A valorização do simples e real

“Nove estreias. Nós temos nove estreias de superproduções no cinema. No meu tempo, nós não tínhamos nove estreias em um mês.” (Arthur Abbott, O Amor Não Tira Férias)

Nos últimos 20 anos, o cinema mundial se revolucionou. Como disse certo amigo meu um dia, o cinema é a arte mais cara de se fazer no mundo. E é mesmo.  São inúmeras as notícias que vemos por ai das produções milionárias, filmes como Avatar, Titanic, Senhor dos Anéis  se destacaram antes de estrearem pelo elevado custo dispensado para filmá-los.

Pena que dinheiro não garante qualidade, não é mesmo?

Eu devo ser uma das poucas pessoas na face da Terra que não assistiu Avatar por pura revolta. Pelo fato de um filme de pessoas azuis ter ganhado o Oscar de Melhor Filme no lugar de Bastardos Inglórios. Mas…Isso não vem a caso.

O X da questão é: o personagem de Arthur Abbott do filme O Amor Não Tira Férias é um roteirista premiado e espantado com a mudança acelerada da arte cinematográfica. Fazendo uma retrospectiva, a produção de filmes de 20 ou 30 anos para cá é espantosa, mas não necessariamente de qualidade. Quem nunca ouviu uma mulher com mais de 50 anos falar: “O Brad Pitt é uma gracinha, mas o Cary Grant…Isso sim era homem bonito.” ou então “Ainda está para nascer um diretor que supere o Kubrick no filme 2001: Uma Odisséia no Espaço”.

Não estou sendo saudosista como o Gil de Meia Noite em Paris, mas é de se admitir que numa produção de 100 filmes no ano, no máximo 4 se destacam a ponto de pensar: “Poxa, esse filme é bom mesmo.”

Isso porque superproduções cinematográficas não contam, ok? Sou fã de ficção científica, mas ficção científica é isso ai. Uma viagem na maionese assustadoramente bem feita, com inúmeros efeitos especiais, que te deixa meio perturbado, mas logo passa.

Estou falando de filmes que fazem você pensar por uns 5 dias nele. Os meus são: Meia Noite em Paris, Um Lugar na Platéia, O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, O Palhaço e a Invenção de Hugo Cabret.

Uma das maiores vantagens do cinema é poder nos transportar para dentro do filme. Fazer com que os espectadores se desliguem do mundo por 120 minutos e fiquem entretidos em uma atmosfera diferente. Tão importante quanto a experiência percebida ao longo do filme é a sensação após sair da sala.

Questionar-se se você mudou um tiquinho depois de ficar sentado em frente a tela. Se a resposta for não, ok não é um problema. Até porque seria meio esquisito mudar um pouco depois de assistir Os Mercenários. Mas se a resposta for sim, a magia continua.

No último final de semana adicionei mais um à minha listinha: Os Intocáveis. Não Os Intocáveis com Kevin Costner e sim com Omar Sy. Um filme que os investidores duvidaram de seu sucesso.

Trata-se de uma comédia não convencional, em que os  artistas principais são um milionário tetraplégico e o  um ex-presidiário negro. Como mundos tão distantes de uniram? Um precisava de emprego e o outro de alguém que não tivesse compaixão pelo seu estado físico.

Pronto.

Para um diretor essa mistura já basta, é assim que o filme é guiado pela relação entre os dois.

Os Intocáveis é um filme sobre a vida, sobre as relações afetivas entre os seres humanos que nos surpreende por nos colocar de frente com uma aceitação universal, pura e um tanto esquecida pelas pessoas. Não se trata de um filme clichê, até porque algumas cenas podem até ser consideradas incorretas para os mais caretas. É um filme que aborda temas clichês como amor, amizade e família com a visão cotidiana.

 

Poxa, quando eu me deparo com filmes tão simples e de qualidade como este, me questiono por que não fazem mais deles? Será que viver no mundo de hoje é tão chato, tão insuportável que precisamos parar por um tempo e nos sentir Homens de Ferro, Gulliver, Harry Potter para distrair um pouco? A chance de você se casar com a atriz dos seus sonhos simplesmente porque derrubou suco de laranja nela como em Um Lugar Chamado Nothing Hill é tão remota que quando acontece virar notícia no mundo todo (não me lembro de nenhuma).  Contudo, a probabilidade de você fazer um bom amigo ao deixar de lado as limitações de ambos e simplesmente deixarem ser é muito maior.

Acho que é por isso que os filmes antigos, os considerados clássicos do cinema, estão nesta categoria. Pois eram reais, fidedignos com a realidade da época, como é por exemplo Ladrão de Bicicletas.

Não me interpretem mal. Sou fã de filmes, reluto com alguns.

Porém, adoro superproduções, desenhos, biografias, documentários e aqueles que escancaram a verdade.  Só acho que virou uma indústria desenfreada de dinheiro e, convenhamos, com uma população de 7 bilhões de pessoas, não é difícil qualquer coisa fazer sucesso.

Por isso, a qualidade deve ser valorizada, as pequenas coisas que nos fazem parar 5 minutos no dia e ver que a vida vale a pena, que te emocionam, deveriam ser enaltecidas com mais frequência.

Quem sabe assim os seres humanos não passariam a ser mais otimistas, comunicativos e respeitos uns com os outros não é mesmo?

Filmes citados

  • O Amor Não Tira Férias;
  • Avatar;
  • Titanic;
  • Senhor dos Anéis;
  • Bastardos Inglórios;
  • 2001: Uma Odisséia no Espaço;
  • Meia Noite em Paris;
  • Um Lugar na Platéia;
  •  O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças;
  •  O Palhaço;
  • Invenção de Hugo Cabret;
  • Os Mercenários;
  • Os Intocáveis;
  • Homem de Ferro;
  • As viagens de Gulliver;
  • Harry Potter;
  • Um Lugar Chamado Nothing Hill;
  • Ladrão de Bicicletas.

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