Em seu livro de 2006, The God Delusion (Deus, um delírio), Richard Dawkins lamenta a trajetória profissional de Kurt Wise, que desde 2006 ocupa os cargos de professor de ciência e teologia e diretor do Centro pela Teologia e Ciência no Southern Baptist Theological Seminary em Louisville, Kentucky. Antes disso, Wise lecionou por muitos anos no Bryan College, uma pequena universidade evangélica em Dayton, Tennessee, à qual foi dada o mesmo nome de William Jennings Bryan, candidato Democrático presidencial por três vezes e assessor jurídico no julgamento de Scopes ocorrido em 1925, popularizado pela imprensa da época como “O julgamento do macaco”.
De acordo com Dawkins, Wise foi por um tempo um jovem acadêmico promissor que havia conquistado um diploma em geologia (pela Universidade de Chicago) e diplomas avançados em geologia e paleontologia pela Universidade Harvard, onde estudou sob orientação do altamente aclamado Stephen Jay Gould. Wise é também um criacionista da terra-jovem, o que significa que ele aceita uma interpretação literal dos primeiros capítulos do Genesis e sustenta que a Terra tem menos do que dez mil anos. Não é uma posição que sustento, e por essa razão eu partilho do espanto de Dawkins com a razão pela qual Wise colocou-se o que a muitos cristãos parece uma falsa escolha entre uma interpretação problemática da Escritura (criacionismo da terra-jovem) ou o abandono definitivo do.
A certa altura de sua carreira, Wise começou a entender que sua leitura da Escritura era inconsistente com o entendimento científico dominante sobre a idade da Terra e do Cosmos. Ao invés de abandonar o que acredito ser uma escolha errada, ele continuou a sustenta-la, o que provocou-lhe uma crise de fé. Wise escreve: “Ou a Escritura era verdadeira e a evolução estava errada ou a evolução era verdadeira e era preciso jogar fora a Bíblia. . . . Foi naquela noite que aceitei a Palavra de Deus e rejeitei tudo que pudesse contraria-la, incluindo a evolução. Com aquilo, em grande tristeza, eu joguei no fogo todos os meus sonhos e esperanças na ciência.” Então Wise abandonou a possibilidade de assegurar uma cadeira em uma prestigiosa universidade ou instituto de pesquisa.
Dawkins está perturbado pelo julgamento de Wise e suas repercussões em suas óbvias perspectivas como acadêmico, pesquisador, e professor. Escreve Dawkins: “Acho terrivelmente triste . . . a história de Kurt Wise é simplesmente patética – patética e desprezível. O malogro, de sua carreira e de uma vida feliz, foi auto-infligido, tão desnecessário, tão fácil de evitar. . . . Eu sou hostil para com a religião por causa do que ela fez a Kurt Wise. E se ela fez isso com um geólogo educado em Harvard, apenas pense no que pode fazer com outros menos talentosos e mais vulneráveis intelectualmente.”
É claro, alguns cristãos podem estar tão incomodados quanto Dawkins. Então não é necessário ser um ateísta para levantar questões legítimas sobre a jornada intelectual e espiritual do professor Wise. Mas, considerando-se o ateísmo de Dawkins, há algo estranho sobre seu lamento, pois ele parece requerer que Dawkins aceite algo sobre a natureza dos seres humanos e a lei moral natural que seu ateísmo parece rejeitar.
Deixe-me explicar o que quero dizer. Dawkins critica duramente Wise por aceitar uma crença religiosa que resulta em Wise não tratar a si mesmo e a seus talentos, inteligência e habilidades de uma maneira apropriada para seu florescimento pleno. Isto é, dada a oportunidade de apurar e desenvolver certos dons – por exemplo, habilidade intelectual – ninguém, incluindo Wise, deveria desperdiçá-los como resultado da aceitação de uma falsa crença. A pessoa que viola, ou ajuda a violar, esta norma, de acordo com Dawkins, deveria ser condenada, e nós todos deveríamos lamentar esta trágica negligência moral da parte de nosso companheiro. Mas a emissão desse julgamento sobre Wise por Dawkins faz sentido apenas sob a luz dos talentos particulares e o tipo de ser que Wise é por natureza, um ser que Dawkins parece acreditar possui certas capacidades e propósitos intrínsecos, cujo abortamento prematuro seria uma injustiça.
Então o ser humano que desperdiça seus talentos é alguém que não respeita seus dons naturais ou suas habilidades básicas, das quais o amadurecimento e o uso apropriado torna possível o florescimento de muitos bens. Em outras palavras, a noção de “função apropriada,” como coloca Alvin Platinga, combinada com a observação de que certos aperfeiçoamentos enraizados em capacidades básicas foram inadmissivelmente impedidas de amadurecerem, é assumida no próprio julgamento que Dawkins faz sobre Wise e a maneira que Wise deveria conduzir sua vida.
Mas Dawkins, na verdade, não acredita realmente que seres vivos, inclusive seres humanos, possuem propósitos intrínsecos ou são projetados para que se possa concluir que violar a função apropriada de alguém corresponde à violação do dever moral de alguém para com si próprio. Dawkins manteve por décadas que o mundo natural apenas parece ser projetado. Ele escreve em Deus, um delírio: “Darwin e seus sucessores mostraram como os seres vivos, com suas espetaculares improbabilidades estatísticas e aparências de design, evoluíram através de estágios lentos e graduais a partir de simples inícios. Nós podemos agora seguramente dizer que a ilusão de design das criaturas vivas é apenas isso – uma ilusão.”
Mas isto significa que seu lamento por Wise está mal direcionado, pois Dawkins está lamentando pelo que apenas parece ser o abandono de seu dever de nutrir e usar seus dons em maneiras que resultem em sua felicidade e na aquisição de conhecimento que contribua para o bem comum. Mas porque não existem naturezas projetadas e propósitos intrínsecos, e portanto nenhum dever natural que somos obrigados a obedecermos, as intuições que informam o julgamento de Dawkins de Wise são tão ilusórias quanto o design que ele explicitamente rejeita. Mas isso é precisamente um dos fundamentos pelo qual Dawkins sugere que os teístas são irracionais e deveriam abandonar sua crença em Deus.
Então se o teísta é irracional por acreditar em Deus baseado no que afinal é apenas um pseudo-design, Dawkins é irracional em seu julgamento de Wise e outros criacionistas a quem ele sugere censura e correção. Pois o julgamento de Dawkins se baseia numa premissa que – apesar de intransigentemente defendida através de sua carreira – apenas parece ser verdadeira.
(Francis J. Beckwith é um professor associado de Filosofia & Estudos Estado-Igreja na Universidade de Baylor. Seu mais recente livro é Defending Life: A Moral and Legal Case Against Abortion Choice. Cambridge University Press, 2007).
O autor está equivocado pois o critério usado por Dawkins para fazer julgamentos é a integridade intelectual (nesse caso em particular).
O autor do texto simplesmente assume que julgamentos só podem ser feitos com base em naturezas projetadas e propósitos intrínsicos.
Na verdade, falar em propósito intrinsico é mais um caso de begging the question, pois não há como provar a existência de propósitos intrinsícos – até porque propósito só existe na mente.
É como quando os proponentes do neocriacionismo dizem “paripo de begging the question.ece projetado, portanto é projetado”, sem definir nenhum critério para distinguir o que é projetado do que não é.
Falar em propósitos intrínsicos sem definir propósitos intrínsicos é o mesmo tipo de begging the question
* é o mesmo tipo de begging the question de quando os proponentes do neocriacionismo “dizem parece projetado portanto é projetado”
Ainda fico com os grandes Gênios da humanidade(Albert Einstein, Isaac Newton, Louis Pasteur,etc… todos criacionistas e teístas) que (inclusive por estatística, probabilidade e ciências desde a fisiologia até a engenharia genética, evocam uma complexidade impossível de ocorrerem por “acaso” é piada acreditar nas teoria furadas e há muito contradizem as leis da ciencia, desde a entropia universal até a estabilidade energética da estrutura atômica ( como as premissas que levaram as postulações dos bósons de Higgs, recentemente confirmado).
As Teorias fantasiosas de Darwin são tão infantis á luz da ciencia atual que chega ficar gritantemente evidente que a intenção de defender tal fábula, não é ser ou encontrar a verdade, mas simplesmente uma opção para remover a outra teoria (Teoria da Criação -onde a premissa de um ser superior ao qual devemos algo, mesmo que simples gratidão pela bela natureza) teoria que atormenta as consciências que não admitem algum dia ter que prestar contas á um criador, então se estabelece a celeuma mais uma vez, a grande diferença hoje é que a teoria da evolução se tornou totalmente anti-científica.
Até eu já tenho mais de 50 argumentos totalmente científicos que volatilizam as bases e desenvolvimento da pífia e caduca teoria da evolução… por que insisitir nela?
Já parou pra pensar mesmo?
Vamos falar de ciencia ou não?
É público e notório na comunidade científica que as premissas de uma teoria evocam as evidências e se postulam conclusões lógicas apartir da mesma, assim foi quando o Darwin criou a sua fábula evolucionista, muito conveniente para alguns (e se ele tivesse sido confrontado com o Monge Gregor Mendel , seu contemporâneo, ao invés do pobre coitado do Arcebispo de Cantebury , que não entendia de ciências biológicas, a teoria nem sequer teria se criado com tal repercursão, pois o Mendel estava em um trabalho científico, não imaginativo como Darwin, e que por sua vez provavam que nenhuma característica adquirida era herdada – fato que destruiria os fundamentos da Teoria fantasiosa da evolução na época)
Sem entrar no mérito, vejo o argumento tão simplista sobre o design inteligente da criação que não sei se dou risada ou choro, como as pessoas que não pensam e nunca estudaram profundamente as bases de uma teoria fruto de anos de pesquisas sérias, feitas por cientistas sérios são alvos de comentários tão levianos! Com licença! Como definir o “projetado daquilo que não foi projetado” a cada dia surgem novas descobertas (nada inventado apenas descobrem que algo que parecia sem função ou casual era uma consequencia milimétricamente estabelecida com um fim absolutamente preciso para o funcionamento de algo extremamente essencial, seria muito leviano categorizar tudo que desconhecemos o propósito funcional como não projetado da mesma forma que estes cientistas não foram rasos ao afirmarem e comprovarem os indícios exatos de muitas evidências científicas que conceberam tal teoria do projeto inteligente.
Achei esse texto falacioso.
O autor basicamente diz isso:
1- julgamentos dependem de naturezas projetadas e propósitos intrínsicos.
2- Dawkins não acredita em natureza projetada e propósitos intrinsicos.
3- portanto Dawkins não pode fazer julgamentos.
O problema desse não-argumento é que ele aplica critérios inventados pelo autor do texto e diz que esses são os critérios de Dawkins para fazer julgamentos, quando na verdade o critério de Dawkins para fazer julgamentos nesse caso depende de integridade intelectual, não de naturezas projetadas e propósitos intrínsicos.
Guilherme, felizmente (para mim, claro) você não estabeleceu seu ponto. Se julgamentos em geral dependem ou não da natureza projetada do objeto sob avaliação eu deixo em aberto. Mas julgamentos sobre o uso apropriado de um objeto ou recurso dependem sim do fato de tal objeto ou recurso ter ou não sido projetado para uma finalidade específica. Considere, por exemplo, skinheads neonazistas que condenam a homossexualidade porque, segundo eles, a finalidade do sexo é a reprodução e a perpetuação da raça; foi para isso que a “natureza” os fez. Você não acha que eles estão sendo extremamentes incoerentes ao atribuírem propósito e finalidade a um comportamento (a sexualidade em geral) que surgiu acidentalmente, por um processo em que o acaso, a aleatoriedade, é um princípio intrínseco?
O ponto deste pequeno artigo é o mesmo; aparentemente, subjacente à condenação da religião por Dawkins por seus efeitos perniciosos sobre o florescimento do potencial humano encontra-se a noção de que abortar tal florescimento viola, transgride o propósito intrínseco deste potencial. Talvez o autor até esteja equivocado quanto aos pressupostos do Dawkins; se ele estiver correto quando a isso, porém, a crítica é perfeitamente válida.
Mas mesmo que o autor esteja correto em sua crítica a Dawkins, ainda é possível condenar este efeito da religião em bases éticas que não pressupõem finalidades intrínsecas.