma de R$90 mil apenas nos banheiros do apartamento funcional bancado pelo contribuinte, uso do avião da FAB, relações de nepotismo cruzado com a Globo, empresa de araque em Miami para comprar um apartamento para fugir de impostos, mentalidade recalcada ao falar de coisas de décadas atrás como a reprovação que sofreu ao se candidatar ao Itamaraty. E acima de tudo: um homem que os 99% enxergam com alguma coisa que varia entre a indiferença, a reprovação e o desprezo.

Vocês se lembram das máscaras de JB que iam arrasar no Carnaval, segundo a mídia. Vasculhe as fotos carnavalescas e tente encontrá-las. Procure achar JB também nas pesquisas eleitorais. O povo não é bobo. JB foi inteiramente abduzido pelo 1%. Um Brasil sob Serra ou sob ele seria fundamentalmente o mesmo. O combate à desigualdade sumiria da agenda governamental.

Outros integrantes do STF também se desmoralizaram. Fux, por exemplo. Ficamos sabendo como ele correu atrás de Dirceu para conseguir apoio para chegar ao Supremo. Ficamos sabendo também do espetacular conflito de interesses que ele ignora ao ter relações tão próximas com o escritório de advocacia de Sérgio Bermudes. Sem nenhuma cerimônia ele ia aceitando uma superfesta de aniversário bancada pelo escritório.

Veteranos como Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello já estavam desmoralizados antes do “mensalão” e apenas ficaram mais ainda depois. Desde a primeira etapa do julgamento, saiu também de cena a figura patética de Ayres de Britto, que conseguiu escrever o prefácio de um livro de Merval Pereira sobre o “mensalão” sem se questionar sobre a ética repulsiva que existe quando o Judiciário e a mídia se enlaçam e deixam de se fiscalizar.

Chegaram também ao STF dois juízes novos, aparentemente pouco entusiasmados com o desempenho do Supremo no circo-julgamento de 2012.

O clima, lá para trás, era dramático. Todos lembramos a narrativa tensa de Mônica Bergamo, na Folha, ao contar um encontro com Dirceu em que ele estava com uma mala preparada para a cadeia. Cadeia, a esta altura, é absolutamente improvável.

Por coisas como a esdrúxula aplicação nacional da teoria do domínio dos fatos, consolidou-se entre os brasileiros a percepção de que o julgamento do “mensalão” foi, fundamentalmente, injusto.

E agora se abre a oportunidade de reparar o erro e fazer um caso abjetamente manipulado terminar numa justa, bem-vinda pizza.

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4 Respostas to “A nova etapa da AP470 tem de corrigir as injustiças”

  1. Todas as virtudes de Joaquim Barbosa | Conversa Afiada Says:

    […] de fúria de Joaquim BarbosaPodem escrever: Comportamento de Barbosa no STF não vai acabar bemA nova etapa da AP 470 tem de corrigir as injustiçasO arrogante Barbosa volta a ofender Lewandowski e tumultua julgamento da AP470OAB cobre […]

  2. anisioluiz2008 Says:

    Republicou isso em O LADO ESCURO DA LUA.

  3. Jésus Araujo Says:

    Sobretudo a propósito e depois do julgamento, muito estudo, muita análise nova, livros foram produzidos, lançando luz sobre os principais dados que alicerçavam a acusação e as consequentes condenações, além da percepção do draconismo destas. Os ministros do Supremo são intelectuais e estudiosos; esperamos, por isto, tenham acompanhado a produção da literatura referente produzida e ponderem, confrontando com esta suas anteriores posições expressas em seus votos. Disse Voltaire: Não me envergonho de mudar de posição, porque não me envergonho de ser homem.

  4. GOTADÁGUA Says:

    […] A nova etapa da AP470 tem de corrigir as injustiças […]

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