Luis Nassif: O mercado de capitais e o jogo da notícia

A Folha se retratou em letras pequenas.

A Folha se retratou em letras pequenas.

Luis Nassif em seu Advivo

O mercado de capitais é aquele em que se aplicam as regras mais severas visando resguardar a isonomia das informações. Em países modernos, pune-se o uso de informações privilegiadas, a disseminação de informações falsas e todos os fatos que possam provocar manipulação de cotações.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é incumbida da fiscalização do mercado e das informações. É eficaz quanto à identificação e punição de vazamentos de informações privilegiadas e de manipulações do mercado em geral. Mas absolutamente omissa em episódios que envolvam a mídia.

Dias atrás, a Folha divulgou que o governo havia feito uma convocação extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), devido ao risco iminente de racionamento de energia.

Era notícia falsa. Mas foi repercutida durante todo o dia, apesar dos desmentidos que constavam do site do Ministério das Minas e Energia e das informações prestadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

No mercado de energia, em que atuam apenas profissionais, não houve mudanças nas cotações. Na Bovespa, onde há maior heterogeneidade dos investidores, as cotações das elétricas oscilaram bastante. Ainda mais depois das perdas sofridas pela Eletrobras com as decisões do governo em relação à renovação das concessões.

As ações caíram e ontem [10/1], dois dias depois da escandalização, e voltaram a subir. Papéis da Cesp subiram 3,49%; da Eletropaulo, PN 2,53%; e da Eletrobras, PNB 2,27%. Nesses movimentos, muita gente ganhou muito dinheiro, à custa dos que perderam.

Ontem [10/1] foi a vez do portal da Veja divulgar uma notícia sem pé nem cabeça: a da suposta fusão entre o Bradesco e o Santander, que já teria sido comunicada aos funcionários.

A diferença do primeiro episódio é que, no caso da Veja, reconheceu-se o erro e providenciou-se a devida correção 20 minutos depois. O que não impediu oscilações de monta no mercado. É mais um capítulo complicado na perda de referencial pela mídia.

Permitiu-se que a politização passasse a interferir em todo o noticiário. Não existem mais filtros adequados. Em outros tempos, “barrigas” – informações falsas – eram punidas, ou pelo próprio jornal ou pelos concorrentes. Hoje em dia, desde que se atinja o objetivo político proposto, tudo é tolerado.

Em países mais modernos, existem modelos de autorregulação. E as instituições reguladoras de mercado mantem uma fiscalização severa sobre abusos de informações que possam acarretar distorções de preços de ativos.

Trata-se de um movimento terrível não apenas para o país como para a própria mídia. Na economia, a informação é essencial para alocação de recursos, decisões de investimento, planejamento estratégico.

Cabe ao jornalista o papel de intermediar os fatos, transformando-os em notícias. Por sua condição, o público supõe que tenha acesso a fontes inacessíveis para os mortais comuns, que trate as informações com discernimento, especialmente quando mexem com a poupança do público.

No entanto, por aqui varre-se tudo para baixo do tapete. O álibi político deu autorização para o jornalista matar, não apenas reputações mas os fatos. E tudo impunemente e às claras.

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Uma resposta to “Luis Nassif: O mercado de capitais e o jogo da notícia”

  1. Mylton Severiano Says:

    Saudade da Última Hora.

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